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Sobre o Observador

por Samuel de Paiva Pires, em 21.05.14

Já li as mais diversas apreciações sobre o novo jornal, bem como interpretações e reacções, à esquerda e à direita, à entrevista a Mário Machado. Registo que uns acusam o Observador de tentativa de branqueamento. Em resposta ao celeuma que se gerou, José Manuel Fernandes escreveu umas breves linhas em que afirma que procuraram apenas contar uma história de forma crua e objectiva.

 

Acontece que um jornal que pretende romper com a hipocrisia da suposta isenção jornalística em Portugal, assumindo um posicionamento político, não pode estranhar quando é criticado pela ideologia que subjaza às suas peças, procurando então escudar-se numa alegada objectividade e numa angelical ingenuidade de quem diz que só quer contar uma história. É que há ideologia aparente, latente e por omissão. Um jornal que pretende ter um determinado posicionamento político-ideológico na realidade portuguesa não é um jornal no sentido clássico que o termo toma entre nós, é uma organização política. Faz jornalismo, mas também faz política. Logo, por definição, tem de tomar opções. Os jornais ditos isentos também o fazem, mas num jornal que se diz ideologicamente comprometido estas opções devem ser ponderadas com muito maior cuidado - especialmente aquando da sua génese, que marcará o espírito do jornal e o que a sociedade pensará sobre ele.

 

Os editores do Observador tomaram opções, conscientes ou não das suas consequências. Em dois dias de existência fizeram duas peças sobre Mário Machado, sendo uma delas uma reportagem extensa que, independentemente do espírito que presidiu à sua elaboração, é lida por muita gente como sendo uma reportagem que o procura reabilitar.

 

Não tomando posição na contenda que tem vindo a opor os que criticam o jornal e os que o defendem, lembro apenas uma célebre afirmação de Salazar: "Em política, o que parece é." Se a ideia era alcançar muitas visitas e visibilidade, conseguiram-no. Agora, não se admirem se não se conseguirem livrar da fama. Ainda para mais quando até o nome pode levar-nos facilmente a outro Observador, o Völkischer Beobachter, jornal oficial do partido de Hitler.

 

No meio disto tudo, o mais preocupante é que um jornal dito liberal, ideologia que os editores alegadamente professam e que em Portugal a ignorância de tanta gente tende a associar ao fascismo, vê-se, assim, associado ao neo-nazismo. Escudarem-se na ingenuidade angelical não adianta de nada. Talvez valesse a pena relerem as considerações de Karl Popper a respeito do paradoxo da tolerância:

  

"Unlimited tolerance must lead to the disappearance of tolerance. If we extend unlimited tolerance even to those who are intolerant, if we are not prepared to defend a tolerant society against the onslaught of the intolerant, then the tolerant will be destroyed, and tolerance with them. — In this formulation, I do not imply, for instance, that we should always suppress the utterance of intolerant philosophies; as long as we can counter them by rational argument and keep them in check by public opinion, suppression would certainly be unwise. But we should claim the right to suppress them if necessary even by force; for it may easily turn out that they are not prepared to meet us on the level of rational argument, but begin by denouncing all argument; they may forbid their followers to listen to rational argument, because it is deceptive, and teach them to answer arguments by the use of their fists or pistols. We should therefore claim, in the name of tolerance, the right not to tolerate the intolerant. We should claim that any movement preaching intolerance places itself outside the law, and we should consider incitement to intolerance and persecution as criminal, in the same way as we should consider incitement to murder, or to kidnapping, or to the revival of the slave trade, as criminal."

publicado às 21:08


3 comentários

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De João Vaz a 21.05.2014 às 23:01

Qual é o problema das reportagens sobre o Mário Machado? Triste é a reacção de muitos democratas à mesma. Triste é a pseudo-crónica ou artigo - que aquilo nem merece nome - que a sra. Câncio assina hoje no DN a propósito do assunto. Se fosse um indivíduo de extrema-esquerda já não havia problema, claro, mas tratando-se de um nacionalista estamos perante um sério branqueamento. Há por aí blogues de extrema-esquerda que ululam de êxtase com as derrotas da "junta fascista" que governa a Ucrânia e cantam hinos do exército vermelho, há por aí esquerdalhistas que, volta e meia, apelam á violência, aos levantamentos do povo, á indignação. Mas o Mário Machado não pode ser alvo de uma reportagem porque se está perante um branqueamento? a mim parece-me que, branquear as coisas é dizer que a Coreia do Norte é uma democracia ou continuar a glorificar Estaline e Lenine e fazer de conta que foram grandes libertadores. O problema, neste momento, não é o Mário Machado, é o projecto político ao qual está associado e que, a passar no TC, é capaz de mudar o panorama da área nacional em Portugal, aproveitando alguns ventos europeus. Fora isso, é a treta do costume. O vocalista dos Noir Désir, em 2003, matou a namorada á pancada. Apanhou 8 anos e foi desculpado por grande parte dos media franceses, que chegaram á pouca-vergonha de falar em "crime por amor". Evidentemente. O homem era activista de esquerda. Fosse da FN e era um bárbaro homicida. Aqui é a mesma coisa. Gente da esquerda revolucionária cometeu crimes no passado? não há problema, todos merecem uma segunda oportunidade. O Mário Machado é nazi? será sempre nazi e há que mantê-lo calado, até porque a constituição progressista proíbe partidos fascistas.
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De hclcruz a 22.05.2014 às 11:08

Nem consigo entender o que pretende transmitir.

Aparentemente:
-Um jornal que declare adesão a uma particular orientação tem que ser mais cuidadoso que um, que, embora tenha orientação, não a declare.
-É proibido falar com algumas pessoas (se não forem de esquerda).
-Falar com "pessoa proíbida" implica colagem. Qualquer outra interpretação é "ingenuidade angelical ".

Não tem pés nem cabeça o seu post.
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De Nuno Castelo-Branco a 22.05.2014 às 17:09

Sinceramente, não me parece. Todos os jornais nacionais dão um considerável espaço aos estalinistas de diversos matizes que campeiam na paisagem política nacional e nem por isso poderão ser o Expresso ou o Público acusados de pró-comunistas. A questão parece prender-se mais com o articulado constitucional que expressamente proibe movimentos de cariz fascista - e aqui o sentido deverá ser muito, muito lato e a fazer juz às eliminações ocorridas em 1974-75 -, além de, por muito abusurdo e abusivo que seja, a consulta à população quanto a uma eventual implantação da Monarquia. Portanto, nada liberal esta Constituição. Julgo que o actual regime comete um erro crasso quando proibe organizações A, B ou C, pois um dia destes terá uma surpresa desagradável. Os votos que hoje vão para a "CDU", são um inquestionável alfobre de futuros sufrágios num partido ao estilo da Frente Nacional e de outros similares. À extrema-direita falta um projecto audível e um bom orador. Basta-lhe isso e não me parece que o sr. Machado preencha os requisitos. 


Em França procedem de outra forma, através da fraude eleitoral de duas voltas. Já há muito tempo, atrevi-me a questionar um político francês acerca do que fariam, se  a FN conseguisse obter - exactamente através dessa fraude de duas voltas - uma maioria relativa no parlamento. Chamariam as tropas? Colocariam a CGT 365 dias nas ruas de Paris? Pediriam a intervenção da NATO?

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