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Frelicagra aqui, Frelicagra ali

por Nuno Castelo-Branco, em 04.10.17

aaaaaaaaaaaab.jpg

 

Frelicagra, Frente de Libertação do Campo Grande, uma brilhante ideia da joint-venture Miguel e Nuno, como tantas outras que foram surgindo nos tempos em que não existiam play-stations, telemóveis, ipad's, ipod's, iphones e outras coisas da tecnologia. Deitados no chão e geralmente de madrugada nas rotineiras jogatinas de Monopólio, hábito esse que já vinha dos tempos de África, o nascimento da Frelicagra deu-se enquanto devorámos batatas fritas cortadas à mão e descascadas da terra com que eram então vendidas no Val do Rio bem próximo. Eram depois acompanhadas por ovos estrelados cuja casca ainda tinha bem visíveis o selo de autenticidade que a bem agarrada caca de galinha poedeira demonstrava. Era este o maravilhoso Portugal imediatamente pós-PREC, Portugal esse ainda a braços com a conhecida técnica das greves cuidadosamente cronometradas: greve da água à segunda, do gás à terça, da electricidade à quarta e por aí fora. Talvez fosse uma boa desculpa para evitarem o banho colectivo semanal e o sabão macaco. 

Havia frentes para tudo, desde a frente de libertação da nossa terra que foi tudo menos isso que o nome indicava, até aos movimentos que ao estilo das amibas o PC - o MUTI, por exemplo, era o Movimento Unitário dos Trabalhadores Intelectuais que amalgamava sumidades e outras nem tanto assim, ou melhor, nada assim -  ia inventando para fazer de conta agregar boas e más vontades numa terra onde a inveja, a espionite e a maldicência são os pecados primordiais. Para além disso, ainda existiam organizações familiares como a Flama madeirense, ou a FLA açoriana. Porque razão seria o Campo Grande, a paragem mais baratucha e negligenciada do Monopólio, uma excepção?

Foram capciosamente executados muitos cartazes em papel de cenário, onde em letras garrafais a sigla ameaçadoramente surgia, um autêntico atentado à coesão da cidade de Lisboa. Prometia-se de tudo um pouco, desde a abolição de impostos para os residentes cujas tocas se situassem entre a praça de Entre Campos e o monumento ao Marechal Carmona. Os limites oeste-este eram mais difusos, estabelecendo-se a fronteira oeste talvez aquela esquina cuja artéria vai dar a uma das laterais do Hospital de Santa Maria e à Cantina da Cidade Universitária e a de leste no limite da Avenida de Roma e até ao Vá-vá, parte ocidental da Av. dos EUA incluída. Um enorme império com ambições de anexações até ao fim da Avenida da Igreja, incluindo-se assim o vitalíssimo Liceu D. Leonor. Estabeleciam-se várias portagens a toda a circulação automóvel, desde a mais importante que se situava na fronteira norte, até a outras secundárias como a da av. dos EUA ou a da Av. do Brasil. Um Estado soberano, dispensando os impostos aos seus naturais, tem mesmo de recorrer a quem o visita, ou seja, um antepassado da actual taxa hoteleira.

