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Ao redigir o enquadramento teórico da minha tese de doutoramento, em particular a secção sobre o liberalismo, corrente filosófica que constitui, segundo John Gray, uma única tradição com diversos ramos que resultam de variações e redefinições das relações entre as suas principais características (a saber, o individualismo, o igualitarismo, o universalismo e o melhorismo), e tendo ainda em consideração, de acordo com o mesmo autor, que se trata de uma tradição que possui diferentes fontes históricas, sendo tributária, por exemplo, do estoicismo e do cristianismo, procurando validação ou justificação em filosofias muito diferentes, como as teorias jusnaturalistas ou utilitaristas e revestindo-se de diferentes características consoante as diversas culturas nacionais em que pode ser encontrado, não deixo de sorrir ao recordar aqueles que tantas vezes escrevem que “para o liberalismo é X” ou “para o liberalismo é Y”, quando na verdade falam apenas e só de uma determinada variante do liberalismo, pretendendo confundir o público em geral ao fazer passar por liberalismo clássico aquilo que muitas vezes não só não é defendido pelo liberalismo clássico, como é negado ou refutado por este. Não admira que por aí se leiam ou oiçam disparates como o de que Hayek defende a dissolução do Estado. Se a política deve a sua má reputação aos homens, o liberalismo clássico talvez deva a sua aos libertários contemporâneos. O problema, para muitos destes, talvez esteja, na verdade, no facto de um liberal clássico ser, contemporaneamente, como Eric Voegelin evidencia, um conservador. As coisas são o que são, como diria alguém.