Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Para grandes males, grandes remédios

por Samuel de Paiva Pires, em 27.03.20

Infelizmente, um artigo que escrevi em 2014, publicado na Revista Portuguesa de Ciência Política, do Observatório Político, envelheceu bem. Intitulado "A crise do euro e o trilema do futuro da União Europeia", nele procedi a um diagnóstico das falhas estruturais da União Económica e Monetária (UEM) e a um arriscado exercício de prospectiva sobre o futuro do Euro e da União Europeia.

A grande diferença para o momento actual é que o coronavírus afecta todos os países, mas as falhas estruturais existentes desde a criação da UEM permanecem, independentemente dos instrumentos entretanto criados. A UEM não é uma Zona Monetária Óptima e é uma união monetária incompleta - sem uma união orçamental com mecanismos de correcção de desequilíbrios nas balanças correntes e uma união fiscal que permita uma gestão macroeconómica conjunta - que retirou aos países instrumentos de política monetária autónoma, mormente a taxa de câmbio e a capacidade de emissão de moeda e controlo da massa monetária em circulação, bem como a emissão de dívida numa moeda própria - algo que Paul De Grauwe assinalou ser essencial para compreender a então crise do Euro. Juntando-se a isto um Banco Central Europeu desenhado à imagem do Bundesbank - um banco central independente, com uma política monetária centrada na estabilidade de preços e na proibição do financiamento monetário dos défices públicos – bem como um Pacto de Estabilidade e Crescimento que limita os défices orçamentais a 3%, a UEM é, na verdade, um colete-de-forças.

A isto acresce que o Euro é uma moeda que não reflecte a economia real dos países europeus, sendo subvalorizada para as economias do norte e sobrevalorizada para as do sul, o que potencia as exportações do norte. Em virtude das fragilidades da UEM, e dadas as grandes diferenças em termos de produtividade e competitividade entre os países que a compõem, estes estão sujeitos a divergentes tendências económicas, sendo os défices comerciais de uns a contrapartida dos excedentes de outros. Isto explica que os excedentes comerciais da Alemanha fossem então os maiores do mundo, incluindo a China, e 40% destes excedentes provinham do comércio com países da Zona Euro.

Ora, perante a actual crise do coronavírus, o suporte à economia europeia e o seu relançamento têm de ser feitos de forma coordenada, sob pena de desintegração da Zona Euro e da União Europeia. Não basta accionar a cláusula de exclusão do Pacto de Estabilidade e Crescimento e eliminar o limite de 3% para o défice, e talvez nem sequer os eventuais eurobonds sejam suficientes para lidar com a crise económica - embora sejam essenciais. Se países como a Alemanha, Holanda, Finlândia e Áustria insistirem numa postura míope e na ausência de visão estratégica que tem caracterizado os seus governos ao longo da última década, poderemos vir a assistir ao fim do Euro e da União Europeia como a conhecemos. Se finalmente forem capazes de perceber o que até há uns anos era uma platitude sobre o projecto de integração europeia, a ideia de que este se aprofundava em resultado das crises, talvez a UE possa ser a tal ever closer union e permanecer um actor global relevante.

Caso estes países mantenham a lamentável postura que conduziu ao agravamento da crise do Euro e à imposição de pacotes de austeridade excessiva, então estará na hora de sairmos do colete-de-forças, por mais difícil que seja. O trilema que elaborei no artigo supramencionado colocava então como futuros cenários a manutenção do statu quo, com os países do sul subjugados aos interesses da Alemanha e afins, o fim do Euro (em duas vertentes, que desenvolverei de seguida) ou o aprofundamento do processo de integração por forma a completar a união monetária com a união política. Por ora, deixo um excerto do que então escrevi:

