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Passa a massa, Merkel!

por John Wolf, em 06.02.15

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Não é preciso ler a obra de Niall Ferguson - A Ascensão do Dinheiro -, para saber que os pressupostos do crédito estão a ser postos em causa no âmago da União Europeia (UE). Sem percorrer esse perigoso caminho das compensações históricas* que são devidas ou não, e que não pouparia nenhuma nação à face da terra, o que resultar do conflito que opõe a Grécia à Alemanha pode destravar por completo a já de si ténue relação entre dinheiro e Ética.  Se vingar a tése do perdão, certamente que uma extensa fila de faltosos procurarão tratamento idêntico - situação essa contraditoriamente inexequível. O crédito (como quem diz a crença que os outros depositam em nós) precede a existência física de dinheiro - o bom nome é a divisa maior, mas apenas se valida através da sua extensão material. Se esse fundamento deontológico que se encontra por detrás da construção monetária das nossas sociedades falhar, como podemos esperar que não mine todo um sistema de transacções? Como podemos aceitar que a excepção à regra se venha a tornar a norma? São considerações desta natureza que podem corromper um dos valores mais importantes do acervo existencial humano: a confiança. Não pretendo com esta linha de argumentação libertar os credores do seu sentido de responsabilidade no contexto de um projecto europeu alegadamente inclusivo e nivelador de diferenças. Culpados? Sóis todos vós europeus por terem concebido um modelo sistémico deficiente. Em nome de uma grande "entidade económica europeia concorrencial" os visionários foram ambiciosamente incompetentes. Avançaram a causa dos negócios, mas omitiram a federação do espírito das nações. Esqueceram-se dos pilares de justiça e segurança social, e prescindiram de uma efectiva Política Externa e de Segurança ComumA Grécia, assim como o conflito na Ucrânia, servem, de um modo cáustico, para expor as grandes lacunas da UE.  Se os lideres europeus tiverem a visão e a ousadia requeridas, a grande reforma poderia ser posta em marcha na construção de uma nova ordem na Europa. Mas não é disso que se trata. Quer a Alemanha quer a Grécia estão a defender os respectivos interesses nacionais. Merkel e Tsipras estão, efectivamente, empatados: querem salvar a sua pele e pouco mais. A tal união - essa não passa do papel, da massa.

 

*Compensações históricas possíveis:

EUA ao Iraque, à Nicarágua e ao Afeganistão.

Portugal a Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde

França à Argélia e à Líbia

Etc a etc, etc e etc

publicado às 13:52


3 comentários

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De joão a 06.02.2015 às 15:20

Atenção que nós também temos a receber: fomos ocupados por muçulmanos, fomos roubados por espanhóis, franceses e ingleses. Portanto, não é só pagar aos africanos, coitadinhos que foram explorados, também queremos uma fatia do bolo.
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De Textículos a 06.02.2015 às 15:39

Mais as Caraibas...
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/centralamericaandthecaribbean/10691024/Caribbean-states-demand-reparations-from-European-powers-for-slave-trade.html
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De Bic Laranja a 07.02.2015 às 09:53

Na entremos nisso das reparações históricas, que é coisa impossível. Quem fez a História já cá não está. É mera ganância a funcionar. Quem pede reparações é tão herdeiro da História como as nações imperiais. Uma diferença, uns deram-se ao trabalho de expandir o seu domínio sobre regioes que jaziam no paleolítico. Outros que aí habitavam compraziam-mais à sombra da bananeira. Agora é tudo uma raça pegada. Se a missão civilizadora das nações imperiais não deu mais que indigentes ávidos de bananas (agora dinheiro), que era o que la havia, paciência. A civilização foi-lhe legada. Os pseudo-herdeiros dos bons selvagens também haviam de a pagar. No mínimo nações inteiras deixaram de ser canibais e a conta dum serviço destes não é barata.

Um reparo ou dois. 
«Culpados? Sois todos vós europeus por terdes concebido &c.» ou «culpados são todos vocês por terem concebido...» ; um modelo deficiente ou um sistema deficiente iria melhor porque as duas à uma são redundantes.


Cumpts.


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