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António Costa não foi o primeiro nem será o último. A história dos filmes de propaganda quase que nasce ao mesmo tempo que os irmãos Lumière, mas foi Leni Riefenstahl que elevou ao quadrado o poder de fogo da comunicação política, ideológica. A transmissão unilateral permite negar a resposta de um provável interlocutor. Define de um modo intransigente os termos do contrato de argumentação democrática. O veículo de media que Costa parece estar a usar com cada vez maior frequência, resulta de uma necessidade sentida. Trata-se de um mecanismo de defesa de um primeiro-ministro que menospreza os locais onde os seus detractores o poderiam agarrar e confrontar com certas contradições conceptuais ou de outra natureza. O complexo de hemiciclo, que parece afectar-lhe as articulações, torna o debate aberto no espaço do Parlamento uma inconveniência. Deste modo, é mais fácil atirar postas ao ar que não terão resposta directa - a ver se pega. Entramos numa fase parecida com aquela dos "cartazes de campanha" que deram para o torto do absurdo, só que desta vez o homem é governo. Acresce ainda outra dimensão de insensatez e de mau conselho de comunicação política. É o Estado Islâmico que detém o maior share de audiências no que diz respeito a videos-propaganda. Não fica bem lançar estes filmes enigmáticos. Para além disto tudo, António Costa não nasceu para cinema, muito menos para castings. Bem que pode passear-se por Berlim, a ver se os ursos lhe pegam o bicho da persuasão, mas os videos remotos são a perfeita expressão de hibernismo político, de alguém que prefere o diktat à contestação às claras. Já bastava terem cancelado a conta-sátira do twitter.