
O mais fácil seria todos fazermos aquilo para que como portugueses, fomos à nascença formatados. As parangonas com escândalos, inabilidades, intrigas e malfeitorias, sem dúvida alguma contribuem para a sobrevivência da péssima imprensa que temos e mais ainda, para a defesa dos interesses de certa gente que apertadamente controla a informação.
Ontem, o ministro Álvaro Santos Pereira* anunciou um conjunto de medidas que passaram completamente despercebidas - a censura doutros tempos - nos noticiários. Dado o estado de ebulição onde já ferve a panela de pressão que Cavaco e os seus Montis de calças e saias preparam em Belém, notícias positivas não são de todo convenientes. É confrangedora a ligeireza dos agentes políticos nacionais, tomando a população como totalmente parva. Pois não é, já não bastando uns tantos discursos a puxar à lágrima fácil. Quem se dê ao trato de polé de escutar as "antenas abertas" dos canais de informação, apenas confirmará o profundo ódio, para não dizermos aquele desprezo que mata, com que a generalidade dos portugueses encara o regime. Os irados bate-panelas nos telejornais, deveriam apresentar as alternativas que dentro do quadro deste sistema político jamais surgirão. Jamais. Assim sendo, há que trabalhar com o que existe, atiradas borda fora umas Forças Armadas que nem sequer conseguem encontrar um porta-voz credível, alguém que saiba articular uma frase minimamente compreensível e não misture "Plutão e países daquela origem". Apenas fica a voz de Otelo e o seu sonho de ver cumprido um Campo Pequeno a abarrotar de rezes destinadas ao abate. É o chachismo erguido em instituição.
O conjunto de medidas apresentadas, implica avultadas somas e um rigoroso controlo das mesmas. O rigor deve ser a exigência mínima para a aplicação do dinheiro escasso, esse bem muito raro, caro e não passível de brotar de qualquer sementeira.
1. Entre outras, destaca-se aquela respeitante à TSU e ficamos todos com a sensação de que o governo facilmente poderia ter evitado as ruidosas e indignadas andanças do mês passado. Trata-se de uma medida parcial e que de forma alguma compensa o caudal financeiro que a nada-morta implicaria nas bolsas empresariais, mas agora neste formato, talvez seja bastante válida para empresas com uma situação económica viável e vocacionadas para o aumento da produção destinada ao exterior.
2. Foi também corrigida uma clamorosa injustiça ignobilmente parida há uns anos, já nem sequer valendo a pena recordar a data do início do esbulho, fosse ele cavacal, guterreiro, barrosão ou socratista: a entrega do IVA - lembram-se também do famoso pagamento por conta da hoje indignada apparatchik belenense a agora incontinente verbal Manuela Ferreira Leite? - passará a obedecer às regras mínimas da decência. Enfim, sai um dos famosos Irmãos Metralha da nossa política fiscal.
3. Não se compreende bem esta invenção de um banco de fomento destinado a apoiar investimentos. Existindo a estatal Caixa Geral de Depósitos, não poderia ser este entidade reestruturada, mantida sob a égide do Estado e arcar com esta responsabilidade? Qual será a utilidade da criação de mais um sorvedouro de cargos, postos irrecusáveis, sempre sob apertada suspeita política e todas as outras despesas inerentes?
4. Os incentivos ao investimento na produção de bens transaccionáveis, dão agora o pleno contentamento a esta recém-descoberta menina dos olhos da língua de pau do aflitivo sr. Cavaco Silva. O governo poderia ir muito mais longe, garantindo durante um período mais dilatado no tempo, um corte mais radical na colecta. Diríamos mesmo 50%, assumindo-se claramente a discriminação positiva e indicando o caminho a seguir pelos empresários.
5. Voltando aos tempos dos programas de formação que foram uma inteira responsabilidade política, financeira e social da barcaça governamental do Aníbal que ainda temos, eis o regresso dos cursos de formação profissional, também pagos a 100% com mais fundos vindos da Europa, ou melhor dizendo, da detestável Alemanha.
Tome boa nota o governo da necessidade imperiosa de um severo controlo destas aplicações, evitando-se os roubos, falcatruas e despautérios que desbragadamente ocorreram ao longo dos dourados anos do residente de Belém, então em despreocupada gestão beneditina. Já temos manicuras, cabeleireiros e técnicos de croissants para exportar em prodigiosas falanges. Há uns dezassete anos, os formados pasteleiros anibalescamente passaram os Alpes sem o auxílio de elefantes, instalaram-se na Suíça e hoje em dia podem servir-vos todas as variedades daquela especialidade em forma de turbante do humilhado turco, bolinho há mais de três séculos inventado durante o cerco a Viena. Seria excelente a coordenação deste novo ímpeto na formação, com aquilo que ainda existe em termos de ensino técnico.
* Bem sei que isto provoca aquelas reacções indignadas bem previsíveis, mas sim, continuo a acreditar que este ministro é sério e mereceria mais atenção. É um dos ministérios mais difíceis do executivo.