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Pacheco Pereira, As eleições que só servem para o exacto oposto daquilo para que existem:
"Nas eleições europeias não se discute a Europa porque a Europa que existe não interessa aos seus apoiantes que seja discutida. E a discussão da Europa que se pretende fazer, nas candidaturas do “arco da governação”, na comunicação social ainda mais europeísta, nos meios dos negócios, no “arco dos fundos”, não tem objecto, nem existe, é uma fábula. É a Europa virtual dowishfull thinking para os bem-avontadados e aquela cuja retórica serve os empregos e os negócios dos que estão “por dentro”.
(...)
Hoje, o debate europeu centra-se na crise económica e nas sequelas da gestão do euro. Mas nem sequer é a curto prazo o mais grave efeito da disformidade actual da União. A mistura de autoritarismo e de aventureirismo conhece o seu maior risco e perigo numa pseudopolítica externa da União, feita por proclamações de países que não estão dispostos a gastar dinheiro para ter forças armadas credíveis e colocar tropas no chão e por isso dependem sempre dos EUA. Isso não tem impedido a União de um ciclo de intervenções insensatas e ignorantes da História, cujos resultados agravaram as perspectivas da paz mundial. A Líbia feudalizada e bárbara resultou de um ajuste de contas com um amigo especial, Kadhafi; a Síria foi empurrada para uma guerra civil com clara interferência europeia, e o caso mais grave da Ucrânia, porque envolve uma potência nuclear, onde a União brincou às barricadas para impor um governo de uma parte do país contra a outra parte, provocando um processo de destruição do próprio país e um reforço do expansionismo russo. Devia haver um tratado que impedisse a União Europeia, mais os seus governos e a Baronesa, de jogar aos grandes do mundo, quando não se tem força nem se pensa nas consequências.
Esta Europa, disforme e perigosa, não é de todo discutida nas actuais eleições europeias, que são em si mesmas um claro sintoma de tudo o que está mal por essa Europa fora, e pior em Portugal. À tentativa, na qual se gastam milhões de euros, de fazer com que as pessoas se interessem pela Europa e pelas eleições, soma-se o facto de não haver substância nem diferenças nas candidaturas principais. PS, PSD e CDS são hoje Dupont e Dupond. Dependem dos seus grupos europeus, cada vez mais poderosos numa dimensão que escapa ao escrutínio em cada nação. São uma espécie de Internacional Europeia com regras de inclusão, bom comportamento e exclusão, cada vez mais rígidas. Votam em conjunto no Parlamento Europeu em tudo o que é fundamental.
Os portugueses que vão às urnas vão, na sua esmagadora maioria, para punir ou defender o governo. Os portugueses que nem isso fazem, e não vão votar, ficam em casa por considerarem estas eleições inúteis. Votam na praia contra a ficção europeia, porque consideram que, votando ou não, não serve para nada, quem manda é a senhora Merkel e a troika e eles não vão a votos. Por isso, estas eleições, pela positiva, não valem para nada a não ser para a política interna. Pela negativa, vão ser mais um acto de deslegitimação da actual União Europeia, pelos europeus que não consideram que haja qualquer reforço da democracia nestas eleições."