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Não quero ser um desmancha-prazeres, o borra-botas da gata-borralheira das televisões que anda a pregar a melodia das compras de Natal, a agitar os penduricalhos do consumo à frente do nariz dos compradores nacionais (sim, essa mesmo, a Judite), mas não há motivos para alívios prematuros. Isto vai ser a doer. Bem pode o Partido Socialista prometer mundos e fundos, o desagravamento da austeridade e entregar cupões de esperança aos eleitores, mas a história será outra. Estejam atentos ao quadro maior. Esqueçam Évora por uns instantes, porque isto merece a nossa atenção. Estas considerações podem passar em nota de rodapé, enquanto rolam segredos de justiça e Salgados. Contudo, devemos apontar a mira à (in)consequência destas acções. Os empréstimos de longo prazo do Banco Central Europeu não serão suficientes para inverter a força da corrente, e decorrente desse facto, serão obrigados a quebrar o "tabu" - ou seja, comprar títulos de tesouro directamente aos Estados em apuros, e muito provavelmente implementar outras medidas inéditas, experimentais. Essa conclusão macro-económica, pan-europeia, de que o enorme esforço nem servirá para tapar o pequeno buraco de um dente, pode, por analogia, ser aplicada ao esforço fiscal realizado em território nacional. Não quero com isto dizer que o que foi feito até agora tenha sido um erro. O que pretendo sublinhar é o perigo contido na pura demagogia do discurso socialista. Numa frase simples: desenganem-se aqueles que julgam que um roll-back das medidas de austeridade do governo é possível. Irei mais longe. Se António Costa chegar ao poder, e após um estado de graça orgásmico (ou seja, com a duração de 44 segundos), e for confrontado com a dureza da realidade, a austeridade (de que foge como o diabo foge de Ébola, Évora...) não será apenas readmitida na sua actual forma, ela será reforçada, intensificada, tornada em algo nunca antes visto. Não sei se estão a ver bem o que está em causa. Agora sim, podem regressar ao programa do dia, às transmissões do canal parlamento para aprender como se ilude um país inteiro e se continua alegremente a cantar.