A segunda opção é a já referida possibilidade do fim do euro, recuperando os países da Zona Euro a capacidade de emitirem moedas próprias, ou, pelo menos, o seu fim nos moldes em que o conhecemos, através da cisão da actual Zona Euro, que se pode dar pela saída dos países do Sul ou dos países do Norte, e que poderá levar ao eventual estabelecimento de uma segunda zona monetária no seio da UE. Neste caso, ambas seriam, em princípio, ZMOs, pelo que não seria estritamente necessário aprofundar a integração no plano político – este argumento poderá ser particularmente cativante para os anti-federalistas –, ainda que esta até possa ser prosseguida. Esta solução, na sua primeira variante teria resultados muito incertos e potencialmente catastróficos. Na sua segunda variante, que podemos considerar como de mudança relativamente moderada, se comparada com a terceira solução, que já veremos, no curto prazo seria favorável aos países do Sul e desfavorável à Alemanha. Porém, evitaria os resultados que adviriam da primeira opção do trilema, sendo favorável à Alemanha a longo prazo, pelo que acabaria por beneficiar a UE no seu todo. Todavia, dificilmente a Alemanha poderá ser persuadida a declarar o fim do euro ou para a criação de uma segunda zona monetária. Em qualquer das suas variantes, esta proposta parece-nos irrealista em termos práticos, embora pudesse ser a solução economicamente mais racional. Acontece que a Alemanha está actualmente numa posição muito confortável, com um euro fraco que favorece as suas exportações, tornando-a a economia mais competitiva da Zona Euro. Ademais, encontra-se, em parte em resultado disto, de forma indisputada na liderança política da UE, tendo a cooperação entre países soberanos sido relegada em favor de uma dominação de facto por parte de Berlim. Estamos em crer que não há registo histórico de uma potência hegemónica ter abdicado voluntariamente da sua posição.

(...)

Por outro lado, muito se tem falado de uma união entre os países do Sul contra os do Norte, com vista a procurar minorar a austeridade excessiva. Talvez esta ainda não tenha acontecido porque não só alguns governos dos países do Sul acreditam que o diagnóstico está correcto, como também não têm um objectivo político comum bem definido que possa subjazer a uma frente contra os países do Norte. 

No momento actual, talvez a necessidade de fazer face à crise económica resultante do coronavírus seja o objectivo político comum de que os países do Sul necessitam para rebentar o colete-de-forças em que se encontram. 

publicado às 17:06

Portugal e os irmãos Kamov

por John Wolf, em 31.03.18

Kamov_Ka-27.jpg

 

Portugal tem alguma experiência no jogo-duplo. Durante a Segunda Grande Guerra sabemos que no tabuleiro geopolítico a nação teve de conviver com o regime Nazi sem descurar a sua apetência Aliada. Com alguns fez o negócio do volfrâmio, e com outros acertou rendas para bases militares. Se Portugal fosse a Áustria entenderia perfeitamente a sua neutralidade para com os russos. Não expulsava quem quer que fosse. Mas Portugal não deve grande coisa à Rússia. Em 1955 foi a União Soviética que ofereceu o país à Áustria, desde que este mantivesse a sua neutralidade quando e se as coisas dessem para o torto - chegou esse momento. Basta visitar Viena para apontar o dedo a uma quantidade assinalável de bancos russos, muitos deles "boutique", feitos à escala de oligarcas. Mas há mais, para aqueles que se deixam encantar por lirismos e distrair por valsas de Mozart - a Áustria não é um estado-membro da NATO ao invês de Portugal que é um dos seus fundadores desde 1949. Por outro lado, não vejo grandes negócios em curso com os russos - esqueçam os Kamov. O problema essencial é outro. Jerónimo de Sousa e Catarina Martins são pacifistas. Não acreditam na exclusão. Mas por outro lado odeiam a NATO. Sim, andam confusos. O ministério dos negócios estrangeiros parece estar agarrado, encostado à parede - assemelha-se a uma menina medrosa. Quando esgotarem os embaixadores para a troca, é bem provável que Portugal fique com uma mão cheia de nada. Na vida, tal como nos negócios estrangeiros, devemos assumir posições, dar a cara e respeitar os princípios orientadores de democracias e alianças. Portugal não faz nem uma coisa nem outra. Terá sido envenenado? Ou será que basta uma repreensão escrita e siga para bingo?

publicado às 08:53

A migração ideológica da Europa

por John Wolf, em 24.05.16

europe11.jpg

 

Desejava deixar a poeira assentar, mas os eventos que assolam a Europa ultrapassam a falsa expectativa de um status quo. Encontramo-nos na torrente de transformação, na tempestade que se multiplica por maiores ou menores remoinhos, a Leste e a Oeste. Em política não existem coincidências. Existe um alinhamento que extravasa análises retrospectivas, depois do sucedido. Por exemplo; a efectivação da decisão tomada pelas autoridades gregas para remover migrantes do campo de refugiados Idomeni, acontece apenas após o desfecho das eleições presidenciais na Áustria. E porquê? Porque se Hofer tivesse ganho as eleições, os gregos certamente que não avançariam com a remoção autoritária dos refugiados. Seriam imediatamente equiparados a  outros quadrantes ideológicos (distantes mas próximos) - à extrema-direita. Ou seja, deste modo a acção dos gregos passa despercebida. Não causa grande alarido ideológico. Afinal trata-se da Esquerda que não se deixa contaminar por desfalecimentos éticos, pelo uso da força - a troco de dinheiro fresco? Este encadeamento de ideias não é de todo rebuscado. É assim que funciona a política que não distingue as dimensões domésticas e internacionais, a oportunidade do calendário apertado. É isso que se está a passar na Europa - um mecanismo de trocas convenientes no contexto de uma União Europeia cada vez mais falha no que diz respeito aos seus princípios constitutivos. Os nacionalismos assumem-se porque já não se consegue realizar a destrinça dos desafios. Enquanto que em Portugal a ideologia divide privados de públicos, estivadores de patrões, em França, a ferida aberta causa mossa directa no motor económico. A greve das refinarias já se espalhou à quase totalidade do país. O que pretendem? Inflacionar repentinamente o preço do crude nos mercados internacionais? Gostava de saber qual o impacto (positivo) que estes acontecimentos terão nas operações da gigante petrolífera francesa Total, e aqui, na vacaria instalada no burgo por Costa e Centeno que delira com a recuperação plena e faustosa. Francamente. As verrugas já estão plantadas no panorama. Agora é só ligar os pontos. Negros.

publicado às 14:18

Asterisk_black.jpg

 

O Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) * apresentado a Bruxelas não traz um asterisco e uma nota de rodapé com as palavras de Catarina Martins - "Dijsselbloem é o ministro da Offshore da Europa". Mas o PEC não é tímido na requisição de fundos e na proposta de medidas que ficarão aquém do exigido para cumprir as metas orçamentais. Podemos concluir que as declarações de Catarina Martins servem o interesse nacional? Não me parece que sirvam para grande coisa. Para cada palavra de insulto dirigida a quem dá o pão para a boca, certamente que haverá bastantes mais que poderão fluir no sentido inverso - directamente para o governo de Portugal. António Costa e o Presidente da República Portuguesa Marcelo Rebelo de Sousa falam de consensos, unidade, o chão comum, o fim da época continuada de campanhas eleitorais, mas Catarina Martins, algo limitada intelectualmente, puxa para o seu lado. A sua demarcação rebelde, no entanto, revela outras consternações. Informa-nos o Bloco de Esquerda (BE) que já pressente a inevitabilidade de mais um resgate. Enquanto que na Áustria a falência dos socialistas na última década conduziu aos mais recentes resultados da extrema-direita nas primárias das presidenciais daquele país, a Esquerda portuguesa, encarnada pelo BE, também se prepara para descalabros no seu próprio campo ideológico. Catarina Martins crava a sua demarcação em relação ao governo nas costas da execução de medidas que certamente serão impostas por Bruxelas. A discussão em torno da obsessão de Bruxelas pela despesa tem razão de ser. O dinheiro é deles. O dinheiro é dessa offshore holandesa. O dinheiro é dos alemães. E já agora, o dinheiro também é dos gregos. Catarina Martins navega nestas águas de considerandos, mas esquece qual a bandeira financeira do seu pavilhão. Portugal não é sua pátria.

 

publicado às 10:06

A Queda da Casa de Habsburgo

por Nuno Castelo-Branco, em 07.08.14

Na passagem do centenário da eclosão da I Guerra Mundial e no seguimento do filme há uns dias postado sobre o Kaiser Guilherme II, aqui fica um trabalho britânico datado de 1968. The Fall of the House of Habsburg, um desastre cujas repercussões chegam aos nossos dias.

 

Francisco José I e Otão de Habsburgo, o arquiduque que viveu todo o século XX com uma ideia muito própria daquilo que é ou deveria ser a Europa. Tive o prazer de com SAIR ter longamente conversado em duas ocasiões, em 1983 e 1984, esforçando-se sempre por relembrar a língua portuguesa que falava desde criança. Grande amigo de Portugal, fazia plenamente o milenar ideal de imperador da velha Europa cristã. Otão teria sido o grande  Kaiser que faltou ao continente.

 

publicado às 21:00

Há cem anos

por Nuno Castelo-Branco, em 14.03.14

Rugiam os jornais em Paris, acicatados pelas lojas. De uma vez por todas, era necessário liquidar o mostrengo a beira Danúbio. Onde falharam os Valois, os Bourbons, os Orleães os Bonapartes e duas repúblicas, uma coligação mundial ditaria a lei. Impunha-se a destruição daquela "Babel de povos engaiolados" pela dinastia que um dia saíra de um lugarejo suíço e ousara imaginar um AEIOU que quase se estendera a todo o mundo conhecido. Numa Londres apesar de tudo mais condescendente para com este bloco essencial ao equilíbrio europeu, o império K und K era olhado de forma mais pragmática. Uns anos mais tarde, durante o cacofónico concerto do troar dos canhões, apenas a necessidade da manutenção de uma Entente instável, acabou por fazer com que os britânicos permitissem a derrocada exigida pelos tradicionais inimigos dos Habsburgos. Para cúmulo, era um império católico.

 

Vinda a paz, os mais severos apologistas do princípio das nacionalidades, os franceses e os norte-americanos, logo se dedicaram ao amalgamar de várias massas estatais que em tudo pareciam caricaturas da Áustria-Hungria. A Checoslováquia abarrotava de alemães, de húngaros e ucranianos, não esquecendo um retalho polaco, Teschen. A Jugoslávia seguiu o mesmo caminho, tal como a Polónia e a Roménia. 


A queda do império austro-húngaro representou um colossal desastre para a Europa. Bismarck afirmara que quem tivesse Praga, era dono e senhor de toda a Europa central e bem vistos os factos ocorridos após 1919, podemos incluir toda aquela zona que vai do Vístula, até à fronteira búlgaro-grega. Se alguém disso tiver qualquer dúvida, rememorie tudo o que se passou na Europa durante o período de entre as guerras - hegemonia alemã - e após 1945, quando os T-34 de Estaline ali se instalaram durante quase meio século.

Travadas e perdidas duas guerras mundiais, a fraqueza deste autoproclamado continente que dominara o orbe, impeliu povos e dirigentes a acordarem num modus vivendi que mantivesse a paz e sobretudo, afastasse a hegemonia que agora chegava do leste. Subitamente, toda a Europa ocidental informalmente se tornou numa grande Áustria-Hungria que para espanto de todos, funcionava, era rica, pacífica e um iman de atracção para quem neste bloco ainda não entrara. O próprio sucessor dinástico do Kaiser de Viena, o recentemente falecido  arquiduque Otão de Habsburgo (1912-2011), foi dos primeiros a erguer a bandeira da União, mantendo-se fiel à divisa Viribus Unitis

 

Liquidado o colosso soviético, regressaram em força os princípios outrora descuidadamente enunciados pelo presidente Wilson, ressalvando-se, para provisória tranquilidade geral, um ou dois casos excepcionais. A Jugoslávia logo seguiu o caminho que há muito lhe estava destinado e a Checoslováquia também se normalizou, desaparecendo dos mapas. Ficou a Ucrânia, exactamente com as mesmas fronteiras que o Soviete Supremo lhe concedera. Curiosamente, nos mapas surge com uma configuração parecida com a do desaparecido império austro-húngaro e os seus seiscentos mil quilómetros quadrados quase coincidem com a área ocupada  pela velha monarquia dualista. País da sua periferia, a Ucrânia servia aos russos de Estado tampão, um neutralizado trilho de negócios a percorrer em direcção a ocidente. Como irmãos eslavos, contavam com uma certa solidariedade da antiga Pequena Rússia dos tempos de Nicolau II. Era assim conhecida a Ucrânia nas antigas cartas polítcas europeias, tal como sem qualquer pontilhado surgia nos mapas a Rússia Branca, hoje uma realidade estatal que toma o nome russo de Bielorrúsia. Biela, branca, Rússia Branca, Bielorrúsia. 

 

Em Bruxelas e em Washington, temos zelosos vigilantes da liberdade dos povos. A partilha da Jugoslávia consistiu no primeiro passo das liberdades de conveniente figurino, tal como poucos anos depois aconteceria com a minúscula sobrevivente Sérvia, obrigada a abrir mão do Kosovo. Afinal de contas, os kosovares-albaneses também tinham "todo o direito de dispor do seu futuro". Era esta a lei ditada pela Comissão Europeia e pelo Departamento de Estado d'além-Atlântico.

 

O que foi válido para croatas, eslovenos, bósnios, eslovacos e kosovares, de forma alguma terá qualquer similitude em relação às hordas orientais para além do Prut e do Dniester. A intangibilidade de fronteiras é aqui coisa sacrossanta, tal como relíquia a venerar é o celestial calhau ciosamente guardado na Caaba. 

 

Nada disto é razoável, a menos que finalmente, decorrendo cem anos desde que uma encasacada turbamulta decidiu a futura destruição de um país que em si resumia a ideia de Europa Unida, Bruxelas venha agora reabilitar a memória daqueles regimentos de alemães, húngaros, italianos, croatas, eslovenos, bósnios, romenos, polacos checos e ucranianos que seguindo para as frentes a sul, norte e leste, se ofereceram à metralha dos nacionalismos.

