por Pedro Quartin Graça, em 01.10.11

Vasco Pulido Valente, Os 100 dias [no Público]:
'(...) O que não se viu ainda foi um plano de reforma coerente, claro e compreensível. Não há um plano para a reforma da administração central, não há um plano para a reforma da administração local, não há um plano para a reforma do sector empresarial do Estado, não há um plano para a reforma da Saúde. Não há um plano para nada. Os ministros cortam aqui e cortam ali, extinguem isto e aquilo ou fundem alhos com bugalhos: talvez bem, talvez mal. Infelizmente, essa grande actividade parece uma caçada aos pardais. No meio da confusão não se distingue um objectivo, um método, um propósito. Cada um atira para onde lhe dá na gana ou trata do sarilho do dia. É escusado procurar uma ordem. E o dr. Passos Coelho, com a sua suavidade e simpatia, não se explica e de quando em quando contribui mesmo para aumentar a confusão.
Os ministros, coitados, não ajudam. O ministro das Finanças, com o seu pequeno ar de contabilista melancólico, não chega a ninguém. O ministro da Economia, que escreveu um livro pedante e pueril, anunciando que, se o deixassem, iria rapidamente limpar a casa, desapareceu num mundo que ele não conhece. A sra. ministra da Justiça continua remota e misteriosa. E o sr. ministro Relvas, sem qualquer autoridade que o país reconheça, ocupa quase sozinho o palco, e gesticula e berra, provavelmente sem consequência. Em conjunto, o Governo, entre a súplica e a bravata, entre uma fé espúria no futuro da Pátria e ameaças de tragédia, não convence. Passos Coelho é um homem resoluto à procura do compromisso e da "unidade". E um homem hesitante à procura de firmeza e respeito. É muito capaz de perder pelos dois lados.'