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Porque é que o caso BES vai dar em nada? Porque Ricardo Salgado soube montar a sua defesa de um modo inexpugnável. Ao longo de décadas a família Espírito Santo foi envolvendo tudo e todos, resgatando para o seu círculo de dependência, políticos, empresários, partidos, instituições, fundações, clubes de futebol e homens de cultura. Quem são então os responsáveis pela promiscuidade e os ilícitos que decorrem de proximidades e conveniências? São todos. São todos os governos de Portugal havidos antes e depois do 25 de Abril. Foram todos os políticos próximos ou extintos pela perda de mandatos. E porque razão apenas agora rebenta a bomba do Grupo Espírito Santo? Em parte, ou integralmente, porque este seria o momento certo para arrasar com a candidatura de António Costa que assentou grande parte da gestão camarária na obra e na empreitada, na conversão imobiliária, e, umas instituições financeiras, mais do que outras, beneficiam com decisões políticas que implicam investimentos que apenas são possíveis com empréstimos da banca. Parece que o país inteiro sabe mas não quer saber quais as implicações desta teia de interesses. Ou é espectador ou participa no esquema. Manuel Salgado é primo de Ricardo Salgado? É apenas um detalhe, mas serve para ilustrar a promiscuidade, o antro de relações perigosas/proibídas em que se transformou Portugal. A pegada do BES é enorme e envolve tantas empresas e grupos económicos que assistiremos a um jogo de soma-zero, o exercício de lavagem colectiva de mãos - uma extensão da lavagem de dinheiros. Depois temos o falso jornalismo do grupo Impresa, pela voz da SIC ou através dos textos assinados no Expresso que ostenta a ilusão de um sistema de justiça implacável para gaudio do povo sedento de sangue. Três milhões para o bailout de Ricardo Salgado pode parecer muito à luz do Euromilhões, mas não passa de uma ninharia quando comparado com os juros que o país irá pagar nos próximos tempos pela quebra de confiança e o descalabro material, efectivo. Que se faça a lista de compras de supermercado para saber quem virou a cara a tanta prevaricação, e nesse longo rascunho estarão todos os convivas em que possam pensar - Sócrates, Cavaco Silva, Guterres, Manuela Ferreira Leite, Mário Soares, Passos Coelho, Duarte Lima (para mencionar apenas alguns), assim como célebres escritórios de advogados e empresas de constituição de offshores. Acreditam mesmo que veremos a luz do dia em relação a este caso? Se o BES cair, cai o país inteiro. Cai a PT. Cai a Caixa. Cai tudo. Caem todos. Seria bom que assim fosse, mas não me parece que Portugal abandonará as práticas que fazem parte da sua matriz, dos poderes que estão instalados e que foram contaminando o resto da paisagem económica e financeira. O Grupo Espírito Santo até pode evaporar, desaparecer da face da terra, mas o dia da ressurreição dará vida a um outro corpo, com outro nome, mas com os mesmos rituais de obediência e recompensa. Extravio, prevaricação, pecado por pouco.