 

Chegou a Primavera e a Madeira apresta-se a receber a habitual enxurrada de turistas. Bem podem agora Merkel, Hollande, Obama e as restantes euro-insignificâncias atreladas irem em procissão até à funchalense Igreja do Monte, depositando uma enorme coroa de flores homenageando Carlos I. Têm um bom pretexto: ao contrário dos nossos duvidosos líderes, este Kaiser já foi santificado por Roma. 

publicado às 15:30

Austeridade, Áustria e Portugal

por John Wolf, em 27.07.13

Nos últimos quinze anos visitei a Áustria perto de vinte vezes. Não fui na qualidade de turista nem na condição de cidadão. Desloquei-me de acordo com o meu perfil híbrido, remexido pelo pulsar de múltiplas culturas e nações que residem no meu espírito. Pratico uma modalidade de abnegação patriótica - uma disciplina crítica que não coloca nenhum país num pedestal de superioridade. As idiossincrasias nacionais funcionam como uma impressão digital - não há forma de se lhes escapar. As coisas boas e más estão presentes nos quatro cantos cardinais, nas penínsulas e nas centralidades continentais. Nesta minha derradeira deslocação, viajei do reino da Austeridade para um país que já viveu essa experiência no pós-segunda Grande Guerra, mas, que por força do destino económico e social do presente, deixou cair o termo do seu léxico quotidiano, com todas as conotações nefastas a ela associada. A Áustria não tem noção do drama do sul da Europa. No desconcerto das nações europeias, a Áustria permanece na sua ilha de contentamento e esplendor. A sua taxa de desemprego ronda os 4% e a sua posição geo-económica significa que mantém intensas trocas comerciais com os países fronteiriços - uma boa meia dúzia de vizinhos. Como é natural nunca deixei de comparar realidades, com o intuito de tentar perceber as razões dos sucessos e descalabros. Em duas semanas de estadia em Graz (considerada a cidade do mundo com melhor qualidade de vida), vi menos Mercedes, Audis e BMWs por alcatrão quadrado do que em Portugal. Não escutei buzinas, e no centro da cidade 30km/h são 30km/h (poupa-se combustível, nervos e acidentes). Estacionar no centro da cidade implica preços proibitivos - paguei por um devaneio de 6 horas 40 euros! Mas tudo isto tem um custo. A Áustria por viver no auge do conforto e segurança económica e social (por exemplo, o subsídio por filho chega aos €400 mensais até aos quatro anos de idade para estimular a taxa de natalidade) desligou o motor de reflexão sobre os problemas dos outros. O extinto império Austríaco viu nascer tantas escolas de excelência, que facilmente o país vive a plenitude dessa falsa autosuficiência intelectual e cultural. A escola Austríaca de economia moldou tantas outras como a de Chicago ou a de Londres; a psicanalise fundada na persona de Freud e companhia também concedeu essa ilusão de vantagem. E não esqueçamos que a Áustria conseguiu convencer o mundo inteiro que Hitler era Alemão e Beethoven Austríaco, este último reunido com os grandes Haydn ou Mozart. Mas também não devemos omitir que Simon Wiesenthal - o caça nazis -, tinha a sua sede de operações em Viena. Ou seja, a noção de que há uma responsabilidade histórica paira no ar, e, condiciona, se não todos os cidadãos, pelos menos alguns pensadores maiores, incomodados pelas acções colectivas e os desígnios da nação. Thomas Bernard mais antigo e Robert Menasse do nosso tempo, para citar dois exemplos de pensadores irrequietos com a sua identidade. Todos os países vivem o movimento pendular das suas acções - um relógio que obedece a lógicas de paragens e continuidades que obriga os países a reverem a sua condição. Portugal, distante que está da Áustria, partilha algumas particularidades excêntricas. O domínio da língua falada e escrita parece obedecer a uma matriz semelhante de relacionamento ou paternidade. A Áustria está para a Alemanha como o Brasil está para Portugal. Partilham a mesma árvore linguística, mas os desvios no modo de expressar acontecem, num caso, de um modo natural, e noutro, de acordo com uma certa resistência nacionalista. A Alemanha não se sente ameaçada pelo vizinho do lado que usa uma palavra distinta para batata. São estes detalhes que ajudam a formar uma imagem incompleta das terras e das suas gentes. Ao fim de duas semanas, ou de uma vida, não podemos cair na tentação da redução simplista, do certo ou errado, do bom ou o mau. Os vinhos tintos da Áustria não aquecem a alma como os Portugueses, mas os brancos são excepcionais. Não menciono a qualidade do azeite - este vem da Grécia e não se compara ao trago nacional, profundo e perfumado. Faz bem sair para regressar e tornar a partir. Portugal dá luta e isso não deve ser menosprezado.

