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Jerónimo de Sousa está com os azeites. Em 2015 tinham-lhe prometido uma bela colheita se alinhasse com os socialistas e levasse a reboque o Bloco de Esquerda (BE), mas parece que lhe passaram a perna. O Partido Socialista conseguiu enganar os comunistas nas autárquicas e convencer uma mão cheia de marxistas a despir esse macacão. Falam de sedição e traição da Catalunha, mas a Coligação Democrática Unitária (CDU) não é uma região autónoma, reside no cerne da Geringonça e agora vem com a conversa do homem da luta, da insurreição de rua, do protesto pela reposição de rendimentos. Ou seja, é a própria Geringonça que se morde. O Rei Marcelo, que tem emissões a toda a hora, não imitou o monarca espanhol com a vã intenção de acalmar os ânimos. Há dias, de Belém, havia falado na necessidade de garantir o equilíbrio funcional da acção governativa. Embora os comunistas tenham levado uma ripada valente nas eleições autáraquicas e um desbaste decano de câmaras, no meu entender, são mais poderosos do que nunca. A receita original da Geringonça foi adulterada por António Costa, mas quem tem a foice e o queijo na mão é Jerónimo de Sousa. A laia de sugestão, de quem já não quer a coisa, e por entre as linhas, o chefe da festa do Avante vai emprestando a bons ouvidos os tons de meia-dose de ameaça. Diz, nesse código de luta sindical, que se esticarem o cordel, o homem puxa a alcatifa à Geringonça e entorna o caldo. O BE, coitadito, já não é a coqueluche querida dos anseios pseudo-iluminados da Esquerda - também lhes foram aos fagotes nas câmaras - zero. Resumindo e concluindo, enquanto Santana vai ou Montenegro vem, o Partido Social Democrata (PSD) que se apronte convenientemente. O saldo eleitoral não lhes é de todo desfavorável. A mudança de líder e de óleo podem ser feitas na mesma revisão. O motor da Geringonça parece ter uma junta problemática e deixa escorrer vestígios de crise antecipada. As autárquicas não merecem apenas uma leitura nacional. Exigem uma leitura racional. Agarrem Jerónimo, senão ele parte a loiça toda.
Passos Coelho será injustamente lembrado por muitos, mas foi o homem certo no momento errado - "it was a dirty job and somebody had to do it". O homem que agora se prepara para sair da cena política, não escolheu o mandato. O mesmo foi imposto duramente e sem tréguas. A geringonça herdou uma casa arrumada e pôde libertar-se da Troika e de todo um léxico associado à Austeridade. Se houve alguém que teve de pagar um elevado preço político, essa pessoa foi Passos Coelho. E ele sabia-o a cada medida imposta, a cada decisão que castigava o contribuinte português, o trabalhador nacional. A personificação de tudo quanto é sinistro na sua pessoa foi habilmente promovida pela oposição, como se todos os males do mundo português e o descalabro económico e financeiro tivessem sido criados por ele. O Partido Social Democrata (PSD) enfrenta agora outros dilemas. Como se diferenciar e apontar as falhas de um governo de Esquerda embalado pela onda favorável do turismo e receitas conjunturais? O PSD, à falta de candidatos-estadistas para relançar a sua estirpe política, tem forçosamente de procurar noutro palheiro a saída desta crise de liderança e défice de carisma. Rui Rio ou Luis Filipe Menezes se fossem um só, uma soma de partes, talvez pudessem representar o partido com argumentos e credibilidade, mas essa construção não é possível. Se o PSD não foi capaz de produzir uma nova geração de lideres com profundidade e campo de visão (perdão, Luís Montenegro não tem o que é preciso), terá de validar outros vectores, outras propostas, correndo o risco de perder terreno para o ex-parceiro de coligação - o CDS. O processo de recalibragem não depende de uma figura de proa. Sustentar-se-á numa leitura ajuizada da realidade ideológica e política que extravasa os parâmetros de Portugal. O PSD não pode ser um mero agente reactivo ao poder instalado, à bitola ideológica, ao PS, o PCP, o BE e agora o CDS. Exige-se uma lavagem de conceitos operativos, um refrescar de propósitos, um realinhamento sem sacrificar os princípios fundadores, os valores de base. Nessa medida, mais do que homens-estandarte, serão as ideias que terão de se autonomizar. Serão axiomas e conceitos plenos que terão de servir de justificação. Por outras palavras, as respostas estarão na métrica da realidade, como por exemplo o nível recorde de dívida pública. Serão os factos inegáveis que emprestarão credibilidade às propostas, e menos o estilo de discurso ou as preferências de liderança. O PSD, à falta de cão, terá de caçar com gastos não previstos pelo seu guião clássico, tradicional. Se souberem aproveitar a crise estarão preparados para a próxima bancarrota.
foto: Expresso