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Neste 10 de Junho...

por Nuno Castelo-Branco, em 10.06.16

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...não falarei de bandeiras do passado, nem dos vários Camões idealizados ou de antepassados que hipoteticamente estejam na dimensão metafísica em que estiverem, para Portugal talvez olhem decepcionados por nestes tempos tudo aparentemente se reduzir a uma equipa de futebol colocada no centro das atenções gerais, cumprindo-se assim a trilogia deixada pelo reconhecidamente genial António Ferro: Fado, Futebol e Fátima. É mentira? Olhem à vossa volta e concluam acerca da justeza da tríade. Mudam-se os regimes e os nomes, mas no fundo, naquele subconsciente colectivo, o essencial permanece. 

Há quem mereça um simples reconhecimento apenas pelo exercício de um serviço, neste caso, uma equipa de profissionais das mais diversas categorias.

O antigo Hospital do Ultramar, unidade fundada em 1902 por iniciativa de D. Carlos I, continua como desde sempre situado nas imediações da Cordoaria, logo, naquele antigo fora de portas que garantia uma certa distância relativa ao bulício de uma capital outrora mais fartamente povoada de gentes e atreita às várias pestes que durante séculos a assolaram. É um sucessor do lazareto em que os recentemente chegados do vasto, supostamente tórrido e misterioso sul que a por vezes a demasiadamente fértil imaginação popular garantia como incubador de febres e maleitas de toda a ordem, sendo então os recém-chegados colocados numa espécie de purgatório a que se dava o nome de quarentena. O próprio imperador D. Pedro II do Brasil ali insistiu em permanecer durante o período legalmente estipulado, mostrando assim quem era. 

Durante anos, tal como aconteceu com o imponente edifício daquele que efemeramente foi o Ministério do Ultramar de que o Estado Maior das Forças Armadas também se apropriou, os meus pais colaboraram para a ampliação do conjunto de edifícios que ainda hoje formam aquele Hospital. Mensalmente era descontada uma certa quantia dos seus salários de funcionários ultramarinos, desta forma contribuíndo para um bem comum a ser utilizado por quem, de férias ou não, a Lisboa um dia talvez demandasse. Dinheiro bem utilizado, há que dizê-lo, confirmando-se assim a necessidade de um criterioso caderno de encargos nos quais os contribuintes sentissem o dever que a existência de um Estado impõe.

Visitei pela primeira vez estas instalações logo nos primeiros dias de Setembro de 1974. Acompanhado pelos pais e irmãos, tínhamos levantado as obrigatórias guias de vacinas no alto do Restelo, no então Ministério da Coordenação Interterritorial, nome mais ou menos envergonhado mas pomposo e insusceptível de enganar até os mais incautos que continuavam a chamá-lo pela sua original denominação tão vulgarizada como ainda é o Terreiro do Paço ou o Rossio.

Recebemos no Instituto de Medicina Tropical as cadernetas que ainda hoje conservamos e deste edifício contíguo ao hospital,  seguimos para as então modernas e bem arejadas instalações daquele que foi o Hospital do Ultramar, decoradas aqui e ali com motivos que faziam e nalguns locais daquele espaço ainda fazem a ligação pluricontinental de territórios sob a secular soberania dos governos de Lisboa. A verdade é quem agora visite esta unidade do SNS, ali deparará com as históricas muitas e desvairadas gentes que ironicamente continuam a dar uma certa razão de ser ao nome que ostentou até ao curioso dia 5 de Outubro de 1974: de utentes a funcionários de todas as categorias, ali circulam naturais ou descendentes de moçambicanos, angolanos, goeses, guineenses, são-tomenses, cabo-verdianos, brasileiros, timorenses e sabe-se lá de que mais plagas deste mundo.  Enfim, somos todos portugueses. 

Toda a família tem desde então e pelas mais diversas razões utilizado aquelas instalações ao longo destas quatro décadas. Os meus pais lá estiveram internados, tal como os meus irmãos ali foram operados. Eu próprio descaradamente declarei residir em Caxias, ficando então dentro da área de acção do H.E.M. A verdade é que dali retenho a melhor das impressões, pois muito para além das instalações já denotarem a necessidade de obras mais ou menos urgentes, é um hospital admiravelmente equipado com todo o tipo de moderna maquinaria de assistência a quem lá forçosamente tenha de ir, como, sobretudo, de uma plêiade de trabalhadores, todos eles relativamente anónimos e alheios às televisões e que é inexcedível em competência e dedicação: médicos, pessoal de enfermagem e auxiliares - não esquecendo aqueles que praticamente são invisíveis como os analistas e tantos outros cuja existência desconhecemos -, o contingente de trabalhadoras das limpezas, todos eles formam uma abnegada equipa. O hospital rebaptizado de Egas Moniz - e muito justamente, pois a personalidade desempenhou não apenas as hoje geralmente ignoradas funções de político em relativo part-time, relevando-se sobretudo na memória popular a figura de médico e Prémio Nobel -, funciona como um conjunto, onde cada um cumpre a sua função.

Médicos competentes. Enfermeiros competentes. Pessoal auxiliar competente e as instalações escrupulosamente asseadas, é o que qualquer um que ali, por uma ou outra razão tenha de se instalar por uns tempos, verificará por experiência própria. Balelas político-eleitorais esquecidas numa qualquer valeta da memória, aparentemente no H.E.M. nada falha: rotineira mudança quotidiana da roupa de cama, distribuição de pijamas lavados todos os dias, alimentação abundante - bem confeccionada, variada e adequada a cada paciente - medicamentos ministrados a horas, a vigilância constante sobre os involuntários e circunstanciais internados. Vinte e poucos dias e tudo isto com um custo que os mais desmiolados ainda ousam declarar como exorbitante: uma marginal taxinha moderadora, mais ou menos equivalente ao preço de um repasto num restaurante vulgar.

Apenas verifiquei duas zonas nebulosas onde existem falhas: em utentes que tudo consideram como direito adquirido e alguns deles abusivamente grosseiros e prepotentes, para não dizer pior, em relação ao pessoal feminino que consideram estar ao seu inteiro dispor, ousando aqueles aventurarem-se em dichotes dignos da mais refinada tasca.. 

O outro sector que falha? Quando há sensivelmente um ano de lá saí e me desloquei de imediato às instalações da gestão hospital, deparei com uma funcionária sentada diante de um computador. Dizendo ao que vinha, solicitei-lhe o livro de reclamações, sublinhando que ali ia, não para protestar por qualquer razão que só ao diabo diria respeito, mas para escrever um louvor à eficiência e extraordinária gentileza da equipa que mantém o Hospital Egas Moniz em pleno funcionamento.

O livro estava mesmo ao seu alcance, mas durante perto de vinte minutos a senhora permaneceu calmamente sentada e de costas voltadas, teclando sei eu lá o quê.   

Percebendo o que estava em causa, da saleta saí, talvez desta forma evitando-lhe "timacas e milandos" ou salvando o seu posto de trabalho. Seria impossível agradecer tudo o que por mim tinham feito, sem deixar como nota de rodapé a aparente falta de eficácia do sector da burocracia, por feliz acaso, o menos importante.

Pouco importa, bem sei que quem de mim tratou sabe que nem todos são ingratos.

É este o 10 de Junho que também interessa comemorar, recordando aquele dizer do meu pai: "foram os impostos mais úteis que paguei em toda a minha vida"

publicado às 00:59

Foge cão!

