Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Segundo o Pordata, em 1975 realizaram-se 130.125 casamentos em Portugal. Em 1985, esse número baixava 44%, para os 68.461 matrimónios. Em 2014, realizaram-se 31.478 casamentos. Ou seja, em quarenta anos, o número de casamentos diminui em quase 80%. Há dois anos, casaram-se pouco mais de 60.000 pessoas, 30.000 homens e 30.000 mulheres. O Patriarcado de Lisboa, em 2008, dava-nos conta de que o número de casamentos católicos tinha caído em mais de 60%, face aos registos de 1998.
Por seu turno, o número de divórcios por cada 100 casamentos era, em 1975 de 1,5, em 1985 de 13,1, em 1995 de 18,5 e em 2013 de 70,4. Significa isto que, segundo os dados mais recentes, 70% dos casamentos resultam em divórcio. Em termos mais práticos, três em cada quatro casamentos não sobrevivem.
Já em relação à natalidade, por cada 1.000 residentes, em 1975 nasciam 19,8 crianças. Em 1985 esse número reduzia para 13, em 1995 para 10,7 e em 2014 para 7,9. Já a percentagem de bebés de pais não casados, vivam ou não em união de facto, era de 7,2% em 1975, de 12,3% em 1985, de 18,6% em 1995 e de 49,3% em 2014.
A minha geração casa-se menos, divorcia-se mais, tem menos filhos e os que tem nascem fora de situações de matrimónio. Significa isto que preferimos a união de facto à figura institucional do casamento? Que fazemos pouco para que os casamentos perdurem? Que temos outros focos na vida que não a descendência e a família? Julgo que sim.
Casamos menos, porque o casamento, enquanto figura institucional, não nos diz rigorosamente nada. O casamento é jurídica e moralmente um contrato como outro qualquer tipificado na lei. Casar, constituir família, ter filhos, fazer sacrifícios para que tudo isto perdure, não são prioridades. Por isso é que nos divorciamos mais. Apenas um em cada quatro casamentos sobrevive. E, uma vez que é impossível termos dados semelhantes em relação às uniões de facto, continuaremos sem saber quantas delas realmente prevalecem. Ou não prevalecem.
Este tema não é alvo de grande debate, porque, à semelhança de causas como a defesa do direito à vida, por exemplo, são causas perdidas neste período pós-moderno. Mesmo o tema da natalidade só tem voltado, a espaços, à agenda mediática na medida em que se tornou relevante para discutir a sustentabilidade da Segurança Social. Mas os dados que acabei de enunciar evidenciam uma série de coisas: a quebra de laços familiares, o fim do casamento enquanto instituição, a liberalização e banalização dos afectos, o foco na carreira e no mercado de trabalho, a inversão de prioridades. Hoje, casar, ter filhos, constituir família, não são gestos que façam parte de um processo de busca pela felicidade. Pouca gente vê hoje felicidade na família, no matrimónio enquanto vínculo para a vida, no sacrifício, no lar. Em 1975, no pós-revolução, não casar e divorciar-se era um acto guerrilheiro e libertário. Ser iconoclasta e revolucionário, em 2016, é casar, fazê-lo na igreja por convicção e não porque as fotografias são mais bonitas, e ter filhos. Será essa a minha revolução.
P.S.: Também em papel, na edição d'O Diabo da passada terça-feira. Com um agradecimento especial ao Duarte Branquinho, na hora da sua despedida da direcção do jornal, por me ter acolhido tão bem nas páginas do mesmo.