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Como alguém que ainda não era nascido em 25 de Abril de 1974, causa-me um certo tédio assistir às recorrentes e estafadas tiradas das barricadas que competem para sacralizar os seus heróis do período revolucionário e rebaixar os heróis da barricada adversária. Claro que se compreende, já que, não só o 25 de Abril é o elemento fundacional do regime como, ainda que de diversas formas e com experiências e influências diferentes, o período revolucionário terá constituído, como se diz em estrangeiro, a principal formative experience de boa parte da população, especialmente das gerações que estão ou já estiveram no poder. Não deixa, todavia, de ser aborrecido, mas sempre é um aborrecimento de barriga cheia, bem confortável, que abona em favor do regime democrático. É que se vivêssemos nas décadas de 1820, 1830 ou 1910, as coisas seriam bem diferentes. Transitámos e consolidámos a democracia, como se diz na literatura da politologia norte-americana. Institucionalizámos o conflito, à maneira de Raymond Aron. Mas, continuando a utilizar o jargão politológico contemporâneo, já vai sendo tempo de melhorar a qualidade da democracia. "Porque, o que estava antes, e o que nos ameaça sempre, é o despotismo, conforme a clássica definição de Montesquieu (...)."