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A União Europeia (UE), como tem sido o seu apanágio, não tem sido capaz de acompanhar os tempos em que vivemos. E estou a ser simpático. Ao longo das últimas décadas não soube edificar os pilares da Política Externa e de Segurança Comum ou tender para uma verdadeira União Fiscal. O esforço mercantil e económico não bastou para contagiar as demais dimensões. Os fundos estruturais pareciam ser a panaceia inédita. Pensaram eles que a religião dos mercados seria suficiente, que atirar dinheiro aos desafios serviria para dissipar o fosso económico e social entre os mais ricos e pobres. À época não havia desentendimentos. Não havia neo-liberais e menos neo-liberais. Não havia uma Esquerda ou uma Direita demarcada por regiões. Não havia uma zona Euro nem uma zona Deutsche Mark. Não havia grande diferença entre o político doméstico e o político de Bruxelas. Mas lentamente, sem grande alarido, o interesse nacional de cada Estado-membro foi subvertendo o idealismo de Monnet ou Schuman. Os países, Estados-membros, ou outros a caminho desse estatuto, foram alavancando o seu caderno de encargos, o seu rol de exigências, até desvirtuar a possibilidade de uma verdadeira união política, uma federação. E os anos da UE que foram passando serviram de pastagem para a expressão de um conjunto de reinvindicações económicas e sociais da parte daqueles que não foram capazes de reorganizar os seus modelos societários. Sempre que as dimensões económicas não encontraram resposta, a ideologia foi sendo arremessada para justificar quer as faltas quer os excessos. Se existiu um Estado-membro que melhor soube tirar partido das fraquezas congénitas da UE, esse parceiro foi o Reino Unido. Se existiu um Estado-membro que buscou tratamento diferenciado dentro da continentalidade europeia, esse colega foi o Reino Unido. Se existiu um Estado-membro que nunca abdicou da sua irmandade transatlântica com os EUA, esse camarada foi o Reino Unido. Enfim, podemos afirmar, de um modo equilibrado e desprovido de paixão, que o Reino Unido talvez não tenha feito a sua quota-parte para aprofundar o processo de integração. Na hora do divórcio e da penosa separação de águas, todos estes elementos de sentimentalidade nacional e europeísta serão colocados em cima da mesa para o estabelecimento de novos acordos de associação. Embora seja uma contradição suicida, resta exigir o seguinte à UE por forma a atenuar as dores de separação: onde está o Comissário das Saídas da UE? Será de prever que semelhantes casos de despedidas venham a ocorrer. E seria bonito, que na sua hora final, a UE demonstrasse algum decoro, alguma competência.