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Prudentemente e no seguimento da sua já muito longínqua e muito profícua aprendizagem nas suas férias em Moçambique, o ocupante do casarão rosa de Belém foi visitar a mesquita de Lisboa. Irritaram-se as tias, arrepelaram-se as cabeleiras com ou sem caspa.
A razão da visita parece insólita, mas deve-se sobretudo a um velho costume que agora parece espantar os mais incautos nas redes sociais. Ali foi realizado um repasto natalício, como se tal trivialidade obedecesse a recônditas conspirações onde a reserva mental tecerá das suas.
Nada disto é novidade e já à distância de meio século, quem tenha nascido no Ultramar decerto se recordará da lojas pertencentes a muçulmanos, caprichosamente decoradas para este período do ano e onde eram comuns as alusões a mais esta religião do Livro. Era habitual o nosso pai chegar a casa com presentes destinados ao Nuno, Miguel e Ângela com um cartão do Abdool, Momade ou Karim, prendas cuidadosa e vistosamente embrulhadas, atitude decerto comum a uma infinidade de nomes que por si identificavam a origem das lembranças.
Portugal tem o privilégio de há muito poder contar com a lealdade dos seus muçulmanos, uma muito discreta, pequena e laboriosa minoria que para os mais exaltados auto-proclamados nacionalistas que pela propaganda escolar são formatados mentalmente por uma certa não menos auto-proclamada esquerda, fazem agora a amálgama do que se vê fora de portas, naquele incontornável princípio que descerebradamente ambiciona do vizinho o espelho onde almeja barbear-se. Aquela dita esquerda, na sua ânsia iconoclasta de rebenta quarteirões da História, aqui reproduziu ponto por ponto tudo aquilo que decerto terá aprendido com vários tipos de Marchais e sucedâneos mais ou menos aburguesados e alapados às instituições do Estado. Criado o precedente e o consequente caldo de cultura, o resultado está à vista.
Aquando da invasão do Estado da Índia e sem sequer contarmos com o bem conhecido auxílio político e logístico do Paquistão, as diversas comunidades muçulmanas que nele habitavam mantiveram intacta aquela lealdade, em boa parte para sempre partindo em direcção a outro território no Índico sob soberania portuguesa e ali provisoriamente refazendo as suas vidas até 1975, quando tiveram de voltar a refugiar-se.
Não tomem os espantados por aquele recente almoço de Natal, as dores que pertencem exclusivamente a franceses, belgas ou alemães, entre muitos outros.
De factos fomos e podemos ser diferentes.
Não nos convém, não queremos ser confundidos e é um desnecessário e criminoso insulto ao povo que durante séculos talvez inconscientemente soubemos ser. Disto tomem boa nota uma parte irada dos alegados nacionalistas, pois o termo em Portugal significará exactamente o oposto daquilo que supõem.