Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Os jogos da fome

por Fernando Melro dos Santos, em 18.05.14

Reflecti muito antes de começar a escrever este post.

 

Nasci numa pequena vila onde era desejável brincar na rua e ganhar anticorpos a tudo - incluindo aos demais habitantes, metade dos quais possuía o seu próprio negócio e chamava útil ao útil, e fútil ao fútil.

 

Situada num país que não importava vinte marcas diferentes de shampoo para cão, e cuja população se encontrava sã, à data em que o meu tempo era gasto a colher viçosas maçãs, que nunca viriam a ser etiquetadas; a minha terra natal respirava saúde, e exalava aquele tipo de riqueza que os comunistas do PREC jamais viriam a reconhecer: ignorando a adversidade e os eventos à escala menor, cada um fazia pela mudança para melhor mediante actos próprios, sem estender a mão à migalha alheia nem atender a directrizes dimanadas de grémios saramaguenses, vascais e cunhalistas que infestavam a mente e a alma em todas as frequências.

 

Agora, que já sou pai há quase duas décadas, muito vi, mais fiz e por isso mesmo tenho noção da nossa (minha, vossa, deles, do país, da espécie) pequenez, começam a sobrar-me horas dentro dos anos que escasseiam, e sinto que ao menos desta vez, estarei a cometer uma traição aos meus princípios de coerência, esperança e objectividade se me abstiver de votar nestas eleições que se avizinham. 

 

Porque a minha responsabilidade não se extingue com o término do meu exercício biológico, e algo persiste após o meu eventual sumiço que é preciso acautelar, honrar e prevenir. Talvez por isto eu preferisse ter nascido, e dado ao meu filho a hipótese de ter nascido, numa nação a sério, povoada na sua maioria por pessoas e não por autómatos deslumbráveis, ainda que tal implicasse não nascer numa pequena vila onde a rua ensinasse tanto ou mais do que os adultos. Da mesma forma que preferiria, já que me é imposto um contrato social que não pedi e que não posso unilateralmente denunciar sob pena de encarceramento às mãos do maior tirano de todos, o Estado, poder votar em partidos ditos estrangeiros, e não no menos mau dos medíocres que por cá campeiam. Se assim fosse, o UKIP e Nigel Farage colheriam certamente o meu voto. 

 

Já ouço a turba a carregar mentalmente no botão para mudar de canal, mas concedam-me só mais vinte ou trinta linhas. Isto tem um twist. 

 

A Europa onde vivemos e os problemas que dela fazem um veneno para os nossos filhos podem ser sumarizados em quatro slides.

 

 

1. Distopia

 

imagem: representantes de instituições europeias

 

 

 

Estas pessoas, impantes de si, nunca foram e provavelmente jamais seriam eleitas para os cargos que exercem e pelos quais são regiamente pagos, vivendo como nababos cada vez mais afastados da realidade, passando leis que germinam a partir dos ditames pueris e totalitários a que aderiam em jovens, enquanto cresciam longe da minha vila. O mérito, a honra, e a consequência são conceitos alienígenas para esta gente. Não os quero. Querei-los?

 

 

2. Apatia

 

imagem: festival Eurovisão da canção, 2014

 

 

 

Com o governo de António Guterres deu-se o advento de um socialismo mais basilar, transversal, na sociedade portuguesa. As escolas deixaram de empregar professores com o fito de formar cidadãos produtivos, e passaram a albergar pedagogos, didactas, psicólogos, e uma pluralidade de inúteis sem rumo nem tino cujas duas únicas funções se resumiriam a "igualizar crianças e jovens de valências diferentes num mundo globalizado em mudança", e assegurar que todas as células na folha de Excel enviada a Bruxelas comportariam os valores ""corretos"". Duplas aspas, por causa do acordo ortográfico. Crianças, jovens, e jovens pais adestrados na tabula rasa da igualdade à força resultam em homúnculos apáticos, envelhecidos cedo demais, arrebanháveis com um mínimo de esforço e máxima eficiência energética pelos novos Senhores.

 

 

3. Demografia

 

 

imagem: contribuinte-modelo conforme proposto pela Comissão Europeia, 2014

 

 

 

 

imagem: cidadã portuguesa com a sua prole, Lisboa, 2014

 

 

 

 

Abster-me-ei de sobrecarregar este tópico com comentários, pois retenho ainda um brioso resquício de confiança nos meus conhecimentos de estatística, e segundo estimo a imbecilidade, embora desabrida, ainda não se enraizou tanto que seja preciso escrever quaisquer palavras acerca do massacre planeado em curso que reduzirá Portugal a um deserto silencioso, entaipado e triste antes ainda que os nossos filhos tenham filhos.

 

 

4. Terrorismo institucional e destruição sistemática da identidade portuguesa

 

Exemplo 1, Exemplo 2, Exemplo 3, Exemplo 4, Exemplo 5

 

De todas as situações acima elencadas, é quase instintivamente imediato perceber o elemento que sobressai: nada disto é normal, nem muito menos necessário, mas vem sendo paulatinamente imposto em complemento à restante anestesia que vim, abusando da vossa paciência, aqui expondo.

 

 

Percorremos um longo caminho desde que os nossos bisavós andavam descalços em aldeias minúsculas e remotas, nos enclaves de onde ainda hoje se foge ao escutar o anelo que nos enche o coração de deslumbramento e promessas cintilantes. Mas foi ainda mais extenso, árduo e ameaçador o percurso que fizemos enquanto raça, quando de arborícolas e cavernícolas decidimos sair, sem que para tal pesasse decreto algum oriundo de cima que não a nossa própria Natureza tal como Deus no-la quis dar.

 

E sair saímos, e aqui chegámos, e a maravilha que é hoje a Humanidade é fruto, não das aspirações arrogantes e desadequadas dos burocratas que elevaram os Estados ao trono que só admite Um ocupante, mas do esforço individual, livre, ousado, e muitas vezes infrutífero, outras tantas glorioso, de cada um. Não de um "nós" artificial e congeminado por mentes retorcidas, não "deles" que brandem a letra da lei com a displicência discricionária de quem nunca conheceu o temor estomacal conexo com decisões de vida ou morte, de riqueza ou pobreza. 

 

O mérito é do indivíduo, desse ente apóstata cuja expressão um Ocidente cada vez mais tíbio e totalitário procura demonizar. Da palavra que deve ser defendida a expensas da nossa própria vida: ego

 

Antes que me esqueça. Votarei no partido mais euro-céptico que encontrar, nem que tenha de ser no do doutor Garcia Pereira. 

 

Divirtam-se na praia.

publicado às 12:41


1 comentário

Sem imagem de perfil

De Gustavo a 19.05.2014 às 13:26

Bravo!… Aqui há tempos preparava-me para, conscientemente, me abster, mas não estava bem certo disso… Entretanto, como não me considero totalmente uma pessoa de ideias feitas, tenho vindo a refletir sobre o assunto e já me tinha convencido a votar no mais eurocéptico… Só que ainda não descobri qual tem a primazia nesse particular, o que me leva a estar um pouco confuso. Se até domingo este estado mental se mantiver, vou votar no PAN uma vez que, pelo menos, já ouvi no seu discurso referências a modelos e critérios éticos da minha preferência…  

Comentar post







Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas