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Da primeira vez que lá fui, há já mais de quinze anos, era muito fácil tropeçar-se em pedras soltas. Davam-se, penso eu, os primeiros passos na reconstrução deste mosteiro Beneditino fundado no século XI, e vendido em hasta pública quando, em 1834, foram extintas as ordens religiosas masculinas. Até que foi adquirido pelo Estado, e começaram as morosas obras de restauro.
Quando lá voltei, há dois anos, deparei com um grande e bem integrado conjunto, que inclui, além do edifício monacal, para onde está prevista uma hospedaria gerida por ordem religiosa, a igreja, o museu ( que guarda parte do riquíssimo espólio artístico ) e um belíssimo claustro com azulejos de rara beleza, uma imensa área de parque, em que as centenárias árvores são desde logo indício da calma que espera todos aqueles que ali a vão buscar.
daquela que todos conhecemos cmo a Princesa do Gilão.
Depois de um reconhecimento da cidade, suficiente para mais, ainda, aguçar o apetite, nascido há já tempos, mas sempre adiado na sua concretização, para nela pousar uns dias, que antecipo de delícias feitos, é frente ao rio que, depois de por ali passar, vai desaguar lá na Ria Formosa, me detenho, numa das hospitaleiras esplanadas, uma boa meia hora.
Mas está quase na hora do jantar, previamente marcado num restaurante de Faro,pelo que há que dizer: até daqui a pouco tempo - espero!- Tavira.
Lá nos espera, com uma cerveja bem gelada, um Xerém de conquilhas, que nunca comera, mas de que fico cliente incondicional. No fim, um pudim flan p'ra ninguém botar defeito
Quando saimos para a rua, uma noite de sonho, com o clima que qualquer um pede a Deus, uma música de Pedro Ayres de Magalhães, Rodrigo Leão, entre outros, enriquecida pela voz de Teresa Salgueiro, leva-nos até à Feira do Livro, onde adquiro alguns livros considerados indispensáveis.
Impõe-se depois uma visita à zona mais alta da cidade - ao Centro Histórico, iluminado com uma linda cor amarela que se solta dos bonitos candeeiros, deixando ver monumentos e casas dignas da capital de uma Região que tem sido para mim uma caixinha de surpresas.
A noite continua cálida e ninguém arreda pé. Ninguém, a não ser os que, como nós, têm vários quilómetros para rolar até chegar a casa...
Pelo caminho penso que este foi um dia de férias muito cheio de coisas boas.
Na praça do Giraldo, em frente do chafariz, três sobrinhos: no meio, um de cinco anos, ladeado por dois pouco mais velhos; olhando para o petiz fotografado, e para o rapagão de 19 anos, de músculos de pedra, penso que, afinal, já passaram 14 anos...
Mas revejo-nos a sairmos do Turismo, na praça, os adultos com mapas onde cada número indicava um monumento a visitar, e dele nos dava informação bastante. Aqui o Templo de Diana, ali as ruínas do Palácio de D. Manuel, acolá a janela manuelina da casa de Garcia de Resende...
Nesse primeiro dia da nossa estadia vimos muito, andámos muito, e acabámos a noite num restaurante de uma ruazinha à esquerda da praça, tendo à frente umas muito saborosas migas, e um Cartuxa da adega local. Mas voltaríamos nos dias seguintes para completar em beleza o périplo por aquela cidade, a que havíamos de voltar mais vezes, sempre com o deleite que sentimos nesse Abril já longínquo.
mas, porque sei que elas estão algures à minha espera, e porque tenciono desfrutá-las, pelo terceiro ano consecutivo, " cá dentro ", esta dica vem, direitinha, de encontro aos planos já esboçados, dando sempre, porém, preferência a caminhos pouco acidentados; e nada como começar pelo que está ao pé da porta, para depois alargar o âmbito do Portugal a conhecer, tanto que ele é, dentro daquela lógica, inculcada criança ainda: " Portugal é nosso/ e nós temos obrigação/ de o conhecer ".
( fotografia tirada da Net )
o melhor mesmo é ler este excelente texto do João Pedro, sobre esta tão linda região.
James Forrester, faria hoje 200 anos, leio no Público.
E lembrá-lo é lembrar os riquíssimos momentos passados nessa região onde a prodigalidade da Natureza é tanta que ninguém lhe fica indiferente.
É lembrar os dias - quase sempre de Outono - em que saíamos da Pousada que lhe herdou o nome, de manhã bem cedo, para aí regressarmos só à noite, sempre cansados mas sempre felizes pelo que nos tinha sido dado ver, num crescendo em que se tornava cada vez mais notória a ligação daquela terra ao rio, que é afinal a fonte de deslumbramento maior.
Mas ler este texto de Manuel Carvalho não traz só lembranças; significa o conhecer uma vida tão cheia de um homem que podia escolher um outro qualquer lugar do mundo para viver, mas se deixou enredar pelo fascínio que ainda hoje sentimos quando lá vamos.