publicado às 11:46

Palácio da Independência

por Nuno Castelo-Branco, em 29.01.13

Hoje, no Palácio da Independência

publicado às 11:33

Socialismo de sucesso na Europa

por John Wolf, em 07.01.13

publicado às 18:05

Quem foram eles?

por Nuno Castelo-Branco, em 18.07.11

Sempre me divertiram essas republicanas susceptibilidades. Agora, tratou-se do caso do funeral de Otão de Habsburgo, onde um desconhecido Presidente vienense foi obrigado a comparecer, devido à presença de numerosos Chefes de Estado estrangeiros. A República austríaca, já suficientemente mesquinha quanto à sua nula identidade - foi proclamada em 1918, reivindicando a sua pronta adesão à Alemanha e sob o nome de Deutschösterreich - , não podia ficar de fora. Além da constante e quase obsessiva perseguição à pessoa do Grande Homem que há dias partiu deste mundo, a República austríaca vive em boa e regalada forma de parasitismo, às custas do legado dos Habsburgos. Desde Schönbrunn à Hofburg, do Ring à Ópera, do belíssimo edifício do Reichsrat aos grandes Museus e à valsa que se tornou no símbolo do país, tudo gira em torno da lembrança da dinastia daquele Império que foi o essencial elo do perdido equilíbrio europeu. Os Habsburgos estão presentes a cada esquina, em cada jardim ou praça. O país não medra sem eles, estejam ou não estejam sentados no trono. Mais que a presença das pedras e das telas ou o som das orquestras que transportam os turistas para um outro tempo cheio de memórias, os Habsburgos significam uma certa ideia de Europa que a República austríaca jamais conseguirá impor. Pior ainda, do seu democrático Parlamento chegaram ecos de ódio "contra os estrangeiros" que um dia foram todos denominados de "portugueses", numa abusiva generalização que nem sequer tem em conta, a fraquíssima presença dos nossos nacionais naquele pequeno país.

 

Desde há um século, quem são os grandes nomes do Estado austríaco? Quem se lembra ou retém como saudosa evocação, o nome de um Presidente ou de um 1º Ministro? É preciso o recurso a uma dose cavalar de fosfoglutina para avivar a memória, principalmente quando as referências são tão escassas. Senão, vejamos:

 

Francisco José foi Kaiser durante a maior parte do século XIX e marcou indelevelmente o ocaso do Império, falecendo em 1916. Os seus retratos estão por todo o lado, dos cafés de Viena, Praga, ou Budapeste, às casas particulares. O velho Senhor concitou o respeito e saudade por um tempo em que o Império significava um certo esbater de fronteiras e a possibilidade da vida em comum. 

 

O segundo austríaco, foi o sucessor Kaiser Carlos I, soberano efémero mas cujo patriotismo e grande dignidade são um exemplo. Este descendente de D. Nuno Álvares Pereira, é hoje um Beato da Igreja e a Áustria disso beneficia, no seguimento daqueles outros homens que se tornaram em símbolos dos seus países, como São Luís em França, Santo Estêvão na Hungria, São Venceslau na Boémia. Ainda há pouco tempo, Otão de Habsburgo dizia que jamais permitiria a trasladação de Carlos I, pois a Madeira tinha-o acarinhado nas horas trágicas da pobreza no exílio, protegendo a família e tornando aquele descendente dos Reis de Portugal, num dos seus. Por vontade da Casa de Áustria, o Beato Carlos I para sempre repousará na Igreja do Monte e isso interessa-nos enquanto portugueses. É talvez o elemento mais importante de proximidade entre o nosso país e a Áustria.

 

O terceiro austríaco com fama mundial, foi o Chanceler Adolfo Hitler, dispensando qualquer tipo de considerações.

 

O quarto, já na obscuridade bem própria dos políticos que não deixam marca notável, foi Kurt Waldheim. Quem dele ainda se recorda? Com um passado nebuloso e perdido no período de ocupação da Jugoslávia de 1941-44, Waldheim "reciclou-se" às mãos chantagistas da ditadura soviética, sendo um precioso peão que ascenderia a Secretário-Geral da ONU. Foi um dos mais terríveis inimigos de Portugal e sem honra ou glória, conseguiu alçar-se a Presidente da Áustria, para grande consternação de um mundo subitamente consciente da sua controversa personalidade. Já então se conhecia o seu passado bipolar e muitos aproveitaram o ajuste de contas por actos políticos no pós-guerra, nomeadamente aqueles praticados durante a sua permanência nas Nações Unidas.

