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Já aqui, a propósito da relevância de Paulo Portas e do seu CDS, falava da importância da libertação da direita portuguesa das amarras do socialismo cristão e das grilhetas do saudosismo do Estado Novo. Portas, o tigre, deixou uma jaula aberta, num gesto perspicaz e corajoso, mas perigoso.
Esse perigo não parece, para já, vir a materializar-se. A forma como as elites do CDS têm sabido fugir a um banho de sangue interno é admirável e, ainda que a nova liderança possa vir a ter algo de semelhante a uma aclamação norte-coreana, um sinal positivo para o futuro.
Em primeiro lugar, porque os egos, na vida partidária, são um factor determinante para a deterioração das máquinas. Esses egos, no CDS, souberam poupar-se e preferiram uma solução que agradasse a todos e que pudesse agradar ao País. Posso enganar-me, mas foi esta a sensação com que fiquei. E é sempre uma boa impressão.
Em segundo lugar, porque é essencial que, a partir do anúncio de candidatura de Assunção Cristas, se comecem a discutir ideias (como, aliás, já fez o Adolfo Mesquita Nunes) e não personalidades. Posso, mais uma vez, enganar-me. Mas isto é um sinal claro de um processo de amadurecimento democrático de um partido que podia perfeitamente ter ficado refém dos seus líderes - à semelhança do que acontece no PSD. Interessa-me muito pouco analisar a personalidade de Assunção Cristas. O que me interessa é saber é por onde passam as suas ideias, o seu programa, o seu discurso.
A direita precisa de afirmação e de reinvenção e este é o momento ideal para refundar o CDS, para o distanciar do PSD, para o marcar pela diferença na ética, no exemplo e na coragem. É o momento para lançar as bases de uma direita descomplexada, que não seja moralista ou condescendente. De uma direita que não se queira imiscuir no bloco central de interesses, que queira crescer e ganhar espaço eleitoral, mas que saiba não perder identidade e cultura de trabalho e de mérito. Que tenha agenda social, mas que não veja no Estado a base dessa agenda. Que seja conservadora sem ser marialva ou popularucha. Que seja liberal, mas que não julgue que todos os problemas, sem excepção, se resolvem sem interferência do Estado. Que não se torne numa escola de maus hábitos. Que não seja um albergue de medíocres. Que seja iconoclasta sem relativismo, que seja irreverente sem insolência, que seja moderna sem ridículo.
Se será Assunção Cristas a mulher ideal para representar tudo isto, ainda não sei. Sei que o País precisava de alguma coisa assim. Talvez o CDS precise de alguma coisa assim. Não sei. Mas eu gostava de ver.