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A realidade da pandemia mostrou dissensões que, em tempos de catástrofe, afloram mais rapidamente. Posto à prova, o Homem torna-se rato ou leão, com respeito para a diversidade do reino animal, sem distinções que hoje possam suscitar acusações de xenofobia ou, neste caso, “animalofobia”.
Tais dissensões levaram à formação de posições, naturalmente extremadas, e devidamente baptizadas pela vox populi: os covideiros, grosso modo os hipocondríacos e, do outro lado os negacionistas, todo aquele que nega, se opõe ou desvaloriza a pandemia de sars-cov-2.
Mas, muito embora, a designação negacionista tenha sido aproveitada do termo que designa os que recusavam a acreditar no Holocausto, a expressão é diferente quando aplicada no presente por ser mais heterógena do que quando aplicada a alguém que nega a História. Uma coisa é negar o que não vemos, aquilo do qual nos afastamos no tempo, outra é negar a evidência do que vemos e vivemos. Há gente a morrer à nossa volta e existimos (a palavra é esta, não vivemos, nem sobrevivemos, existimos, apenas) num tempo de suspensão de liberdades individuais que, dizem-nos, se justifica como principal estratégia sanitária.
Mas há ainda outro tipo de negacionistas: os que vivem em negação, os que acham que vai ficar tudo bem, os que consideram que o vírus desaparecerá (como se algum vírus, algum dia, alguma vez tivesse desaparecido) e os que acreditam verdadeiramente que daqui a 2, 3 ou 10 anos, o mundo voltará ao normal anterior. Não é por nada que se utiliza já, e bem quanto a mim, a expressão “novo normal”. O novo normal é a normalização do controlo das massas, a higienização do pensamento individual e o recuo em relação a modos de vida anteriores a 2020, nomeadamente o turismo, os grandes eventos.
A Globalização sofre agora um rude golpe: parece não estar a sucumbir à mão de políticas proteccionistas, mas perante estratégias higienistas seculares de quarentena, confinamento e guetização. Voltamos ao longínquo ano de 1021.