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No teatro de operações da guerra eleitoral, Portugal é a principal vítima do fogo inimigo. As rajadas de tiros das forças políticas não são dirigidas a um alvo comum — ao descalabro económico e social. São disparos recíprocos que geram uma neblina que não permite que se vislumbre Portugal. Após 50 anos de prática democrática os partidos políticos ainda têm sérias dificuldades em discernir o mais importante — o interesse nacional: a tomada de consciência de que existe algo maior e melhor do que o fervor ideológico, do que a paixão pelo clube de sempre. Esta cegueira comportamental é o resultado de um processo autofágico crónico. Os portugueses não conseguem fazer-se representar, porque estão ausentes na sua própria construção, abandonaram-se no dia a dia, para desesperar na pequena hora do desfecho eleitoral. Assistimos a um vazio no que concerne à visão estratégica que o país exige. Durante décadas foi muito conveniente convergir com a Europa, fazer parte do grémio da União Europeia que subtraiu grande parte da soberania intelectual e cultural ao país. Portugal endossou um cheque em branco a decisores que nunca poderiam pensar os desafios locais. Assistimos nesta campanha ao evocar de fantasmas, ficções e falácias, como se para dissipar a crueza da realidade e da verdade que não carecem de explicações ideológicas. Uma vida digna já não é filha da esquerda ou da direita. Um projecto de esperança e superação colectivo há muito que deixou de poder ser explicado pela ciência dos dogmas. Enquanto não houver civismo político, diálogo transversal a todas as crenças partidárias, há muito pouco que o cidadão comum possa fazer. O mau exemplo anda nas ruas. E vem de cima para baixo. Por aí abaixo.
É incompreensível esta opinião de John Wolf.
Segundo a qual a solução está no “civismo político”, entendido como uma mistela transversal, uma espécie sopa-de-pedra, onde todas as crenças partidárias eram dissolvidas.
Segundo a qual, o dogma está no erro da “esperança e superação no colectivo”.
Segundo a qual o “local” é excluído e menosprezado perante o global. Elegendo o “local” como a panaceia miraculosa, e o caminho sebastiânico.
Segundo a qual, neste momento, Portugal está num “descalabro económico e social”, quando todas as agências de rating do mundo dizem o contrário, a economia foi uma das que cresceu mais na OCDE (a Alemanha e ReinoUnido estão em recessão, e a França em austeridade), pela primeira vez desde há 50 anos conseguiu ter as ‘Contas Certas’, e as exportações bateram records.
ORA, excluir e opor ‘local’ a ‘global’, ‘colectivo’ a ‘individual’, ‘civismo’ a ‘não-civismo’, ‘separado’ a ‘misturado-transversal’… é, outra vez, o mesmo que dizer ‘esquerda’/’direita’.