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Uma saída nem sempre pressupõe uma entrada. E é isso que me preocupa. A ênfase colocada na saída do programa de ajustamento a 17 de Maio sem que se vislumbre uma entrada. A passagem para um território seguro, para terra firme. Sabemos muito bem que um doente crónico, a que dão alta em determinada data, fica obrigado a consultas regulares para observar se a recuperação é tendencialmente positiva. Os políticos portugueses vivem obcecados com a numerologia da retoma. Como se tudo se pudesse reduzir a níveis de taxas de juro e percentagens. Por isso o consenso em Portugal me parece improvável. Porque o mesmo se baseia na dimensão quantitativa da política, colocando à margem a dimensão moral. Não interessa muito qual a data oficial da partida da Troika. O que interessa, e muito, é a capacidade de implementar soluções que façam erguer os portugueses da sua ruína económica e social. Os tempos que se seguem (falo de anos, falo de décadas) exigirão uma grande atitude colectiva. Um esforço acrescido para que cada português, filiado ou não, faça cair por terra a pequena política, a mentalidade de quintal. O que diz Cavaco não é totalmente desprovido de verdade e o que diz Belmiro peca por comparar alhos com bugalhos. Não sei de que modo o país se pode reinventar se insiste nos rancores e na ideologia de bancada que apenas serviram enquanto elementos fracturantes da sociedade portuguesa. A revolução cultural que Portugal necessitaria tarda em acontecer. A dinâmica de pensamento capaz de questionar as grandes estruturas, a matriz condicionadora dos processos, não está a acontecer. Nessa medida, o caso português apresenta-se-me como particularmente bicudo. Persiste na consciência colectiva um certo saudosismo por um modelo económico e social que já demonstrou a sua insuficiência. E todos sabemos que em equipa que não funciona, deve-se mexer...e muito.