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Corria mais um Verão idílico na Terra dos Gnominhos Modernos, catitamente pintando dias e noites com as cores harmoniosas de um Abril eterno em festa e alegria, quando o céu se abriu e dele caíram penedos malvados em cima de umas quantas cabeças, sem certificação nem autorização superior.
De uma só vez, por alguma urdidura macabra a mando do fascismo anti-optimista, a condição terceiromundista vigente na vila, que nem trinta anos de dinheiro europeu, nem muitas leis e regras executadas com rigor fisco-castrense conseguiram sanar, ficou exposta como os glúteos lascivos das putas cujos anúncios ainda vão garantindo a subsistência dos jornais.
A cronologia narra por si a abertura da novela Hondurenha, inaudita no pacato burgo e, espera-se, a maior e mais épica jamais vivida por um país da OCDE. Os sábios cultos que integram a coisa política já esfregam as mãos, impantes de poderem ir mais longe no sonho social-socialista, prontos a criar, assim que o magnífico filme termine, Observatórios das Mortes no Fogo, Centros de Interpretação do Terrorismo e da Guerra Civil, e um Núcleo Museológico para os sorrisos hediondos dos animais inconscientes - agora silentes de férias ou em retiro meditativo - que ocupam os lugares cimeiros na hierarquia do Estado.
Na essência, o conto é breve: gastou-se dinheiro, que foi extorquido e reposto, extorquido e reposto, extorquido e reposto vezes sem conta a contribuintes nacionais e europeus; em nada de útil ou necessário se o gastou, mas muitas e opulentas prebendas receberam eleitores e amigos cujas espinhas puderam ir vergando ao soprar da brisa ano após ano.
Entretanto, como a Natureza é fractal e probabilisticamente normal, morreu muita gente queimada na via pública, foram roubadas bombas suficientes para demolir uma final da Taça e respectivo cortejo, os jornais cismam em abafar a parte maior do escândalo e do perigo, grande parte da população entra com empenho na fase negacionista do embate com a vida e António Costa foi de férias pavonear o semblante grotesco e a pança aviltante.
Ao fecho da cena inicial, um grupo de homens é visto no matagal que circunda uma base militar, de onde desfere tiros de caçadeira sobre o perímetro desta, sem que a façanha mereça mais do que algumas notas de rodapé em sede mediática, para não perturbar a felicidade balnear do rebanho.
Escurece a imagem num fade out gradual e ouve-se ao fundo, no timbre raso e estridente de rádios portáteis, a Antena 1 que entre uma entrevista ao curador da Fundação XPTO e as sugestões gastronómicas de um secretário de Estado, vai revisitando a canção de protesto e os chorrilhos de Saramago.
Esperemos que ao menos os efeitos especiais sejam bons. É que já não temos que apertar o cinto como no tempo do Passos. Quanto mais a coisa aquece, mais se repara no PS.