por Nuno Resende, em 11.06.15

Lamego é uma cidade muito bonita. Tive a honra de a habitar durante cerca de 2 anos e de já há quase 20 anos trabalhar com e sobre o seu património. Não vou discorrer sobre a natureza das suas gentes, como faziam os panegiristas do Estado Novo, para quem a mulher e o homem do interior, na sua aparente bonomia, suscitavam elogios paternalistas dos próceres e intelectuais daquele regime enquanto modelos da nação pobre mas honrada.
Contudo, não posso deixar de assinalar a resistência deste paternalismo nos políticos de hoje, nomeadamente na figura do Senhor Presidente da República, que no seu discurso do 10 de Junho, dirigido em Lamego ao país e a muitos lamecenses, se referiu à «experiência destas terras do interior» como uma «lição para o país». Já não saliento, sequer, a forma distante, desapegada e quase depreciativa com que o nosso Chefe de Estado se dirigiu à região que o acolheu, mas à permanência daquele tópico saudosista do Estado Novo sobre a força e a honradez das gentes do interior. Aquelas gentes, daquelas terras, por oposição a um litoral (leia-se capital) ilustrado(a) e culto(a).
Fez-me pena o discurso e pena a reacção dos ouvintes e participantes. Pena pela incapacidade de um homem fazer-se líder inquestionável de um país democrático e democrata que, não puxando pelos seus galões patrióticos, já deu gente bem mais capaz; e pena por cada um dos que, em Lamego do dia 10 de Junho de 2015 ouviram e bateram palmas a um discurso que os diminuía ao tamanho de um rato.
Durante a monarquia constitucional ouvia-se e lia-se a crítica às benesses, mercês, títulos e comendas distribuídos, segundo os mais republicanos, a torto e direito, sem justificação e ou pena pelo erário público que as premiava a tença.
A República Portuguesa através do seu presidente distribuiu hoje comendas e medalhas, também sem justificação aparente em alguns casos, e recebe o silêncio de uns e palmas de outros.
Parece que antes de 1910 queria fazer-se crer a opinião pública que até os cães que recebiam as mercês. Hoje que os cães já são quase gente, quem as recebe?

publicado às 15:17

Viva o 10 de Junho e a Restauração?

por Nuno Resende, em 12.06.14

 

 

Estive recentemente em Castelo Branco. Cidade do interior sobre a qual tinha vaga e longínqua impressão não muito distante da Guarda onde a presidência da república foi já por duas vezes comemorar o dia de Portugal. Fui e gostei. A mesma luz raiana das cidades da estremadura o vagaroso tempo dolente estimulado pelo clima agreste e serenado por alamadas frondosas. À parte uns arremedos progressistas, fruto da mentalidade «autarquista» que nos anos 1980-90 semeou o país de mamarrachos, rotundas e vielas asfaltadas, Castelo Branco parece uma cidade congelada na década de 1970. Dir-se-ia que à primavera marcelista não houve verão quente da urbanização. E assim, dolente como o calor que se fazia sentir, percorri as ruas de uma cidade repartida entre o traçado medieval e a expressão de um vago progresso estado novista.


Mas o que realmente me chamou a atenção em Castelo Branco, para além do facto de ser a pátria do grande Amado Lusitano, foi um par de estruturas ligadas à arte. Nâo me refiro ao recém inaugurado Centro de Cultura Contemporânea (a designação é feliz, pois farta já a denominação museu) que se impõe mais como objecto do que como edifício. De resto, este tipo de empreendimento ganharia muto mais em assumir-se como obra de arte e menos como repositório da mesma. Note-se que nem cheguei a entrar naquela inusitada estrutura por lhe não encontrar a porta de acesso. Foi melhor assim. O que primeiro me chamou a atenção foi realmente o Museu Cargaleiro.


Oculto no velho traçado medievo o conjunto de espaços ocupados pelo museu acaba por impor-se como um dos locais a não perder na cidade. Sempre me fascinou a obra de Cargaleiro pela capacidade de criar a partir da cultura portuguesa, um género artístico legível fora das nossas portas. Desde sempre me deliciei com as estações de metro de Lisboa, onde a cor, palavras e as figuras de Manuel Cargaleiro entretêm na monotonia e no ramram da viagem mecânica.


