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São sumamente divertidos os subterfúgios e "reconstruções da história" que os responsáveis por alguns sectores sempre arranjam para florear um dado acontecimento. Vem isto a propósito do centenário do Museu Nacional Grão-Vasco e das declarações hoje proferidas à RTP pelo seu diligente director.
Muito política e artisticamente foi dizendo que se trata de um museu da república, com um suspiro afirmando através de truque oratório, ser na sua prática totalidade constituído por bens flagrantemente roubados à igreja logo após a coisa de 1910, ou seja, algo a juntar-se aos milhares de livros antigos despedaçados, rasgados de norte a sul de Portugal e que serviram para embrulhar castanhas, enquanto outros ardiam em autos-da-fé em ruas, praças e vielas deste país. Claro que outros foram parar a colecções privadas e vão de vez em quando miraculosamente reaparecendo em leilões da especialidade para venda a bom preço.
Isto é transversal a todo o património, tal como o grotesco e ainda recente caso do ceptro fúnebre de D. Pedro IV, hoje no Palácio da Ajuda, é demonstrativo deste tipo de mazela nacional.
Roubados foram os conventos - numa antecipação daquilo que em 1975 aconteceria na Embaixada de Espanha, muitos houve que se locupletaram escandalosamente com o saque -, despedaçadas e atiradas às fornalhas foram para sempre perdidas incontáveis obras sacras em talha, ao mesmo tempo que eram em plena rua sovados padres, esfaceladas ficaram as suas vestes talares, publicamente rapados foram os seus crânios, tal como 25, 34 ou 35 anos depois se veriam em cenas de pré e pós guerra mundial.
Nada de novo, entre umas resmas de Mirós, este país é mesmo um antro de gente de cultura exemplar.