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Eternamente arrendatários

por Samuel de Paiva Pires, em 10.04.24

No programa de governo hoje apresentado anuncia-se a intenção de eliminar o IMT e garantir financiamento a 100% do crédito à habitação para os jovens até aos 35 anos. 

Tenho 37 anos, um vínculo laboral precário, e pago, em conjunto com a minha mulher, uma renda de quase 1500 euros num concelho limítrofe de Lisboa, cidade onde trabalhamos. Não beneficiamos de uma rede de suporte familiar em termos financeiros, atravessámos crises económicas sucessivas desde 2008 e temos tentado, na medida do possível, amealhar para adquirir habitação própria, o que se tem tornado verdadeiramente utópico num país com rendas exorbitantes (na região em que trabalhamos), condições de acesso ao crédito restritivas e (mais) um imposto absurdo, o IMT, que se constitui, em conjunto com a exigência de uma entrada de 10% do valor do casa, num enorme obstáculo, especialmente num contexto em que a especulação imobiliária vingou perante a inércia dos governos anteriores, tornando os preços da habitação incomportáveis para milhares de pessoas que se encontram em situação idêntica à nossa.

Impõe-se perguntar: por que raio seremos agora excluídos de uma medida que beneficia os que têm até 35 anos em vez de criar condições equitativas para todos aqueles que necessitam de adquirir uma primeira habitação neste contexto particularmente exigente e desafiante? 

Que sentido faz introduzir esta distorção no mercado, privilegiando um segmento etário à custa de outros que estando há anos a lutar para ter uma primeira habitação própria se vêem agora completamente marginalizados pelo governo da AD?

Por que razão somos excluídos de uma medida essencial para as nossas vidas por um critério totalmente arbitrário assente exclusivamente na idade?  

Daqui se deduz que, para a AD, todos os que têm mais de 35 anos e se vêem na contingência de pagar rendas exorbitantes e não conseguir adquirir habitação própria servem essencialmente para pagar impostos. Que miséria de país.

publicado às 20:00


4 comentários

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De JgMenos a 11.04.2024 às 05:21

É tal a fartura de despesa pública que, por um qualquer princípio da sua 'bondade', não é contestada, que contestar receita fica difícil.
As benesses com quebra de receita são planeadas para serem improváveis de ocorrer. 



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De Anónimo a 11.04.2024 às 11:00

Concordo consigo quanto à questão da idade.
Mas se eu tivesse de me sujeitar a uma renda de 1.500,00 € mensais, acho que a alternativa de comprar habitação própria com empréstimo será bem mais vantajosa.
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De s o s a 11.04.2024 às 21:53

é pertinente o que diz,  e sou naturalmente sensivel  relativamente a todos com dificuldades no básico que é a vida. 
Apesar de reagir a uma "alinea", a coisa é universal e portanto complexa, e tambem transcende os governos. 
Posto isto, entendo que os governos, no caso a Uniao, devem unir-se para proteger os cidadaos, mas nao para os pagar. 
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De N. Pinto a 12.04.2024 às 11:18

O que ninguém tem consciência é que se abolirmos o IMT, passa a ser aplicável o IVA. E para aplicar a taxa reduzida de IVA (6%) seria necessário negociar os termos com a UE. Mas penso que a aplicação do mecanismo do IVA até seria benéfico para o preço da habitação, desde que fosse possível aplicar os 6%.
As benesses para os jovens também me causam urticária... E no caso do IRS Jovem, ou da baixa até aos 35 anos, não sei até que ponto não é inconstitucional. Diz-nos a constituição que os impostos sobre o rendimento devem ser proporcionais à capacidade tributária de cada um. Não me parece que isso possa ter um fator de variação em função da idade.

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