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Não é preciso ser cidadão norte-americano para sentir os efeitos de uma presidência nos EUA. Mas é preciso ser cidadão norte-americano (como eu) para sentir os EUA. Por mais que opinem e produzam statements a propósito da eleição de Donald Trump, há vários estereótipos que devem ser rejeitados. A ideia de que eventuais desvios aos princípios que se encontram na fundação da federação americana, e que consubstanciam o genuíno espírito da nação, serão tolerados, sem agravo ou consequência, por largos espectros da população, pela inteligência académica ou pelas grandes corporações de Wall Street. Estamos apreensivos em relação à inauguração de uma nova modalidade, porque nada disto é inédito, mas também não é exclusivo. Se realizarem a sobreposição de slides, verão, sem grandes equívocos, que Theresa May não é uma versão de Donald Trump. May, declama a sua pauta, uma palavra similar embora com variantes de discurso. Em todo o caso, trata-se de um slogan nacionalista e patriota, carregado de sentimento anti-imigração - Make Britain great again. O que está em causa essencialmente é um quadro mental de previsibilidade a que estávamos habituados. Fomos doutrinados durante tantos mandatos políticos que existe uma convenção estável, imutável. Fomos treinados a viver na sombra das consternações que seriam tratadas pelos lideres e representantes partidários. Recebemos em troca amostras de grandes promessas que se esfumaram em metas por alcançar. Aqui e agora, here and now, registamos o inverso. O juramento totalitário à partida, à cabeça. Um conjunto de absolutismos de tudo ou nada, sim ou não, you´re in or get the hell out. Há muito que vinha observando a patologia civil dos EUA - a ideia de autosuficiência intelectual. A ideia de que os outros são dispensáveis. O isolacionismo, implícito na narrativa, é apenas uma extensão natural da genética política, económica e social, construída no país que é a maior amálgama de nações extraviadas do mundo. Agora imaginem o sentimento de indefinição que se atravessa no meu ser. Para todos os efeitos, bons e maus, eu sou um cidadão dos EUA.