Terá sido o negócio vinhateiro, desse néctar tão apreciado na terra natal, que o fez aí fixar-se, mas não terá demorado muito até que o Douro se tornasse " a paixão que mais energia lhe consumi( u ) ", a partir do momento em que se predispôs a estudá-lo minuciosamente, calcorreando, por isso, toda aquela região, amando o rio que havia de o guardar para sempre.
o dia fez-se quente e luminoso. Impunha-se o mar como destino, pois. E Esposende ali ao lado.
Aragem boa aquela, tempo bom aquele; caminhada debaixo de um céu azul deveras prazenteiro.
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Ruma-se mais a Norte, porque vamos a Viana e a Ponte de Lima: é o rio que nos chama.
Mas vamos pela estrada do monte no cimo do qual se vê uma capela - sabemos tratar-se do monte de São Lourenço, e da capela com o mesmo nome, mas nunca lá tínhamos ido.
Meio caminho andado e vemos uma tabuleta castanha: " Castro de S. Lourenço "
Nas placas informativas leio que aquela região foi ocupada, em tempos diferentes, por povos pré-históricos, ocupação depois continuada por romanos, o que justifica a sua divisão por sectores diversos e bem demarcados.
Mais um bocadinho de Portugal que deixa de ser desconhecido, concluo.
Por aqui, onde se guarda, contra ventos e marés, e apesar dos pesares, muito do pitoresco da Região, retém-se a memória de um grande Poeta, contemporâneo de Bernardes, posto que a este anterior no nascimento, e de Bernardim, de quem foi amigo dilecto, e que tendo começado o seu versejar à moda antiga, acabaria, também ele, por seguir por caminhos do Renascimento.
Recorda-o, em forma de livro, o aqui nascido, e nosso contemporâneo, Agostinho Domingues, o filólogo que comemorou em 2008 o 450ºaniversário da sua morte com a « Nova Homenagem a Sá de Miranda ».
É aqui que encontro, inserido numa mais vasta recolha de textos a ele dedicados, o excerto de um estudo de Carolina Michaelis, que vejo como paradigmático: « A sorte da nação não lhe era indiferente. De longe ( do Minho ) seguia com interesse os menores incidentes políticos. Os favores e as desgraças, que assinalavam a existência dos homens que tinham entre as mãos os destinos do País, comoviam-no profundamente», detectando, assim, nesse atento seguir do que na corte sucede « a vigilância do patriota ».
( fotografia roubada ao Tiago )
por alturas da Páscoa, assisti, a um « Stabat Mater », de Pergolesi ( não lembro o nome do Soprano nem do Contralto ), executado pela Orquestra do Norte, na Igreja de S. Francisco, em Guimarães, e o facto de ver a Igreja cheia, e, no final, o agrado do público, traduzido numa grande ovação, faz-me crer na falta que fazem eventos assim por estas bandas.
Este o pensamento que me suscitou este post do Tiago Laranjeiro.
num antigo convento, construído no século XVI, no início da « Rua de Elite », que sempre foi a Rua de Santa Maria, por iniciativa de um cónego da Colegiada de Guimarães, em honra de Santa Clara, essa companheira na Caridade do Santo de Assis?
Nesse edifício, onde funcionara já o Liceu, e onde agora está instalada a Câmara Municipal.
Por essa altura, a paz, que agora associo aos claustros, só podia sentir-se quando estávamos nas salas de aula, porque nos momentos de recreio, o silêncio, que lhes é próprio, esse dava lugar à algaraviada dos bandos de rapazes e raparigas, de dez e onze anos, que éramos então...
Alguns anos mais tarde haveria de lá voltar, quando, a estudar já no Liceu, e em horário pós-aulas, com a Professora de História, e alguns colegas, estudava documentos guardados no Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, na altura ainda a funcionar na Capela do Convento.
era a zona do País por nós preferida na Primavera.
Não sei já porque razão aquele fim-de-semana iria ser prolongado, mas o certo é que sabíamos ir encontrar aquelas planícies sem fundo, numa ondulação movida pela leve aragem, de um verde semeado de flores de cores que iam do branco ao roxo.Tudo isto debaixo de um céu muito azul.
O destino era Sousel, no Distrito de Portalegre, a partir da qual visitaríamos, conforme planeáramos já, Avis, Estremoz., Arraiolos ( aonde voltaríamos com mais vagar ), Mora,..
De caminho iríamos ver como estava o Mosteiro da Flor da Rosa, de que ouvíramos estar a ser reconstruído, que sabíamos ter estado ligado às Ordens de Malta e Hospitalários, ter ali vivido o pai de D. Nuno Álvares Pereira, tendo o Condestável aí nascido, quando aquele era Prior do Crato, e acabara de ser referido na série de episódios televisivos « Malta Portuguesa ».
