Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Aviso os leitores para a violência das ideias contidas neste artigo. Decidi, embora temporariamente, colocar-me na cabeça politicamente cínica de António Costa. E depois aproveitei o devaneio da sua mente torcida e realizei o seu transplante para o espectro lobotómico de Cavaco Silva. Uma vez que os socialistas esticaram até ao limite as possibilidades constitucionais, e realizaram um golpe parlamentar perfeitamente legítimo, embora politicamente questionável, não vejo razão para que o Presidente da República se abstenha de cravar as suas unhas nas costas do sistema político e da instituição que corporiza - Cavaco Silva poderia ser António Costa apenas por umas horas, para ver se ele gosta. Ou seja, há tanta coisa que pode fazer sem contemplações de ordem misericordiosa, e que tiraria o tapete por debaixo dos pés da Esquerda que se espraiou em acordos de ocasião. Não falo de um governo de iniciativa presidencial. Não me refiro a um governo de gestão. Não menciono a dissolução da Assembleia da República e a convocação de novas eleições. Não senhor. Nada disso. Refiro-me a algo mais subliminar, malicioso, eticamente questionável, mas perfeitamente legal, inteiramente exequível do ponto de vista constitucional. Cavaco Silva poderia simplesmente demitir-se e passar a batata quente ao seu sucessor. O Presidente da República tem muito menos a perder do que António Costa. Se o fizesse não seria muito distinto daquilo que António Costa fez à revelia da tradição política de Portugal. Catarina Martins repete vezes sem conta que o aconteceu era exactamente o que o país precisava - algo novo, inédito. Então, pela mesma bitola e com o mesmo entusiasmo democrático, o Presidente da República poderia inaugurar uma nova modalidade institucional - demitir-se. Cavaco Silva poderia causar alguma confusão nas mentes convencidas daqueles que julgam que têm o rei revolucionário na barriga. Se é para escangalhar o regime de uma vez por todas, ao menos que o Chefe de Estado ainda seja chefe de alguma coisa.