Fui a Castelo Branco, sem pensar em Cargaleiro e isso perturbou-me à medida que percorria as salas do museu. Como é possível que nós portugueses, acorramos a Amsterdão, Paris, Madrid e Londres para apreciarmos grandes nomes internacionais e não sejamos capazes de propositadamente vencermos a interioridade nacional para procurarmos a obra de Cargaleiro? Aliás, como é possível que o Museu Nacional de Arte Antiga ceda à pressão de alugar parte do protagonismo do Prado num tempo em que uma viagem low cost Porto-Madrid ou Lisboa-Madrid custa menos que um bilhete de comboio e uma entrada na exposição e que, como museu nacional, não se preocupe em promover ou descobrir novos ou velhos talentos da arte portuguesa?


Esta distância entre o que temos e o quanto dependemos dos outros não é uma questão de orçamentos de estado, empréstimos externos ou servilismo partidário. É hábito.

 

E quando se fala na necessidade de criar riqueza, geralmente esquece-se que estamos a matar a galinha dos ovos de ouro: a criatividade. Não é por acaso que criar e criatividade têm a mesma raíz. Continuamos a recursar a capacidade de nos renovamos criativamente com o que temos, como o fizeram e fazem António Nobre, Forjaz Sampaio, António Variações, Carlos Paião, Agostinho da Silva, Paula Rêgo, João César Monteiro, João Botelho e outros tantos a quem o destino (fado) português rejeitou no imediato.


Renovar-se e recriar-se não é o mesmo que pintar galos de barcelos com os tons do arco-íris ou fazer esculturas com tachos de alumínio ou rendas de croché - isso não é recriação, nem talento, tão-só e apenas laivos de imaginação e oportunismo.


Reinventar a cultura portuguesa, para o que de resto já contribui em parte da nossa geração modernista é, em primeiro lugar, entendê-la, depois absorvê-la e finalmente apresentá-la numa leitura universal que nunca pode ser a-histórica. O nosso presente é o nosso passado e é impossível fugir-lhe.


Quando aprendermos a gostar de nós, pode ser que o novo Brasil ou esteja em Castelo Branco. Sem grandes discursos ou comendas. Infelizmente para isso não é só regime que precisa de mudar, são os homens que o gerem.

P.S. Terão reparado com certeza que tendo referido um par de estruturas, apenas me referi a uma, o Museu Cargaleiro. A outra é o belíssimo jardim do Paço Episcopal, sinal de tempos em que Portugal não tinha interior, nem litoral. Apenas centros culturais de gente com bom gosto e visão.

publicado às 19:10

Cavaco, desmaios e factos políticos

por John Wolf, em 11.06.14

Antes que me acusem de ser insensível, desumano e uma pessoa desprovida de sentimentos de empatia para com o próximo, permitam-me a seguinte defesa preventiva: não fico feliz com o sofrimento de seja quem for - presidente da república ou não. Mas o que está em causa é determinar se estamos na presença de um facto político. Nesta casa (no blog Estado Sentido) existem especialistas muito mais avisados do que eu que podem auxiliar na explicação que decorre desse conceito de ciência política. De acordo com muitos autores, qualquer evento que envolva um orgão de soberania (ou uma figura de Estado) preenche os requisitos de facto político desde que seja passível de causar efeitos políticos. A queda de uma cadeira (Salazar) ou o engasgar (W. Bush) podem ser entendidos enquanto factos políticos. No primeiro caso, esse acontecimento do foro privado teve implicações na mudança de um regime de um país. No segundo exercício não passou de um caso de bola (sim, W. Bush estava a assistir a um jogo de futebol e atravessou o petisco na garganta). O que deve ser trazido à discussão, sem falsos sentimentalismos e um sentido de ética duvidoso, reporta-se ao estado-geral de saúde do chefe de Estado. Nessa medida, e desejando que tenha recuperado bem da indisposição que sentiu nas comemorações do dia de Portugal, será legítimo, que num estado de direito democrático, os cidadãos coloquem as questões que entenderem sobre o estado de saúde dos lideres que conduzem os destinos do país. Não me parece extravagante que os eleitores queiram saber com quem podem contar ou não na prossecução dos objectivos nacionais. Ontem (e provavelmente ainda hoje e nos dias que se seguem), vozes críticas se fizeram ouvir, invocando que o que sucedeu na cidade da Guarda não passou de um episódio natural, normal. Pode ser que assim seja, mas um presidente da república exige mais atenção do que os restantes no que diz respeito aos seus movimentos políticos ascendentes ou descendentes. Concentremo-nos nos factos e deixemos o ruído de fora da discussão. Estarei a ser desrespeitoso para com o presidente?