 

Otão é o homem que transversalmente corta o tempo de todos os precedentes, desde a conhecida foto de criança que abraça as pernas do tio-bisavô, até à saga dos exílios - que foram muitos - e da generosidade da dádiva de uma Europa que ele quis diferente e que hoje lamentamos não se ter erguido por cobiça de muitos, desrespeito dos vorazes burocratas e frustração das bem instaladas nulidades que nos comandam

 

São estes, os homens de Estado que o século XX austríaco marcou. Consegue recordar-se de outros?

 

Como Otão dizia, "as feridas do dinheiro nunca são mortais. As políticas, sim".

publicado às 10:20

Hoje, em Viena

por Nuno Castelo-Branco, em 16.07.11

Vai hoje a sepultar, aquele que foi uma das grandes referências de uma certa ideia de Europa Unida que não chegou a existir. Uma Europa de pátrias e de nações, imbuída daquele sentido de pertença que outrora de Lisboa a Varsóvia, todos considerava como partes de uma Respublica Christiana.

 

Homem invulgar e pouco compreendido por quem hoje se rende a cocktails e aos acenos a patéticas sumidades de incerta futura reputação, Otão de Habsburgo foi talvez o derradeiro representante de um espírito de missão próprio da era medieval, abdicando do conforto ou da glória pessoal, mas jamais da obrigação do cumprir de um dever que julgou sagrado e acima das contingências da baixa política e dos ciclos económicos ou de guerras que sempre combateu.

 

Dele para sempre me ficará na memória, a afabilidade e o interesse mostrado por um rapaz português que no já longínquo ano de 1983 e em representação da então Nova Monarquia se dirigiu a Fulda, participando numa grande reunião da União Paneuropeia. Procurando falar no hesitante português que ainda recordava, naquele fresco Domingo passado a bordo de um navio de cruzeiros no Reno, Otão questionou-me longamente acerca de Moçambique e com a curiosidade que foi sempre a sua base essencial para o conhecimento, mostrou um inesperado e surpreendente interesse acerca de uma família que deixara a Europa quando ainda reinava em Viena o seu tio-bisavô, o Kaiser Francisco  José. Teceu algumas considerações resignadas sobre uma forma de descolonização que julgava como um tremendo erro que atingia a Europa como um todo, espantando-me com a sua perfeita consciência acerca dos momentos por nós vividos no PREC. De Portugal conservava a gratidão nostálgica da sua infância no exílio e tinha um certo sentimento de pertença a uma já desaparecida consciência deste país e do seu povo. Falou-me da sua viagem à então África Portuguesa, onde visitando um chefe tribal, foi tratado como um membro da família, pois sendo parente muito chegado dos nossos Reis, beneficiou daquela rara distinção que o tornava num igual, num primo. Coisas portuguesas, talvez inconcebíveis por muitos europeus que ainda não compreenderam que o nosso fugaz momento de pouco mais de dois milénios, já terá terminado. Aquela conversa que também contou com a participação da sua filha mais militante pela Causa, a Arquiduquesa Walburga, chegou a um certo ponto onde alguns temas, completamente imprevistos pela evidente intimidade, levaram o grande Homem a discorrer sobre as suas relações familiares, tendo a Arquiduquesa dito peremptoriamente que o seu pai era ..."o mais Bragança de toda a família. Sai à minha avó Zita". Era verdade e podemos dizer que se celebram exéquias por um notável membro da grande Casa de Bragança. Otão de Habsburgo-Lorena descendia de Dª Maria II pela linha paterna, enquanto a mãe, a Imperatriz Zita, era neta de D. Miguel I e prima direita de D. Duarte Nuno.

 

Se a Áustria-Hungria pode ser considerada como uma pujante precursora imolada no altar do egoísmo e da vingança de vencedores sem visão, Otão - aquele que nada temeu e soube enfrentar as grandes tiranias do século XX - poderia muito bem ter sido a primeira pedra de um edifício que hoje, quase todos duvidam ter qualquer possibilidade de construção. Nestes dias do fim, mal suportamos um quase hortícola  Rompuy, quando podíamos ter simbolicamente iniciado um outro caminho com aquele que descendia de Otão I o Grande, de D. Afonso Henriques, S. Luís, Carlos V, D. João IV, Luís XIV e de mulheres como Dª Filipa de Lencastre ou a Imperatriz Maria Teresa.

