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Costa não está preparado para Trump

por John Wolf, em 04.11.16

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Aviso à navegação: o meu voto já chegou ao grande Estado da Pensilvânia. Agora não há mais nada que eu possa fazer a não ser especular sobre o resultado das eleições presidenciais norte-americanas. Na noite eleitoral estarei em Lisboa num evento oficial de acompanhamento dos resultados. Começa pelas 9 da noite e dizem que estaremos despachados pelas 3 da manhã. Mas tenho sérias dúvidas que a coisa ficará resolvida nessa mesma madrugada. Do meu ponto de observação privilegiado, ou seja Portugal, observo dimensões que pouco interessam ao comum dos mortais americanos. Uma coisa é certa: os europeus estão obrigados a desenhar alguns cenários que poderão determinar substantivas consequências nas suas existências. Se Hillary for a próxima presidente dos Estados Unidos, será um "mais do mesmo" -  nada de dramaticamente distinto será colocado em cima da mesa em termos de política doméstica ou externa. Por outro lado, e para referirmos o conceito de doutrina presidencial, somos forçados a rever as prioridades de Trump, e de que modo as suas opções poderão impactar a vida no resto do mundo. E penso na União Europeia e em Portugal em particular. Para quem não tenha ainda percebido, Trump já emitiu uma declaração de guerra económica ao resto do mundo. O slogan make America great again é mais do que um mero chavão. Implica efectivamente uma hierarquização acentuada do interesse nacional americano. A ênfase na geração de emprego para americanos. A relocalização de unidades fabris nos EUA. O repatriamento de dinheiros extraviados noutros destinos económicos. A insistência de que o dólar americano deve novamente ser uma divisa de força. O alinhamento de acordos estratégicos parcelares e limitados temporalmente. A colaboração com outras forças desequilibradores a leste e a oeste, a norte e a sul. O reconhecimento de iniciativas excêntricas movidas pelo destronamento de poderes instalados - penso no Brexit e penso em Putin. Ou seja, no quadro actual de volatilidade e incerteza, Trump acrescenta combustível à fogueira de um mundo que se encontra inegavelmente na fronteira de algo novo, mas certamente imprevisível. Por outras palavras, Trump é um produto da realidade que se estendeu e que consequentemente se esgotou nas últimas décadas. Mas não está sozinho na marcha de deconstrução. A Europa tem os seus próprios exemplos de agentes que visam a ruptura sistémica. Eu também acredito na mudança, mas não acredito que a mesma possa ser instigada de um modo passional e intensamente populista. Corremos alguns perigos por haver efeitos secundários que nunca devem ser subestimados. Nessa guerra que Trump declara, nem a União Europeia nem a NATO estão a salvo, e, numa escala ainda mais minuciosa, países com a dimensão de Portugal também não estarão à margem de ventos desfavoráveis. Darei apenas um exemplo. Se um intenso desordenamento de mercados resultante de certas iniciativas presidenciais americanas tiver tempo de sedimentação suficiente, os efeitos conjunturais dos mesmos passarão a ser crónicos. Se a tesouraria do Banco Central Europeu, que depende da banca global que por sua vez é controlada por conglomerados americanos, for afectada, é muito provável que Portugal e o governo de ficção de António Costa não consiga salvar o país de um descalabro. Existe sim uma cadeia alimentar política-económica-financeira que determina o destino das nações. Centeno pode inventar as teses que quiser, mas de nada servirão numa visão que transcende as ideologias monetárias e fiscais clássicas. E nessa medida, ao escutar o debate do Orçamento de Estado na Assembleia de República Portuguesa, vejo sobretudo crianças, alguns políticos, mas nenhum estadista capaz de interpretar os verdadeiros desafios que se nos apresentam. E essa ingenuidade corre em sentido contrário à acutilância cínica de Donald Trump. Os membros do governo e os deputados do parlamento português estão encostados à mesma árvore de sempre e tardam em perceber os perigos que Portugal, e para todos os efeitos, a Europa correm. Na próxima quarta-feira cá estaremos com uma sensação qualquer a dar a volta ao estômago. Não sei qual é. Não sei qual será. Aguardemos, com alguma ansiedade à mistura.

publicado às 21:16


8 comentários

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De lucas a 06.11.2016 às 11:21

Gostei. Até que enfim surge uma perspectiva diferente daquela que tem sido abordada pelo maioria dos bloggers, que passa por dizer mal de Trump só porque é uma opinião popular. 
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De John Wolf a 06.11.2016 às 21:59

Grato, caro Lucas! Um leitor que soube ler objectivamente e não se deixou levar por comoções. Bem haja, John
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De Simão a 06.11.2016 às 12:52

Se o sr. John é um cidadão americano, como parece ser, dado que já votou num grande estado norte-americano, creio que lhe fica mal referir-se ao governo português como "governo de ficção de António Costa".
Porque, sr. Jonh, por muito que os americanos se auto-intitulem de país mais democrático do mundo, para serem tão democráticos como nós, os portugueses, ainda têm que comer muitos hamburgueres e berber muita coca... A democracia americana é uma ficção, sr. John e o sr deve sabê-lo e o nosso governo nasceu de uma democracia. Podemos ou não gostar dele, mas é absolutamente democrático. Fico com esperança que o sr. consiga compreender isso.
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De André Miguel a 07.11.2016 às 11:22

E isso quer dizer exactamente o quê? Que o Sr. John não pode opinar sobre o país onde vive?! Era o que faltava! Se somos assim tão maduros democraticamente V. Exa. devia ter poder de encaixe de criticas alheias, pois que eu saiba ainda somos um país livre. E bem hajam os estrangeiros que opinam sobre Portugal, pois conseguem ter um ponto de visto isento que muita falta faz aos espíritos lusitanos.
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De Simão a 08.11.2016 às 10:11

Quer dizer que lhe fica mal referir-se ao governo de Portugal como um governo de ficção. 
V. Exa. também comunga dessa opinião?
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De André Miguel a 08.11.2016 às 21:44

E fica-lhe mal porquê?! Pode esclarecer? Só porque o nosso país não é perfeito não podemos criticar os outros? Pela sua lógica ninguém poderia fazer críticas, pois todos temos defeitos.
E sim, sim comungo da opinião.
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De César Diogo a 06.11.2016 às 14:55

Olá desculpa amigo, mas todos estão habituados a ouvir coisas como estas. Mas o infelizmente poucos sugerem soluções viáveis, seria bom se o fizessem, porque as pessoas já têm ouvido demais as críticas. Melhorem! 
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De isa a 20.12.2016 às 09:56

Aproveito para me despedir, aquilo que podia fazer (alertar) já fiz, neste momento estou mais interessada em trocar ideias sobre as tecnologias que o 1% tem à sua disposição porque, com tanta gente a "acordar" as "red flags" não estão a ser tão eficazes como pensavam portanto, não ficava surpreendida com mais umas catástrofes, man-made e referenciadas como "naturais". Caos e, principalmente, medo, sempre foram ferramentas imprescindíveis ao 1%. Como prenda de despedida deixo um vídeo.
https://www.youtube.com/watch?v=DFx8erHYnOg

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