publicado às 19:37

Querem comparar?

por Nuno Castelo-Branco, em 10.06.14

 

Desolador, o espectáculo esta manhã oferecido na inventada data nacional. Naquele terreno baldio, se excluirmos a apresentação das forças em uniforme de combate, tudo o mais foi de uma confrangedora miséria. Os oficiais de terra em fatinho cinza-rato, facilmente identificável com o dos antigos guardas nocturnos. Seguiam-se os da Força Aérea em similar vestimenta azul, bem própria para uma empresa de segurança de parques de estacionamento. Os terrestres e os aéreos de gravata, artefacto muito prático e de marcial balcão de atendimento. Salva-se a Marinha de colarinho fechado, mantendo a tradição e confundindo-se com as suas congéneres estrangeiras. Um alívio. 

Uma reportagem miserável, cheia de choros orçamentais e onde a entrevistadora facilmente soltou a língua dos representantes dos três ramos das F.A. Desta forma, ficámos a saber que a FAP faz a vez do Instituto de Socorro a Náufragos e que o Exército não passa de um ramo dos Bombeiros. Chachál conversa enquanto os militares tentavam movimentar-se em modo de marcha, coisa absolutamente diferente daquilo que há precisamente quarenta e um anos se via desfilando na Avenida D. Luís I, em Lourenço Marques. Não é a mesma gente e nem de longe são as mesmas Forças Armadas.

 

Quanto à esperada bagunça promovida pelos mesmos de sempre e com o bem visível não-professor que comanda a Frenprof, apenas uma questão: existindo a plena liberdade de expressão e de reunião, não é este último direito devidamente regulado pela Lei que exige um aviso de concentração e consequente autorização? Pois não parece que os senhores da CGTP-PC se tenham minimamente ralado com essas ninharias burocráticas. Também não parece que alguns militares e polícias bem visíveis durante o ultraje, algo tivessem feito para repor a compostura.

 

Uma "parada" cheia de barraquinhas de plástico. Música inaudível (1), péssimos uniformes (2), más e muito descoordenadas marchas (3), gritaria infernal e conversa televisiva constante, eis o espectáculo que bem representa aquilo que a República Portuguesa é e jamais deixará de ser.

 

É claro que nenhuma das nossas excelsas autoridades quererá aprender algo com aquilo que rotineiramente se passa em Madrid. Não querem nem podem. Espanha é uma Monarquia e apesar de todas as dificuldades, contradições e quezílias, uma Monarquia sempre será uma Monarquia. Nada de confusões, até porque hoje, ao pronunciar a palavra ...republicanas, o Sr. Cavaco Silva ficou visivelmente indisposto. Nós também.  

 

(1) Aprendam com os alemães

(2) Contratem um estilista militar chinês

(3) Contratem alguns instrutores do exército russo

publicado às 19:05

Sintomas da débâcle (2)

por João Pinto Bastos, em 12.06.13

1) A trajectória de subida das obrigações do Tesouro português voltou à carga. A responsabilidade deve ser repartida, mas há nestes dados periclitantes um sinal claro, por parte dos investidores internacionais, de que o clima de bonança propagado pela bazooka do BCE está a terminar. Os desentendimentos no seio da troika, a relutância alemã em aprofundar a união bancária, e a derrapagem económica dos países de "programa" ajudarão, também, à consecução definitiva do desastre anunciado.

