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Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.
Aqui estão mais uns tantos preciosismos próprios das entradas e saídas dos embaixadores do Grande Siècle. Sem perucas empoadas, sem moscas cuidadosamente colocadas pelo rosto, sem bengalas de retorcidos castões encomendados em Paris, mas com as mesmas meias brancas - desta vez de pano turco substituindo a seda -, carnicões no nariz, pelo a saltar para fora do pavilhão auricular e dentes amarelos de broa.
Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.
Para único e exclusivo consumo interno, parece ser este o caso dos amuos, surpresinhas e melindres que os media veiculam para contentamento dos pacóvios do actual regime. Tudo isto serve para preencher uns minutos de "tempos de antena de opinião pública" e algumas vozitas dos barbichas das indignações do "hoje há caracóis". As besteiras saídas da reaparecida boca de José Carlos de Vasconcelos - "a CPLP é uma comunidade linguística", quer acreditar este pobre diabo dos anos setenta! - sintetizam as demais. Ouvirmos o confortado João Soares indignar-se com ditadores, conhecendo-se as efusões com que sempre acolheu sobas que mandaram e à farta massacraram no antigo Ultramar, apenas confirma a excentricidade de toda a panóplia de magarefes das notícias.
Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.
Agora, consumado o facto da adesão da Guiné Equatorial à CPLP, os gnomos que regem as nossas vidinhas fixam-se em questões menores, resumindo-se o diplomático chilique a uma foto "antes do tempo" e a uma boliqueimada grosseria protagonizada pelo senhor Cavaco Silva. Pelo que a SIC está a proclamar, o presunto cavalheiro não aplaudiu o ingresso daquele país africano, consagrado na cerimónia. Apenas o "Chefe" do Estado português se eximiu à mais elementar e inócua cortesia. Enfim, é o que temos, esta gente que se beijocou e quis aparecer em fotos com Kadafi, condecorou Ceausescu com a Ordem de Santigo e Espada, elogiou o Gauleiter vermelho Honnecker, emperna com os Castro em todas as Cimeiras Ibero-Americanas, permitiu todo o tipo de dislates ao Samora, a Neto e Luís Cabral, bajulou Brezhnev e tantos outros. Já alguém ouviu Cavaco Silva admoestar os EUA quanto à existência da Pena de Morte, roubalheiras e negócios sujos em África, no Médio Oriente, na América latina, uso e abuso do nosso espaço áreo e outros factos que todos conhecemos? O que terá o belenense comensal dito ao presidente chinês aquando da sua visita? Falou-lhe nas inacreditáveis execuções públicas perpetradas em estádios de futebol, ou a EDP bem vale umas tantas valas comuns? Alguma vez puxou as orelhas ao embaixador dos aiatolás, fazendo-lhe advertências quanto aos enforcamentos em guindastes, lapidações e fuzilamentos a eito? A propósito da aplicação da sharia, terá Cavaco Silva recomendado a Paulo Portas umas conversas com os anfitriões sauditas?
Não vale a pena tentarem disfarçar o que sucedeu. Na CPLP, as decisões são tomadas por unanimidade, daí o pouco interesse prático das carinhas contristadas. Fez-se o que tinha de ser feito. Quem tem achincalhado Portugal, é o próprio regime em todas as etapas já percorridas. Ou será necessário lembrarmos as cantorias e hossanas em torno de gente que por disparate metropolitano, foi colocada no poder na maioria dos países africanos de "expressão portuguesa"?
A Commonwealth britânica tem o seu Mugabe - por mero acaso há uns tempos recebido em Lisboa -, enquanto os franceses pouco se ralam com o espantoso desfilar de títeres espalhados por toda a África central. Títeres que subornaram Giscard, compraram Mitterrand, traficaram com Chirac e que sempre contaram com a zelosa assistência militar de Sarkozy e do pudinesco Hollande. Nós, portugueses, somos especiais e assim há que escorraçar Obiang, ou melhor, a população que ele governa.
Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.
Como ontem muito bem disse o embaixador Martins da Cruz (TVI24, pelas 11 da noite), estamos entregues a paroquialismos. Nada que não se resolva com umas concessões de exploração de petróleo, compra de dívida pública, salvação de um ou dois bancos, venda de resorts turísticos e de condomínios de duvidoso luxo pladurado e iluminado a LED, contratos com as betoneiras do regime e outras habilidades cá do burgo. Como se lá fora - e cá dentro - não fosse bem conhecida a única e obsessiva natureza da república portuguesa...
Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.