Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Museu Nacional Grão Vasco

por Nuno Castelo-Branco, em 16.03.16

mw-1240.jpeg

 

São sumamente divertidos os subterfúgios e "reconstruções da história" que os responsáveis por alguns sectores sempre arranjam para florear um dado acontecimento. Vem isto a propósito do centenário do Museu Nacional Grão-Vasco e das declarações hoje proferidas à RTP pelo seu diligente director.

 

Muito política e artisticamente foi dizendo que se trata de um museu da república, com um suspiro afirmando através de truque oratório, ser na sua prática totalidade constituído por bens flagrantemente roubados à igreja logo após a coisa de 1910, ou seja, algo a juntar-se aos milhares de livros antigos despedaçados, rasgados de norte a sul de Portugal e que serviram para embrulhar castanhas, enquanto outros ardiam em autos-da-fé em ruas, praças e vielas deste país. Claro que outros foram parar a colecções privadas e vão de vez em quando miraculosamente reaparecendo em leilões da especialidade para venda a bom preço.

 

Isto é transversal a todo o património, tal como o grotesco e ainda recente caso do ceptro fúnebre de D. Pedro IV, hoje no Palácio da Ajuda, é demonstrativo deste tipo de mazela nacional.

 

Roubados foram os conventos - numa antecipação daquilo que em 1975 aconteceria na Embaixada de Espanha, muitos houve que se locupletaram escandalosamente com o saque -, despedaçadas e atiradas às fornalhas foram para sempre perdidas incontáveis obras sacras em talha, ao mesmo tempo que eram em plena rua sovados  padres, esfaceladas ficaram as suas vestes talares, publicamente rapados foram os seus crânios, tal como 25, 34 ou 35 anos depois se veriam em cenas de pré e pós guerra mundial.

 

Nada de novo, entre umas resmas de Mirós, este país é mesmo um antro de gente de cultura exemplar.

publicado às 21:03

Doces conventuais

por Nuno Castelo-Branco, em 04.11.10

O governo concedeu alguns benefícios fiscais à Igreja que pelo que parece, não está assim tão afastada do Estado como os comemoracionistas querem fazer crer. O mais certo, é ter existido algum acordo tácito ou táctico entre as duas instituições, num toma lá-dá cá que não pode ter deixado de ser apercebido por alguns. Há um ano, em voz fininha e melosa, o bispo do Porto tecia loas ao 31 de Janeiro. Já em 2010 e assim que chegou a Portugal, o Papa passou uma esponja de água benta sobre todas as violências e ilegalidades cometidas pela República Portuguesa, quase celebrando um Te Deum aos acontecimentos do 5 de Outubro de há cem anos. O pobre homem não deve andar bem informado, porque se conhecesse o que está em causa, recusar-se-ia a participar num certo petit-commerce de indulgências que se faz à descarada. De facto, o Papa, o Cardeal-Patriarca e os Bispos, deviam mostrar algum respeito por aqueles religiosos que em Portugal se sacrificaram no exercício das suas funções.

Os programas televisivos e as conferências multiplicam-se, pretendendo deixar uma luminosa aguarela das maravilhas do relacionamento entre a Igreja e a 1ª República, num estranho re-arranjo polifónico da História, decerto sob a batuta dos chefes de orquestra Rosas & Rollo. Pretendendo contribuir para este clima de Saúde e Fraternidade, passaremos a divulgar alguma investigação no M.N.E., aqui deixando uma modestíssima contribuição especialmente dedicada à Conferência Episcopal Portuguesa, assim como a Sua Santidade o Papa:


publicado às 10:57

A Noite Sangrenta

por Nuno Castelo-Branco, em 01.10.10

Conhecendo bem o tipo de escória que cobre o país inteiro, aqui deixo a minha suspeita acerca da série "A Noite Sangrenta". Se seguir o figurino habitual, lá iremos ter um outro "herói" Buíça's style.

 

Já se adivinha um Abel Olímpio/Dente d'Ouro cheio de "contradições de classe", um assassino aparentemente mauzinho e rasca, mas que com o passar dos minutos de video e mercê dos milagres da RTP, se transformará noutro pobre diabo, um coitadinho "idealista" de boa cepa, "manipulado" e "traído" pelos poderosos. No fim, decerto pairará a suspeita da mãozita monárquica. Veremos se tenho razão.

 

Que corja!

publicado às 23:59

A congestão republicana

por Nuno Castelo-Branco, em 10.12.08

*

 A Ilustração Portuguesa foi uma publicação que preencheu a mais conturbada época da história de Portugal. Neste nosso tempo de vaidades de cordel e exibição de griffes de duvidosa categoria, nada temos que se lhe compare, até porque a Ilustração dedicava especial atenção aos assuntos nacionais, fossem eles a vida da corte, os progressos materiais na indústria, comércio e agricultura, as artes e evidentemente, a moda e a "vida social e elegante". 

 

Curiosa é também a imensa capacidade camaleónica de adaptação às bruscas mudanças de regime, ou aos senhores do momento da publicação: se hoje enaltecem-se as figuras e virtudes de D Carlos, D. Manuel II ou a azáfama benemérita da rainha D. Amélia, no número seguinte exalta-se a golpada republicana, o ajuste de contas com o regime deposto e tecem--se inesperadas justificações à caça dos padres, ao seu despojamento ou à violência exercida sobre a generalidade das ordens religiosas. Anos mais tarde, Sidónio surge como um meteoro e é alçado à categoria de Redentor da Pátria, para pouco após cair fulminado por balas cunhadas na mesma forja do ódio sectário do prp, ser exautorado como "ditador", indiciando o regresso da prepotência e medo incutido pela chamada "república velha". A subserviência e lambugem aos "senhores doutores", aos "homens impolutos e bons", apenas tem como reflexo a total ausência de rigor na análise dos eventos políticos aquèm e além fronteiras.

 

Ao longo dos números, vamos deparando com algumas reportagens que a distância temporal tornou caricatas. Esta que aqui se reproduz, é susceptível de algumas gargalhadas e consiste numa paródia da situação ridícula a que o país se resignara, com nomeações de obscuros e efémeros  governos, sob o mando de criaturas bizarras que os ditirambos dispensados pela Ilustração às "excelências", não conseguiam esconder: Portugal vivia autenticamente, uma sangrenta e tragicómica aventura de Tintim.  Deleitem-se com as fotos, com o texto e porque não?, com o próprio cabeçalho da reportagem. Únicos...

 

* "Causou a mais profunda das impressões a morte do presidente do ministério, coronel António Maria Batista. Patriota devotado, republicano sem mácula, combatente da África e da Flandres, militar corajoso e distinto, a sua perda enlutou a sociedade de que ele era brilhantíssimo ornamento. À hora a que escrevemos estas linhas magoadas, está saindo o seu enterro, imponente e extraordinária manifestação de pesar".

 

O textozinho é simplesmente delicioso, desde as considerações ao Alexandre Magno de quem jamais alguém ouviu falar, até ao sarcasmo  conferido-lhe a categoria de "ornamento brilhantíssimo da sociedade".  Que maravilha!

publicado às 14:00






Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas