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É preciso mudar alguma coisa para que fique tudo como está

por Samuel de Paiva Pires, em 02.06.20

Anda por aí uma grande agitação em torno do fait divers António Costa Silva. O governo que não conseguiu reorientar a economia quando devia e tinha poderes acrescidos para o fazer pretende agora fazê-lo por via de um plano de recuperação económica com moldes ainda por conhecer. Nada contra, mas a nossa limitada capacidade de planeamento, a memória do que por cá foram as últimas décadas em matéria de investimento público e afectação de fundos provenientes de Bruxelas para investimentos públicos e privados e ainda o que se conhece do plano da Comissão Europeia - por ora apenas uma proposta - deveriam acalmar os espíritos mais agitados. Porque continuamos a viver numa economia mista marcada por dois processos paralelos assinalados por Norberto Bobbio, a privatização do público e a publicização do privado, podem ficar descansados todos aqueles que se especializaram na indústria extractiva de recursos financeiros para projectos duvidosos e frequentemente sem quaisquer efeitos para além do very typical encher os bolsos de alguns à custa do bem comum. Das consultoras às associações empresariais especializadas em candidaturas a fundos europeus, dos agricultores à espera de comprar um Land Rover aos empresários que anseiam pelo mais recente Mercedes, BMW ou Porsche - sejam eles pequenos ou grandes empresários dos sectores mais tradicionais ou de uma startup tecnológica qualquer -, dos empresários que sem o Estado dificilmente sobreviveriam aos políticos cujo sonho é passar por uma revolving door para uma sinecura num qualquer conselho de administração, vão todos ficar mesmo bem. O mesmo é dizer que o milésimo plano para desenvolver ou reformar o país não vai afectar a nossa cultura política e empresarial e dificilmente terá impactos assinaláveis no nosso desenvolvimento económico. Não é esta, sequer, uma preocupação do Primeiro-Ministro. Como escreveu Lampedusa, é preciso mudar alguma coisa para que fique tudo como está.

publicado às 11:56


2 comentários

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De Anónimo a 06.06.2020 às 11:24

Pertinente!
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De Francisco Almeida a 07.06.2020 às 09:40


António Costa Silva, um esquerdista - ligações ao MPLA antes e depois da independência - que fez toda a sua carreira profissional no sector dos hidrocarbonetos e que, não desmerecendo, promete requalificar o sistema rodoviário quase ignorando e só dizendo disparates sobre o sistema ferroviário:
https://eco.sapo.pt/opiniao/um-plano-no-guardanapo/ (https://eco.sapo.pt/opiniao/um-plano-no-guardanapo/)
Já tínhamos a esquerda caviar e a esquerda corrupta, esta última bem implantada na construção civil e nos sistemas financeiro e das energias eléctricas; faltava-nos a esquerda petrolífera.

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