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A iniciativa do Observador é meritória e merece ampla divulgação, especialmente por estimular o debate. Mas afirmar que se procurou retirar carga ideológica à Constituição e substituí-la por um alegado paradigma neutro, quando esta alegada neutralidade é uma característica do liberalismo já criticada e demonstrada como errada por vários autores nas últimas décadas, em particular os comunitaristas, é um péssimo ponto de partida e uma tentativa de mascarar como neutro o que nunca o poderá ser. É tentar fazer avançar a agenda liberal pela porta do cavalo e isto, contrariamente ao que os autores e muitos outros poderão pensar, torna o liberalismo, como diria Oakeshott, numa mera ideologia - e só lhe dá mau nome. Ademais, é este péssimo ponto de partida que é transversal às várias tentativas dos autores deste projecto de retirar responsabilidades aos partidos políticos na condução da política nacional, ignorando que é na reforma destes e do sistema eleitoral que se encontra a chave para a melhoria da qualidade da nossa democracia, bem como na assunção de que o espírito de facção faz parte da condição humana e da democracia, como James Madison tão bem percebeu.