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Portugal é hoje um caso único no mundo dito desenvolvido, na medida em que apenas cá vicejam partidos perfilados à esquerda. Até mesmo o CDS-PP, na sua ala dominante, é um partido socialista. Há, portanto, um atraso de dimensões geológicas no que concerne à maturidade civilizacional e cívica deste povo. Não somos a Somália, nem somos a Suíça; dir-se-ia que foi feito um campeonato à parte onde jogamos sozinhos, fechados numa caixa de sapatos gigante, uns contra os outros fingindo em permanência que nada existe por detrás da cartolina húmida. Uma espécie de Truman Show, mas com labregos perfumados de fato e gravata sustentados por labregos de chinelos e dentes apodrecidos pela Segurança Social.
Perguntava ontem Paulo Gorjão no Twitter se ninguém veria, por detrás do sorriso macabro e reptilóide de Costa, haver somente uma sede egótica de ascensão pessoal; respondi que sim, com certeza que muita gente o vê - mas que existem, contudo, 32% de eleitores cuja subsistência, alavancada financeiramente até à terceira geração, depende justamente de um retorno ao prelado da máquina socialista. Já não surpreende que o povo venda o futuro dos netos por migalhas, afinal por aqui sempre foi esta mentalidade paroquial e aldeã que vingou.
Espanta, e muito, é que à incultura, cupidez, e parcimónia genital endémicas na tribo não se tenham, ainda, oposto exemplos de revolta e desobediência civil. Dizer-se que tal é devido à histórica sensatez e brandura dos autóctones é curto, quando sabujos do calibre de Sócrates se pavoneiam de calcanhares lambidos pelos media entre conferências sobre Justiça e Sociedade. Por outro lado, supor que uma contagem dos não-dependentes do Estado e das pessoas sem medo apenas perfaria uns 2% da população, justificando assim a placidez do pântano, não é curto - é hediondo e afasta a esperança até do mais galhardo herói.
Não sei. É surreal, mas ao menos vai ter um desfecho. Creio que acordar, seja de um sonho ou de um pesadelo, para um novo dia é sempre bom.