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Começo por realizar um mea culpa. Deixei-me levar pelos media dos EUA. Acreditei, de facto, na imparcialidade dos jornais e estações de televisão, nas emissões com paineis de especialistas, nos fabricantes de sondagens e no status quo dos meus compatriotas. Não votei em Trump, mas à luz da sua eleição, devo conservar o espírito construtivo e procurar acreditar que o povo americano deve saber interpretar e moldar a excepcionalidade deste desfecho. Seria faccioso e fundamentalista político, mas acima de tudo hipócrita, se não responsabilizasse a própria Hillary Clinton pelos resultados e os limites das suas ambições. Houve, na senda do partido Democrata, uma insistência na velha escola, nos valores autofágicos, e na rejeição da revolução que não veio a acontecer. Enquanto conhecedor do sistema político americano sei que qualquer exagero comportamental de Donald Trump encontrará barreiras e fará soar alarmes. Quer o desejemos ou não, uma nova ordem mundial está a ser construída e assenta numa premissa fundamental. Os diversos povos do mundo há muito que vêm reclamando uma alteração das regras de jogo. Veremos como a Europa nos seus diversos processos electivos se reconfigura. Como já foi democraticamente enunciado no século XIX: I don´t agree with what you say, but I´ll defend to death your right to say it. Em nome da nossa própria sanidade mental aguardemos então que as palavras descabidas de Trump apenas parcialmente sejam convertidas em actos, e que uma epifania política possa brotar do pântano de Washington que alguém diz que prontamente será drenado.