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Por estes dias, assinalaram-se os vinte e cinco anos da criação da World Wide Web, sendo de referir que este ano também decorrem vinte anos da chegada da Internet a Portugal.
Penso que podemos dizer que Portugal aderiu relativamente bem à Internet, talvez pelo melhor domínio da língua inglesa comparativamente a outros povos, e aderiu melhor e mais atempadamente que outros países (França, por exemplo, apesar de já aí existir um sistema funcional mas muito mais primitivo desde 1980, o Minitel). Desses tempos, recordo-me do fascínio que foi descobrir este maravilhoso meio de partilha de informação e da comunicação entre utilizadores, independentemente da sua localização geográfica. De repente, podia-se consultar publicações de universidades americanas, os jornais australianos, conversar com amigos que se iam fazendo em várias partes do mundo, em simultâneo estivessem eles em Macau ou no Canadá, ou participar em grupos de debate internacionais. Hoje tudo isto é absolutamente banal. Mas, nas minhas primeiras navegações em princípios de 1995, a capacidade para enviar e receber informação de um computador para outro através do mundo, em fracções de segundo, ainda era qualquer coisa de formidável. Lembro-me de, certo dia, um amigo brasileiro enviar-me fotografias tiradas momentos antes nos confins da Amazónia, através de uma ligação via satélite, e de muita gente a quem eu contava isto não acreditar que fosse real. Aliás, a grande maioria não conseguia entender do que a Internet se tratava e achava que nós, os internautas dos primeiros tempos, éramos uns maluquinhos que sabe-se lá por que razão passavam muito tempo frente ao computador.
A propósito, recordo-me uma história curiosa que me contaram na altura. Antes da Microsoft apostar na Internet - Bill Gates, inicialmente, não lhe adivinhava grande futuro - e de se generalizar o browser Internet Explorer, o programa de consulta na WWW mais usado era outro, produzido por uma empresa norte-americana chamada Nestcape.
Elaborado o programa, a empresa teve o problema de escolher-lhe um nome eficaz. Tal como disse, nesses tempos muita gente não conseguia assimilar verdadeiramente do que a Internet se tratava, e dizer que era um programa para consultar uma base de dados seria pouco apelativo. Um dos programadores, neto de emigrantes portugueses, explicou ao responsável pela comercialização que a WWW era mais que uma base de dados, que era um verdadeiro oceano de informação disponível, que estava à espera de ser descoberta para ser consultada. Circular na internet seria como navegar num oceano, à descoberta, como fizeram os navegadores portugueses. Assim, propôs um nome condizente, que foi adoptado: Nescape Navigator. Surgiu assim a expressão «navegar» na Internet. Talvez alguns internautas dessa época tenham reparado que os primeiros logotipos do Navigator eram uma roda do leme em madeira, como as das caravelas, com a Cruz de Cristo no centro. Perante o sucesso do Nescape Navigator, a Microsoft lançou o seu próprio browser com um nome usando o mesmo conceito, o Internet Explorer.
E assim ficou uma pequena, ligeira marca de portugalidade no desenvolvimento da Internet, e tudo graças a um americano que se lembrou das suas raízes portuguesas. Isto é o que se chama herança cultural.