 

2) Dilma e Passos reafirmam o aborto acordográfico para 2015. E a sociedade civil portuguesa? Ficará impávida e serena a assistir à destruição da língua a golpes decretistas de gente que não sabe ler nem escrever? Sim, o problema é mesmo esse. Este aborto político só avança porque 1) somos governados por pechisbeques iletrados, 2) a cidadania (?) é um amontoado de indivíduos anestesiados pelo próximo episódio do Big Brother Vip. Como é bom de ver a problemática da língua é um assunto alienígena para esta gente. É penoso observar o soçobrar lento e inexorável do país.

 

3) O 10 de Junho, na sua imensa profusão de inanidades, é o retrato fiel do ocaso desta III República. Uma data que, no fundo, concita o que de pior há no palavrório regimental. Muita empáfia e pouca lisura. Longe vão os tempos em que uma data deste calibre recebia discursos de um Jorge de Sena. Outros tempos, de facto. É, pois, difícil augurar o que quer que seja de um país governado por gente deste jaez. Nunca como hoje foi tão verdadeira a asserção de Rodrigo da Fonseca de que viver entre brutos é muito triste. Portugal é assim. 

publicado às 00:37

Chegámos a isto...

por Pedro Quartin Graça, em 11.06.13

Governo precisou de protecção da polícia espanhola no 10 de Junho

publicado às 15:34

Cavaco, o "repovoador"

por Nuno Castelo-Branco, em 10.06.11

Disse hoje ser imperioso um "repovoamento agrário do interior". Bem esquecido dos tempos em que era o 1º Ministro do governo que seguiu fielmente os interesses da agricultura dos mais poderosos Estados da então CEE, agora pretende o regresso de portugueses à lavra da terra. Saberá o Sr. Cavaco Silva que esta não é uma profissão de oportunidades sacadas em três anos de frequência de salas de aula? Afinal, para que serviu o abandono de quintas ou de grandes, médias e pequenas explorações agrícolas? De que serviram os loteamentos de terra arável que para sempre desapareceram sobre camadas de betão? Onde estão os centros distribuidores de produtos agrícolas portugueses? Saberá o Sr. Cavaco Silva que na Estrada Nacional que liga Lisboa a Leiria, é possível comprarmos sacas de 20 quilos de batatas a sete Euros? Batatas grandes, bonitas, saborosas e portuguesas que não encontram compradores nas empresas distribuidoras, hoje controladas pelos estrangeiros. Dizendo batatas, também poderemos referir cenouras, couves, nabos, morangos, cerejas, maçãs, laranjas e outros produtos impossíveis de encontrar nos mercados nacionais. Estão ali, à beira da estrada e à sua espera.

 

Cavaco Silva foi o 1º Ministro dos jeeps, croissanterias, condomínios, jogatanas de bolsa, entrega das avenidas aos interesses imobiliários estrangeiros, cursos de manicura, time-shares, yuppies e outros desastres anunciados. Julga que voltar à terra é um trabalho fácil, para isso bastando uns tantos discursos? A menos que queira empunhar uma chibata e organizar uma Grande Caminhada forçada, tal coisa é serviço para duas gerações.

 

Para começar, bem pode ir preparando os seus próprios netos. 

publicado às 18:55

10 de Junho nos Jerónimos

por Nuno Castelo-Branco, em 10.06.11

 Desfilando diante de populares, alguns dos quais mostrando a Bandeira azul e branca, os militares cumpriram mais um 10 de Junho institucional. Com a presença de Cavaco Silva e do 1º Ministro cessante, o ritual foi comedido, sem grandes exibições de uma força que em boa verdade, há muito se perdeu.

 

No seu discurso o Presidente apelou à união de esforços, declarando ser este o momento preciso para se ver a alma de um povo. Hoje já se viu essa manifestação de querer e de desafronta, mas num local muito afastado das rotineiras e sempre envergonhadas celebrações oficiais. No sentido daquilo que António Barreto disse, a cerimónia do 10 de Junho que a TVI transmitiu em directo, não foi pasto de ódios políticos ou egoísmo partidário. Foi uma celebração do Portugal uno.

 

No Mosteiro dos Jerónimos realizou-se a cerimónia do 10 de Junho histórico e bem simbolicamente, a liturgia foi presidida por D. Ximenes Belo, um herói de um Portugal maior. Cercado pelos seus antigos companheiros de armas, S.A.R. o Duque de Bragança, foi o símbolo que representa este país que teimosamente quer ser independente.

 

As condecorações esta manhã vistas nos Jerónimos, não são recompensa por amizades, serviços prestados a uma causa uninominal ou prémios a fidelidades de oportunidade. São medalhas merecidas no campo de honra e sem qualquer conotação de Partido ou de regime. É este, o Portugal que mais importa.

 

Hoje tivemos Rei.

 

publicado às 13:33

O 10 de Junho em parada

por Nuno Castelo-Branco, em 10.06.09

 

Das comemorações oficiais do 10 de Junho, aqui deixamos algumas notas:

 

1. A parada.

 

Tal como estamos há muito habituados, um péssimo enquadramento do desfile. Mau cenário, pouco espaço e sobretudo, pouco público. A escassez de efectivos evidenciou-se uma vez mais, nestes tempos de contenção orçamental.

Notas positivas: a inédita apresentação  das históricas bandeiras nacionais, com relevo especial para a última, a azul e branca. Da actual, nenhuma e ainda bem, embora tivesse surgido subrepticiamente nos estandartes das unidades. Como deve ser. Os Meninos da Luz montando belíssimos cavalos brancos, bem tratados e sempre acarinhados pelo público presente.

 

O novo equipamento apresentado, com viaturas flamantes de novas, desde os Pandur aos gigantescos panzer Leopard II, deveras impressionantes. Não se prevêem avarias em público, pelo menos nos anos vindouros.

 

Um aspecto a destacar, consiste no aspecto aguerrido e bem equipado das unidades especiais das Forças Armadas, afinal, o que verdadeiramente importa. 

 

Notas negativas:  o péssimo marchar das tropas em geral - nem sequer existindo uma uniformidade no passo,   bastas vezes descoordenado - , num ritmo triste, lento, quase de aprendizes. Sugestão: contratem instrutores dos nossos "novos aliados" do leste, ou em alternativa, russos ou chineses.

 

Ausência da presença de um passado que aliás, as Forças Armadas agora comemoram. Mais exactamente, nota-se a falta de uniformes dos tempos da guerra de libertação contra Bonaparte. Faça-se essa justiça em 2010, ano da vitória. Este tipo de eventos deve ter um carácter didáctico e cívico.

 

2. A sempiterna e escusada  polítiquisse.

 

Foi evidente o mal estar existente entre alguns órgãos de soberania, destacando-se a atitude pouco correcta do actual residente de Belém, que não conseguiu esconder o seu desdém pela figura do seu primeiro-ministro, ignorando-o ostensivamente. Pelo menos, foi o que a televisão mostrou ao país e escandalizou o meu amigo, prof. Serras Gago.  No rescaldo das eleições do passado domingo, o dr. Cavaco Silva já se sente suficientemente ancho para não manifestar o mínimo sinal de cordialidade institucional que o decoro exige. Tem assim início o período de sampaízação das relações entre Belém e S. Bento.  Tudo isto diante de nós todos, a canalha, a ralé?! Vergonhoso.

 

Sabendo o que ocorre nas monarquias europeias, desde já temos a garantia que sendo rei de Portugal, D. Duarte II manteria uma perfeita relação de lealdade institucional com o seu primeiro-ministro - fosse ele quem fosse -,  pois os monarcas respeitam por regra a legalidade saída do escrutínio popular. Disto não temos qualquer dúvida ou hesitação em afirmá-lo. O tempo o demonstrará, se os portugueses assim o entenderem.

 

3. Nota final.

 

O surgimento de bandeiras nacionais azuis e brancas nas varandas de Santarém. O povo começa a deixar de ser tímido e a manifestar flagrantemente o seu patriotismo Finalmente.

 

 

publicado às 14:52






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