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Não sei qual o dilema que os portugueses enfrentam. Sempre que vou ao supermercado ou à praça para escolher a hortaliça do meu agrado, levo comigo um artigo artesanal - uma cesta. Qual cêntimo nem meio cêntimo para o saco de plástico. Já sugeri a uma simpática gerente do Pingo Doce, que em vez de venderem aquelas sacolas estampadas com a imagem de genuínas cestas, que contribuíssem para a preservação de alguns postos de trabalho do interior deste país e pusessem à venda estes artigos que roçam o belo folclore lusitano. De norte a sul de Portugal encontramos os artesãos que produzem distintas variantes do modelo básico de cesta. Vejam estas do amigo Toino. Mas existem outras considerações de ordem sociológica. A cesta que eu levo dá ares de campo, de não sofisticação, de provinciano que estacionou o burro trajado de albarda à porta do Pão de Açucar. E isso incomoda os portugueses. A sugestão da terra entranhada debaixo da unha, do analfabetismo, das origens humildes. Podemos chamar a esta distorção Síndrome de Sócrates. A doença obsessiva que obriga a ganhar a maior distância possível da imagem de remediado, de borra-botas. Embora seja uma correlação rebuscada, não deixa de ser verdade. Se a Burberry lançasse uma linha de sacolas "fashion hipermercado" tenho a certeza que seria um sucesso. E no meio desta conversa aqui estou eu na fila da caixa de pagamento e só agora me apercebi. Esqueci-me do raio da carteira. Haviam de ver os olhares que me lançaram - desgraçado, nem sequer cinco cêntimos tem para um saco de plástico.