Também foram executados volantes, uma nítida cópia daquela folha distribuída durante anos a fio pelo CDS porta sim, porta sim. O conteúdo era aquele que se supunha na época, ou seja, promessas inacreditáveis numa prosa que faria corar de ciúmes os editores do Luta Popular, o órgão central do MRPP. Mata e esfola era o mínimo que por lá surgia, fosse a propósito dos cocós de cão na então bem mantida calçada de Lisboa, até às memoráveis cenas de pancadaria por uns copitos de carrascão do Cartaxo vendidos a veteranos que se reuniam na carvoaria do nº 190, um alfobre de potenciais candidatos a modelos de Brueghel. Um deles, o Perneta, era o mais afoito, usando a sua muleta de alumínio de uma forma tal que parecia artista de escola de esgrima. O berreiro era ensurdecedor e por vezes lá assomava à varanda a cabeça da Dona Flávia, a porteira que começava todas as conversas com o seu característico n'intanto que. Punha-se com o seu bem conhecido ó pcht!, ó pcht!, procurando moderar os palavrões que julgava então como exclusividade do seu marido. A Frelicagra pretendia a erradicação daqueles penetras e pernetas que vinham sabe-se lá de onde, talvez daquela vasta área que antes de ser a agora duvidosamente chique Alta de Lisboa, era então composta pelas Galinheiras, Camarate do potencial acidente, Musgueira, "bairro do aeroporto", bairro do relógio e a barracaria anexa onde vários continentes não conviviam em amena paz social. Eram aqueles panfletos policopiados e distribuídos por um bando de risonhos militantes, colocados em caixas do correio ou nos pára-brisas das carripanas de então. Recordo que nem sequer a carroça puxada pelo cavalo do cigano escapou à colagem das promessas. Claro que esperneávamos de tanto riso.

Assumia-se então plenamente o apelo à sedição e ao não cumprimento da Lei estrangeira, fosse ela qual fosse, a da municipalidade lisboeta ou a dos estranhos governos portugueses de então. O Campo Grande tinha tudo o que um Estado independente necessita. Forças Armadas, então alojadas naquilo que hoje é uma universidadezeca qualquer. Uma enorme e bem verdadeira Cidade Universitária, um grande liceu, e pelo menos duas escolas primárias, cafés, restaurantes, talhos, peixarias e padarias, havia de tudo e mais alguma coisa, como uma farmácia, por exemplo. Tinha pontos de abastecimento de vitualhas, um curso de água que fazia as vezes de Danúbio local, dois monumentos, um posto de polícia, a sede da Unita que logo passou a travestir-se de Concelhia do CDS, uma sede do PS e maravilha das maravilhas, tínhamos toda, toda a família Soares na antiga Rua do Malpique, sebosamente cambiada para o lambe-botismo normal de Rua Dr. João Soares (avô). Uma colossal Biblioteca Nacional e um centro comercial activo e outro em fase final de construção. Banca a rodos, desde a estatal CGD até ao Banco Fonsecas e Burnay ou BNU ou BPSM, já não recordo nem  quero saber. Plutocracia então ainda estatizada, claro, coisa que nitidamente significava a distribuição de prebendas interessantes entre irmãos daqueles e camaradas dos outros. 

Algo que nos escapou completamente foi o símbolo e olhando para aquela coisa nitidamente de praia, raiada e com uma estrela de Capitão América que hoje nos surge como se fosse algo como um facto consumado, fico a pensar que bem poderíamos tê-la então retroactivamente adoptado.

Quando já passada a febre Maduro, a febre roynghia, a febre afegã, a febre Brexit e todas as maleitas trumpeiras, temos então a febre catalã na qual o  tal artista Puigdemont com o seu cabelo à Piricas, confirma a escandalosa cópia dos idos e saudosos tempos áureos da Frelicagra.

Não sabia que o tipo da Generalitat tem 17 anos. Caramba, apesar de concitar farta risota, aparenta muito mais.

publicado às 22:54


3 comentários

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De Anónimo a 05.10.2017 às 05:04

uiuihiuhiuhiuhiuhuigb
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De Alain Bick a 05.10.2017 às 10:11

frente de libertação do Rossilhão
rima com vagalhão


comissão de moradores que não são trabalhadores
comissão de  trabalhadores que não são moradores
...
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De Anónimo a 06.10.2017 às 16:37


Entenda a história da resistência da Catalunha contra o regime de Espanha:


O Que se Passa na Catalunha? Porquê?
https://www.youtube.com/watch?v=AEHFDdzw7zo&feature=youtu.be


Espancamentos efectuados pela violenta polícia de choque do regime monárquico e clerical de Espanha contra cidadãos catalães, incluindo idosos, no momento em que pretendiam exercer o seu direito de voto (aviso imagens perturbadoras):


https://twitter.com/CridaDemocracia/status/914599617190400000

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