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Por estes dias, diversas pessoas enveredaram por uma perigosa equivalência moral entre corrupção e fascismo, para justificarem a sua abstenção (no caso de Fernando Henrique Cardoso), apelo à abstenção (nos casos de Assunção Cristas e José Manuel Fernandes), ou apoio declarado a Bolsonaro (caso de Jaime Nogueira Pinto). Ora, ao contrário do que escreveu José Manuel Fernandes, Haddad é mesmo um mal menor em relação a Bolsonaro, e não, corrupção e fascismo não são dois males maiores equivalentes. Sem entrar em grandes teorizações, direi apenas que a corrupção é inerente à condição humana e ao estado de sociedade, permeia qualquer sociedade e qualquer regime político, democrático ou não, embora, claro, em diferentes graus. Isto é uma observação factual, não qualquer tentativa de justificação ou desculpabilização da corrupção, até porque acredito que é moralmente desejável reduzi-la ao menor grau possível. Ainda que seja compreensível que muitos brasileiros estejam cansados da corrupção que grassa no país em resultado do exercício do poder político pelo Partido dos Trabalhadores, quem acredita que Bolsonaro irá eliminar a corrupção está iludido e enganado a respeito da condição humana e do que é a política, especialmente se acreditar que um regime autoritário, fascista, é conditio sine qua non para proceder a uma "limpeza" da corrupção no Brasil. Já que a memória histórica de boa parte dos brasileiros (e não só) parece olvidar que também durante a ditadura militar brasileira existiu corrupção (e em tantas outras ditaduras por este mundo fora), ou que os regimes autoritários são, também eles, permeados por este fenómeno, então que atentem no índice de percepção da corrupção da Transparency International para perceber uma coisa bastante simples: os países cujos regimes políticos são democracias liberais são os menos corruptos do mundo, ao passo que os regimes autoritários são precisamente os mais corruptos. Posto isto, sugiro ainda que perguntem às vítimas de qualquer regime autoritário ou totalitário, os mortos, os presos políticos, os torturados, os exilados, os perseguidos, se preferem viver num país com corrupção mas em que haja liberdade (de pensamento, de expressão, de informação, de associação) ou num país cujo regime político imponha a censura ao pensamento divergente do pensamento único, a tortura, os trabalhos forçados e a morte por critérios tão arbitrários e desumanos como a mera discordância política ou diferenças de qualquer tipo (raciais, nacionais, de orientação sexual).