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Tsipras e Varoufakis assumiram que o conceito de liberdade e dignidade lhes pertencia. Interpretaram de um modo ruinoso a vontade do povo grego. Declararam unir um país, mas a escassas horas de um Referendo histórico com impacto para os demais cidadãos da Europa, a Grécia está efectivamente dividida. Amanhã saberemos se estes governantes são autores de um memorando conducente a pânico, caos, quiçá guerra civil. Numa óptica de custos/benefícios para o cidadão helénico saem perdedores. Se era este o modo de forçar a alteração do status quo da União Europeia, serão bem sucedidos, mas à custa de prestações de forasteiros, o desgaste de nações distantes. Serão os membros da União Europeia a suportar a mudança induzida por catalisadores positivos ou de ruptura. A teoria de jogo, o dilema de prisioneiros, ou qualquer outro mindgame que tenham elegido como instrumento de aquisição de vantagens económicas e políticas, parte de um pressuposto eticamente questionável - a ideia de que o sacríficio alheio deve ser promovido para granjear vantagens domésticas. Quando Tsipras invoca a Europa unida e solidária, fá-lo de um modo teórico e abstracto. Enuncia princípios, mas lança dissensão na sua própria casa. Ou seja, nem filosoficamente oferece um bom exemplo. Ao fim e ao cabo das tormentas do povo grego e de cinco meses de negociações, sabemos que a Grécia irá necessitar de pelo menos 50 mil milhões de euros para continuar a sobreviver e porventura reclamar ainda mais. Há alguns dias houve quem tivesse comparado a Grécia à União Soviética no limiar do descalabro desta. Em dose hiper-concentrada, a Grécia do Syriza, qual bolchevique anão, é uma espécie quase soviética a caminho do descalabro ideológico. Os soviéticos em 1992 já estavam a viver dias de controlo de capitais, falta de alimentos, enquanto emergiam actores da penumbra sinistra da sociedade. Foi nesse ambiente de ruptura que nasceram oligarcas e capitalistas com um particular sentido democrático. A Grécia, berço dos Estoicos entre outros, quer emular-se na invenção filosófica. Mas convém relembrar que a racionalidade e a ética não caminham necessariamente de mãos dadas. O povo sabe-o. E o Referendo reflictirá a verdade. A verdade será o que acontecer e não o que foi prometido.