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O congresso do Partido Socialista baseou-se numa falsa premissa. Na ideia de que o mundo tende a regressar ao que era ou sempre foi. Existe um preconceito por detrás desta ilusão. A noção de que a ideologia (socialista, de Esquerda?) detém os elementos inquestionáveis de superioridade moral e material - e que é desejável. Mas sabemos há décadas que essa régua já não serve. Foram eventos que transcendem bitolas políticas que determinaram o curso da história nos últimos tempos em Portugal. Foi o dinheiro, foram os mercados e foi a ganância. Atributos repartidos pelos principais actores. Os socialistas - porque distribuiram aos seus amigos construtores os primeiros dinheiros comunitários. Os social-democratas - porque acreditaram na desregulação e nas virtudes intrínsecas do neo-liberalismo. Os comunistas - porque viveram no domínio da utopia e da irrealização. E mais recentemente o Bloco de Esquerda - por apostar em causas não prioritárias como o orgão sexual, o cão ou o gato. Sim, tudo isto e muito mais que falta elencar, coloca Portugal neste momento preciso e não no saudosismo lírico de um Alegre ou de um Guterres de ocasião. Mas existe algo que poderá determinar com maior intensidade o guião político e económico dos próximos tempos. A França, que está em grandes apuros, aparece agora como a notre dame dos aflitos sugerindo que Portugal seja poupada a sanções. Mas essa reza traz água no bico. Os gauleses estarão em ainda piores condições do que os portugueses. Aquele estado de França vai ruir. O outro evento em que penso tem um pé dentro da caixa e outro fora, e deve ser levado muito a sério. Esse cisne negro tem um nome: Brexit. A saída dos britânicos da União Europeia (UE) acarreta consequências tenebrosas para Portugal. A centena de milhar de trabalhadores portugueses que se encontra nesses territórios será obrigada a pensar na expressão monetária do seu rendimento - a libra inglesa está em queda acentuada. Acresce uma outra dimensão. A haver um Brexit, assistiremos à expressão substancial de uma modalidade distinta de nacionalismo - primeiro os britânicos. Não, não é a Áustria, não é a Húngria. Serão os britânicos a dar azo extremo à insularidade, ao proteccionismo, e em última instância, ao início do processo de desmembramento da UE. António Costa, europeísta convicto quando a música lhe convém, não referiu essa hipótese existencial. A geringonça, espalhada ao comprido por diversas obrigações contratuais, não é capaz de pensar sobre esta terceira via. Para esses, que estão no governo, existem bons e maus, certos e errados, e uma categoria inclassificável: a sua.