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Hermeticamente isolado do transe colectivo que acometeu, uma vez mais, este país de carcaças ocas ansiosas pelo efémero preenchimento - um troféu desportivo, o maior chouriço do planeta, luzes impagáveis que iluminam obras inenarráveis, ou a morte de relíquias soviéticas - estive para decompor em partes mais simples, frase por demencial frase, o artigo que Fernanda Câncio assina hoje no folheto de associação estudantil que outrora foi o Diário de Notícias, e onde já só pontificam taradinhos em todos os tempos verbais: a assombração Ferreira Fernandes do Abril passado, a já citada escriba causoglífica do Abril presente, e rosadinhas crianças de um Abril que pretendem futuro eternamente cantante como Helena Tecedeiro e o Fialho Gouveia júnior.
Da peça em apreço, porém, foi-me impossível extrair e comentar um parágrafo sequer. A profundidade onde já se incrusta, na mente de colmeia da população, o anelo pela voz do dono - qualquer voz, dimanada de qualquer dono que se arroube como tal - é num grau tão fora da escala que somente um embate de frente com a bancarrota total ou, Deus querendo, uma catástrofe natural que arrasasse o país poderiam, agora, fazer estacar o frenesim tribal desta gente. Que ainda haja quem pague a Fernanda Câncio para que emita, qual abelhinha histriónica, os ecos da dissonância cognitiva que tomou conta de Portugal é a borbulha precursora da doença autoimune, subjacente e muito mais grave do que os delírios telenovelescos da ex-concubina de Sócrates.
Por fim, preciso de deixar isto escrito em caracteres bem legíveis: Mário Soares, tal como o 25 de Abril, o socialismo, o fisco, as obras públicas, o aborto, o futebol, a praia, e as prebendas advindas de um Estado que extorque a quem produz para bafejar sobre o parasitário eleitorado - tudo isto, a mim, é matéria para o mesmo saco. Anacrónica, aviltante, indesejável, tóxica e repulsiva como os vapores fecais que pairam hoje sobre a Nação.
Ainda bem que já não falta partirem todos.