Estava ainda em ruínas, e só uns anos mais tarde ( dois? ) ficaríamos na então recém inaugurada Pousada...
da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, hoje serventia do Museu de Alberto Sampaio, mas onde se vive ainda a calma e paz áureos de antanho, e que, no seu estado actual, cumpre mais do que nunca as funções de testemunha privilegiada dos primórdios da nossa História, sem que, no entanto, deixasse, nunca, de a ela se associar, nos tempos que se lhe sucederam...
da igreja de São Domingos,em Guimarães, que juntamente com esta, é monumento nacional.
Muitas foram as vezes que aí fui à Missa, mas o claustro, esse, conheci-o mais tarde, quando fui ver as maravilhas resgatadas por Francisco Martins Sarmento, quer na citânia de Briteiros, quer no castro de Sabroso, pois que há muito nele alberga o Museu de Arqueologia da Sociedade que leva o nome desse Ilustre Português.
a que se vive neste! Convertido numa das zonas mais apetecíveis da actual Pousada de Santa Maria do Bouro, mas que começou por ser o claustro do mosteiro, do século XII, primeiro obedecendo aos princípios da Ordem Beneditina, para depois dever obediência à Ordem de Cister, criada por São Bernardo de Claraval, é apenas um dos muitos que fazem as minhas delícias...
o João Pedro.
Visitámos a cidade noutro Outono- tudo é bonito no Outono-, quando, saindo já do Distrito da Guarda, empreendemos o caminho para Viseu.
Famosa por sempre ter recusado obediência a outro senhor, que não a El-Rei, esta cidade, cujo nome advirá do facto de na região haver muitos pinheiros, é conhecida por Cidade do Falcão, desde que a mascote do exército de Castela passou, depois que lhe foi subtraída por um grupo de pinhelenses, a integrar o seu brasão.
Cidade magnífica, na verdade...
na pousada da Senhora das Neves, em Almeida. Era o fim-de-semana prolongado do 1º de Dezembro, e íamos visitar alguns dos lugares onde se tinham desenrolado embates decisivos da Guerra da Restauração, como Castelo Rodrigo, onde as gentes da Beira sobressaíram na batalha da Salgadela.
Visitámos outras Aldeias Históricas, entre as quais a de Castelo Mendo. Vazia nas suas ruas lindamente empedradas, onde só vimos alguns cães, que por ali vagueavam, encontrámo-la bonita, com belíssimas casas de granito, com uma bem preservada muralha do tempo de D. Sancho II, reforçada no reinado de D. Dinis, começou por deixar uma boa impressão no grupo alargado de uma vasta família,protegida contra os rigores de um Inverno que ainda não tinha chegado, mas que ali se fazia sentir já.
Essa impressão idílica, porém, iria ser assombrada pouco depois, com a visão de uma rapariguinha que, debaixo de um vento gélido, pastoreava uma vaca, certamente alheada da beleza que acabara de nos deliciar.
Lembro de ter pensado que, tivesse ela oportunidade, e logo voltaria as costas àquela terra que só os forasteiros podiam ver com lentes cor-de-rosa.
Um retrato eloquente dessa macrocefalia de que fala o Pedro...
transcrevo aqui um comentário do Pedro Félix: « Podemos de facto estabelecer diferenças de mentalidades., Não vou recorrer ao relativismo cultural de que não há culturas superiores ou inferiores. Aliás, o isolamento e as adversidades em que muitos compatriotas nossos vivem dão origem a actos e mentalidades deploráveis. Tal deve-se não a quem aí vive, mas sim a um sistema macrocéfalo que vota ao esquecimento e abandono boa parte do país denominada de " província ", cujo povo são os " bimbos ". Porém são esses " bimbos " que têm alimentado com o fruto do seu trabalho a urbanidade dos cosmopolitas. E as assimetrias têm aumentado há pouco mais de três décadas, não obstante a calafetagem paga pela UE e os sinais exteriores de prosperidade que os " ditos saloios " vão apresentando, pois ao consumismo adere-se mais facilmente do que a livros de história de arte, com ou sem passarinhas ao léu na capa »
reportando-se ao " caso de Braga ", se as aulas de educação sexual serão mais um motivo para os pais espancarem os professores
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Começo por dizer que tenho como boa a opinião do Pedro, de que há a ter em conta a especificidade de cada região, e que perante um mesmo facto as reacções são diferentes, consoante o ponto do País em que ocorre.
Com efeito, as coisas não se passarão assim em Lisboa, por exemplo, onde o referido " caso " não teria acontecido, por certo, mas há pouco tempo uma amiga, professora da Primária numa aldeia do Distrito de Braga contou, não que uma colega sua fora espancada, mas que os pais dos seus alunos tinham ido, numa atitude bastante hostil, pedir-lhe satisfações porque ela fizera uma primeira abordagem ao tema.