30 de Dezembro de 1916, Otão nas cerimónias da coroação de seus pais como Reis da Hungria

 

publicado às 00:01

Chocolates do Kaiser

por Nuno Castelo-Branco, em 06.07.11

 

Otão de Habsburgo com o Imperador Francisco José

 

Embora não tenha escrito nada a respeito de SAIR - trata-se de um post de Pedro Quartin Graça -, aqui está uma nota enviada pelo meu pai.

 

"Nuno

Li o que escreveste sobre o arquiduque Otto de Habsburg, aliás Francisco José, pois ao nascer recebeu os pronomes do tio reinante.
Queria contar-te um facto que talvez aches interessante. 
Nos anos finais do decénio de 70  do século passado e durante toda a a década de 80, fui, mensalmente - pela Faculdade de Letras a Univ. de Lisboa -, ao Funchal dar aulas no Centro de Apoio Universitário local.
Um dia, em mês e ano que já não recordo, mais para os finais dos 70´s, recebi um telefonema de um austríaco - creio que funcionário da Embaixada do seu país em Lisboa - pedindo-me um encontro. Assim foi feito; encontrámo-nos no átrio da Biblioteca Nacional; à época morávamos no Campo Grande e na Biblioteca passava os dias pesquisando para a tese de doutoramento e em leituras para as aulas.
Enfim o Herr, de que esqueci o nome, pedia-me uma gentileza; se poderia levar uma pequena caixa com um saco contendo terra recolhida na Áustria, creio que em Persenburg-Gottrf, a terra natural do Imperador, e colocá-lo junto do caixão de Carlos, de Áustria-Hungria, o último dos Habsburg reinantes - já que o mesmo tinha aura de santo; aliás, seria beatificado em 2004.
Procedi como me fora solicitado e verifiquei que junto à urna imperial na Igreja de Nossa Senhora do Monte se encontravam outros pequenos pacotes, suponho que igualmente contendo terra austríaca. 
Conforme combinado, cerca de um ano depois, fui recolher a pequena caixa e telefonei ao tal Herr que a veio recolher, agradecendo muito. 
Poucos dias depois recebi um cartão com dizeres muito simples e uma assinatura não identificável que acompanhava uma bela caixa de chocolates com dizeres em alemão e que diziam, mais ao menos, tratar-se de chocolates para cavalheiros. Creio que todos nós os comemos regaladamente. 
Este acto de intermediário colocou-me na pista de Carlos de Áustria sobre quem li quanto me apareceu, tal como sobre a sua Imperatriz, nascida princesa de Bourbon-Parma, aliás, ambos com recentes antepassados portugueses.
Não escrevo para o blog ESTADO SENTIDO porque não sei como é que se faz. Se quiseres, podes utilizar esta pequena passagem da vida de um português de 3.ª classe, já que nascido nos cafundós de África. Pai "  
30 de Dezembro de 1916. Em Budapeste, Otão de Habsburgo com os pais, no dia da coração de Carlos IV e Zita como Reis da Hungria

publicado às 08:43

 

 Otão de Habsburgo, bisneto de D. Miguel I (pela mãe) e trineto de D. Maria II (pelo pai), é filho de Carlos I e de Zita de Bourbon-Parma. Em Novembro de 1916, tornou-se no príncipe herdeiro do império austro-húngaro, mas o fim da I Guerra Mundial, obrigou a família imperial ao exílio na Suiça e depois, na Madeira.

 

Com um mandato de captura passado por Berlim,  em 1940 refugiou-se em Portugal, com um visto passado por Aristides de Sousa-Mendes. Hitler condenara-o à morte devido à oposição de Oto ao Anschluss. Durante a II Guerra Mundial, procurou aconselhar o presidente Roosevelt acerca da realidade da Europa central e do leste, mas o pacto dos Aliados com Estaline, levou à contemporização face ao avanço dos russos em direcção ao ocidente, derrubando regimes e instaurando a nova ordem em todo os países conquistados.

 

Depois da guerra, regressou à Alemanha e fundou a União Paneuropeia, à qual presidiu entre 1986 e 2004. Foi deputado da CSU bávara ao Parlamento Europeu.

Na actualidade, o arquiduque Otão de Habsburgo tem alertado quanto à natureza do regime de Putin, advertindo a Europa de que se encontra à mercê de uma nova tirania que se baseará no renascimento do poder militar e no expansionismo territorial herdado dos tempos do império soviético.

 

Vive em Poecking, na Baviera.

publicado às 15:24






Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas