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Do alto dos meus 39 graus de febre ainda consigo ver Portugal e em particular o ano de 2014. Estamos de parabéns e é Natal. Este ano ficará na história desta valente e imortal nação por ter quebrado o feitiço da intangibilidade. Temos a prova de que a Justiça é capaz de apanhar ex-lideres sem acanhamentos ou reverências. O que tem de ser tem muita força. Coloquemos José Sócrates no topo, mas acrescentemos outras missões investigativas. Mas o povo português é estranho e justifica a expressão proverbial: preso por ter cão, preso por não ter cão. Quando não havia resultados na Justiça no que dizia respeito aos "grandes de costas largas", ouvia-se o coro dos oprimidos, a voz do mexilhão habituado a receber as sobras do tratamento justo e equitativo. Agora que é a doer para com um ex-primeiro ministro reclamam por chavões como segredo de justiça e presunção de inocência. Dizem que não passa de política, mas estão enganados. José Sócrates já não é uma divisa, não serve para apostas partidárias. Queimou-se, e embora os efeitos colaterais queiram ser dirimidos, mitigados, a verdade é que haverá consequências e não apenas para o Partido Socialista, mas para a totalidade da estrutura do poder político de Portugal. Nestas questões não há refúgios ideológicos. Os prevaricadores andam por aí, e vêm em todas as cores e feitios. Que 2015 chegue com a mesma pujança jurídica que vinha sendo adiada de há muitos anos a esta parte.
Reflecti muito antes de começar a escrever este post.
Nasci numa pequena vila onde era desejável brincar na rua e ganhar anticorpos a tudo - incluindo aos demais habitantes, metade dos quais possuía o seu próprio negócio e chamava útil ao útil, e fútil ao fútil.
Situada num país que não importava vinte marcas diferentes de shampoo para cão, e cuja população se encontrava sã, à data em que o meu tempo era gasto a colher viçosas maçãs, que nunca viriam a ser etiquetadas; a minha terra natal respirava saúde, e exalava aquele tipo de riqueza que os comunistas do PREC jamais viriam a reconhecer: ignorando a adversidade e os eventos à escala menor, cada um fazia pela mudança para melhor mediante actos próprios, sem estender a mão à migalha alheia nem atender a directrizes dimanadas de grémios saramaguenses, vascais e cunhalistas que infestavam a mente e a alma em todas as frequências.
Agora, que já sou pai há quase duas décadas, muito vi, mais fiz e por isso mesmo tenho noção da nossa (minha, vossa, deles, do país, da espécie) pequenez, começam a sobrar-me horas dentro dos anos que escasseiam, e sinto que ao menos desta vez, estarei a cometer uma traição aos meus princípios de coerência, esperança e objectividade se me abstiver de votar nestas eleições que se avizinham.
Porque a minha responsabilidade não se extingue com o término do meu exercício biológico, e algo persiste após o meu eventual sumiço que é preciso acautelar, honrar e prevenir. Talvez por isto eu preferisse ter nascido, e dado ao meu filho a hipótese de ter nascido, numa nação a sério, povoada na sua maioria por pessoas e não por autómatos deslumbráveis, ainda que tal implicasse não nascer numa pequena vila onde a rua ensinasse tanto ou mais do que os adultos. Da mesma forma que preferiria, já que me é imposto um contrato social que não pedi e que não posso unilateralmente denunciar sob pena de encarceramento às mãos do maior tirano de todos, o Estado, poder votar em partidos ditos estrangeiros, e não no menos mau dos medíocres que por cá campeiam. Se assim fosse, o UKIP e Nigel Farage colheriam certamente o meu voto.
Já ouço a turba a carregar mentalmente no botão para mudar de canal, mas concedam-me só mais vinte ou trinta linhas. Isto tem um twist.
A Europa onde vivemos e os problemas que dela fazem um veneno para os nossos filhos podem ser sumarizados em quatro slides.
1. Distopia
imagem: representantes de instituições europeias
Estas pessoas, impantes de si, nunca foram e provavelmente jamais seriam eleitas para os cargos que exercem e pelos quais são regiamente pagos, vivendo como nababos cada vez mais afastados da realidade, passando leis que germinam a partir dos ditames pueris e totalitários a que aderiam em jovens, enquanto cresciam longe da minha vila. O mérito, a honra, e a consequência são conceitos alienígenas para esta gente. Não os quero. Querei-los?
2. Apatia
imagem: festival Eurovisão da canção, 2014
Com o governo de António Guterres deu-se o advento de um socialismo mais basilar, transversal, na sociedade portuguesa. As escolas deixaram de empregar professores com o fito de formar cidadãos produtivos, e passaram a albergar pedagogos, didactas, psicólogos, e uma pluralidade de inúteis sem rumo nem tino cujas duas únicas funções se resumiriam a "igualizar crianças e jovens de valências diferentes num mundo globalizado em mudança", e assegurar que todas as células na folha de Excel enviada a Bruxelas comportariam os valores ""corretos"". Duplas aspas, por causa do acordo ortográfico. Crianças, jovens, e jovens pais adestrados na tabula rasa da igualdade à força resultam em homúnculos apáticos, envelhecidos cedo demais, arrebanháveis com um mínimo de esforço e máxima eficiência energética pelos novos Senhores.
3. Demografia
imagem: contribuinte-modelo conforme proposto pela Comissão Europeia, 2014
imagem: cidadã portuguesa com a sua prole, Lisboa, 2014
Abster-me-ei de sobrecarregar este tópico com comentários, pois retenho ainda um brioso resquício de confiança nos meus conhecimentos de estatística, e segundo estimo a imbecilidade, embora desabrida, ainda não se enraizou tanto que seja preciso escrever quaisquer palavras acerca do massacre planeado em curso que reduzirá Portugal a um deserto silencioso, entaipado e triste antes ainda que os nossos filhos tenham filhos.
4. Terrorismo institucional e destruição sistemática da identidade portuguesa
Exemplo 1, Exemplo 2, Exemplo 3, Exemplo 4, Exemplo 5
De todas as situações acima elencadas, é quase instintivamente imediato perceber o elemento que sobressai: nada disto é normal, nem muito menos necessário, mas vem sendo paulatinamente imposto em complemento à restante anestesia que vim, abusando da vossa paciência, aqui expondo.
Percorremos um longo caminho desde que os nossos bisavós andavam descalços em aldeias minúsculas e remotas, nos enclaves de onde ainda hoje se foge ao escutar o anelo que nos enche o coração de deslumbramento e promessas cintilantes. Mas foi ainda mais extenso, árduo e ameaçador o percurso que fizemos enquanto raça, quando de arborícolas e cavernícolas decidimos sair, sem que para tal pesasse decreto algum oriundo de cima que não a nossa própria Natureza tal como Deus no-la quis dar.
E sair saímos, e aqui chegámos, e a maravilha que é hoje a Humanidade é fruto, não das aspirações arrogantes e desadequadas dos burocratas que elevaram os Estados ao trono que só admite Um ocupante, mas do esforço individual, livre, ousado, e muitas vezes infrutífero, outras tantas glorioso, de cada um. Não de um "nós" artificial e congeminado por mentes retorcidas, não "deles" que brandem a letra da lei com a displicência discricionária de quem nunca conheceu o temor estomacal conexo com decisões de vida ou morte, de riqueza ou pobreza.
O mérito é do indivíduo, desse ente apóstata cuja expressão um Ocidente cada vez mais tíbio e totalitário procura demonizar. Da palavra que deve ser defendida a expensas da nossa própria vida: ego.
Antes que me esqueça. Votarei no partido mais euro-céptico que encontrar, nem que tenha de ser no do doutor Garcia Pereira.
Divirtam-se na praia.
Portugal está de luto. Uma das suas quinas bateu as asas e rumou ao firmamento de outro imaginário. Na narrativa mítica que conta a história de Portugal, Eusébio era sem dúvida uma das suas figuras. Um dos deuses que viveu para além do regime do futebol para representar algo maior que o desporto-rei. A sua coroação mundial serviu também para expressar a voz da africanidade, tantas vezes preterida pelas centralidades europeias, pelos impérios que apenas nasceram com a Conferência de Berlim de 1884-85. Eusébio, provém, nessa iconografia, da epopeia dos Descobrimentos, da luz aberta pelos caminhos marítimos desbravados por Vasco da Gama, das colónias que se lhes sucederam. Sobreviveu à política como se esta não existisse, como se o poder fosse absoluto, apenas seu. No tridente da etno-folcloridade portuguesa, Eusébio, tal como Amália, confunde-se com um Portugal extemporâneo, orgulhoso, mas não menos valioso. A alegada elite intelectual portuguesa não encontra modo de demarcar-se do círculo do velório e da homenagem que um país inteiro lhe presta. Como se apenas a literacia merecesse o estatuto da imortalidade, cantada e declamada na edição de uma estrofe camoniana. Os heróis, não são aqueles seleccionados pela falsa estirpe de um iluminismo bronco, uma ala carregada de tiques de superioridade. O luto que converge para a mesma baliza, demonstra que os afectos comandam a vida, que Portugal é sentimental na hora certa, na hora errada - no momento justo. Que descanse em paz Eusébio.
O primeiro post do ano é uma coisa tramada. Mais logo Cavaco Silva também será confrontado com um dilema existencial: que mensagem de "amo novo" deve ser veículada aos portugueses? Se for excessivamente optimista muitos dirão que a disciplina social-democrata contagiou a sua "alegada" isenção, e que está descaradamente alinhado com o governo (eu sei, já deu mostras das suas preferências do modo como colocou o Tribunal Constitucional ao serviço da nação). Se apresentar um quadro escuro, mais negativo que positivo, estará a demarcar-se da possível falência do executivo que anunciou a retoma como sendo firme e inquestionável, e estará desse modo a dar um empurrão a Seguro e companhia. Por essa razão o discurso de Cavaco Silva será intencionalmente um produto híbrido e pouco esclarecedor. Igual a si. Um político de carreira, mas sem coragem política para criar dinâmicas de transformação. Ou seja, sem o desejar, o que sair da sua boca também se adequa ao nível de incerteza reinante, às dúvidas internas (e às europeias) e ao seu perfil político. Há tantas variáveis a ter em conta neste ano "sabático" (sabático por ainda não ser a doer como será o ano de 2015 com as legislativas). As eleições europeias vão agitar as águas e já começaram a criar comichão (já houve uns arrufos entre a Edite Estrela e o Nuno Melo em 2013, sobre currículos e a importância de se ser celebridade ou não no Parlamento Europeu). Depois temos o teste de regresso aos mercados com a emissão de dívida em Março, que marcará o nível da boia financeira ou do afogamento económico do país. O resgate ou não, suceder-se-á, pelo que uma fórmula será decerto inventada para que ninguém perca a face - quer a Troika, quer o governo da república. Um novo termo financeiro e económico será inventado. Medidas cautelares, intervenção, medidas complementares ao orçamento de Estado, resgate ou salvamento migrarão para num novo conceito operacional, uma nova "palavra do ano" que envolverá, na minha opinião, e lamentavelmente, um peso acrescido sobre os ombros dos contribuintes portugueses. Esse facto fiscal, incontornável de acordo com os proponentes, será aproveitado por Seguro para continuar a bater na mesma tecla de desagrado e a avançar com promessas infundadas de salvamento material e ideológico da nação. Seguro apenas passará a "falar" verdade se o quadro da centralidade europeia for alterado de um modo substantivo, se Draghi e companhia enveredarem por verdadeiras medidas de estímulo da economia, mas infelizmente, o caminho parece ser de abandono de taxas de juro de referência baixas. O que acontecer em Portugal, irá, nessa medida, depender de um novo alinhamento da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu, que devem começar a percepcionar o FMI de um modo cauteloso, uma vez que o fosso que separa a Europa dos EUA se está a aprofundar. Os EUA estimam um crescimento na ordem dos 3% para 2014. O FMI também é um braço armado da política económica e financeira dos EUA, mas os europeus parecem ser lentos na apreciação desse facto. Tomam-no como amigo inquestionável. Quanto às outras forças chamadas de Esquerda, como o Bloco de Esquerda, o prospectivo partido de Rui Tavares e a CGTP de Arménio Carlos, parece que não se entenderão com facilidade e irão permanecer de pé atrás para tentar perceber que alinhamentos são possíveis ou mais vantajosos para os seus intentos. Não me parece que uma nova coligação à Merkel seja possível em Portugal em 2015. Não faz parte da cultura local as cedências em nome do interesse nacional. Os partidos em Portugal são como os adeptos de futebol que matam e esfolam pelos seus clubes, mas que nem por isso apreciam a bola. Assim sendo, e lá para 2015, um governo de retalhos com participantes do CDS, PS, PSD e da Esquerda não me parece exequível. Enfim, não esperem pela luz com a mensagem de ano novo de Cavaco Silva, mas ela corresponderá em larga medida ao que Portugal é e ao que teima em preservar.
O Facebook sugere-me que veja o meu ano de 2013 em revista. Eu passo, porque não preciso de ver em revista um ano que está e estará, mais do que qualquer outro, presente na minha mente. 2013 foi um ano lixado que se iniciou com a denúncia pública a respeito do funcionamento da FCT no concernente à atribuição de bolsas de doutoramento, luta que continuou com o recurso ao crowdfunding para poder financiar o doutoramento. E se, nesse mês de Janeiro, consegui aliviar a revolta que sentia, se até agora tenho ficado verdadeiramente sensibilizado com a generosidade dos que me têm ajudado nesta campanha de crowdfunding, e se tive também a sorte de sair de uma situação de emprego precário e temporário para um emprego na minha área de estudos nos primeiros meses do ano, não consigo, todavia, de deixar de pensar que 2013 foi o ano que fez ascender, sem aviso, o meu pai e o meu avô paterno à essência, que me revelou a verdadeira face de muitos dos que me rodeiam/rodeavam, para o bem e para o mal, e que, já mesmo no seu término, ainda me conseguiu fazer ter um acidente em casa que me obrigou a ser operado a uma mão há cerca de duas semanas e cuja recuperação se dará ao longo de todo o próximo ano.
No meio de tudo isto, há que continuar em frente tendo em consideração que, como dizia Chesterton, devemos rir-nos em face da tragédia, já que pouco mais podemos fazer. Mas se é verdade que as dificuldades moldam o nosso carácter e que a forma como as enfrentamos nos definem, também não deixa de ser verdade que este ano teria sido bem mais complicado se o tivesse enfrentado sozinho. No balanço entre coisas boas e más com que Universo me decidiu presentear, tive a felicidade de conhecer a Ana Rodrigues Bidarra, um dos melhores acontecimentos da minha vida, uma das melhores pessoas que já conheci e com quem espero passar o restante tempo que por cá andar. Sem ti, Aninha, seria bem mais difícil olhar para as coisas boas da vida neste ano e a vontade de continuar a olhar em frente teria sido, provavelmente, obliterada. Não tenho sequer palavras para te agradecer por tudo o que tens sido, por me teres ajudado a enfrentar este ano, por me fazeres sentir especial e sortudo mesmo nos momentos mais difíceis. Só contigo compreendi, finalmente, que a verdadeira felicidade só se pode alcançar a dois. Que os anos que aí vêm sejam bem melhores, é o que desejo e o que quero prometer-te, porque tudo farei por isso.
Ora então, agora sim, e como é da praxe, termino desejando-vos boas entradas e que 2014 seja um óptimo ano.
Não existe tal coisa como a mudança que acontece com a passagem de ano. Não existe o virar de página para um mundo eminentemente novo. Não existe o balanço de algo que finda para relançar à virgindade. Não existe a tábua rasa. Vivemos aquém e além dos nossos desígnios. E nesta antecâmara onde refrigeramos o espumante da celebração, damos conta da continuidade. Não saímos dos nossos corpos, mas abandonamos uma parte das nossas convicções. Deslocamo-nos sem sair do mesmo cruzamento, onde habita um semáforo caprichoso, aberto e cerrado no mesmo instante, no embate coincidente. Em política sabemos de antemão que foram, e serão todos, vitoriosos. Que não admitem a derrota num concurso de penhoras, de expectativas e engodos, de talismãs e regressos triunfais. Em epígrafe, na margem rasurada da grande história, as assinaturas serão manchas menores, meras rubricas de um testemunho que passa pelas mãos de estafetas cansados. Os homens, os grandes, os pequenos, e aqueles que se arrastam como invertebrados, aprendem de um modo doloroso - a lição da inconveniência de um tempo prolongado, retardado, atrasado pelo destino que nunca o será. Um predestino que foi vilipendiado, assaltado por saldos de ocasião, palavras coniventes e verdades preteridas. Faça-se a lista do deve e haver, inscrevam-se nas colunas a soma e a distracção que a acompanha, e verão que a conta não passará na auditoria da consciência colectiva. Os contribuintes foram liquidados pelo depósito na falsa guarida, pela glória de um campeão que se anuncia redentor, na receita que morde a cauda do seu falso esplendor. As palavras, estas, aquelas e as demais, são um perfeito embuste que não nos servem, que não me servem. Existem como espuma bárbara de um delírio cronológico, das badaladas que ainda faltam, que servem para lançar figurantes em falsas estreias, repetidas à exaustão. Se há algo que aprendemos nestes anos que já são alguns, que já estão algures - é que os mesmos já não servem para contar. Façamos uso dessa sabedoria parcimoniosa para aceitar que nos encontramos no emaranhado de temporais. 2013 estará em 2014, e todos os anos que os antecedem e que se seguem estarão nessa volúpia que queremos amestrar para memória futura. Porque as recordações do passado não cabem na geometria de um relógio estilhaçado. Não percamos mais energia com ninharias, porque nada disto tem cabimento na simples batida de um pulso, no peito aberto vergastado pelos ventos que sopram.
Portugal não vive a sua hora da verdade. O passado ainda não se encontrou com o presente ou o futuro. Vai-se adiando o inevitável. E o intermediário do cancelamento de vontades tem um nome; chama-se tribunal constitucional, mas a conta por pagar não desaparece assim sem mais nem menos. Os 710 milhões de euros não irão cair do céu. Em vésperas de Natal, o contribuinte português acaba de receber um presente evenenado. Alguém vai ter de pagar a factura. Há quem mencione que o IVA não será poupado, mas eu acredito que um conjunto de impostos que ainda se encontra disponível será alvo de medidas austeras, de um aumento brutal. Não há outro modo de angariar o dinheiro em falta. Haver há, mas o governo não escolhe esse caminho - o trajecto de uma verdadeira reforma do Estado. A Troika também vinha preparada para mais um desaire, e já avisou que as alterações estruturais que o país exige, estender-se-ão ao longo dos próximos 15 anos. O PS, que pouco a pouco vai percebendo que também estará sujeito aos mesmos condicionalismos do tribunal constitucional (embora este seja seu amigo e tenha emanado dessa cor política), decidiu entrar em acordo com o governo no que diz respeito ao IRC, porque lentamente deve efectivar a transição do lugar da "oposição" para o lugar-tenente de "governo". Este é o primeiro indício da necessidade que o PS tem em afirmar-se como potencial força de governação. Aposta, deste modo, no chavão - se não podes vencê-los, junta-te a eles. Aliás essa aproximação não é feita das extremas, de uma grande distância ideológica (o bloco central sempre esteve no poder e é o grande responsável pelo descalabro), embora o PS se sirva dessa conversa que é da Esquerda para agarrar uns quantos desfiliados do PCP e uns quantos desiludidos com o BE. Veremos em 2015 que coligação irá nascer desse momento eleitoral. O CDS já disse que pode ir a jogo sozinho (se o desejar), e a Esquerda dos 2 ou 3D ainda anda às cabeçadas para se tornar numa APU dos tempos da Internet e Facebook. Já bastava a quebra mais acentuada de salários no espaço da OCDE, para agora sermos obrigados a suportar uma mais que provável subida de impostos. Como podem constatar, isto não está fácil, e por isso até pode ser considerado ofensivo desejar um excelente ano novo. Cavaco Silva é melhor nem sequer aparecer na televisão para declamar a sua tradicional mensagem de Natal. O céu está escuro. Não há estrelas no céu.
Penso que ninguém em Portugal percebeu as boas intenções do governo. O agravamento de impostos para todos os automóveis ligeiros de passageiros não tem nada a ver com carga fiscal. Tem a ver com uma carga de trabalhos adicional. Ter carro fica simplesmente mais caro - é tão somente isso. O que significa que a mobilidade e a economia não têm um relação por aí além em Portugal (segundo os governantes) - afinal os serviços imperam na economia, e grande parte dos mesmos são tecnológicos, o que quer dizer que entram na corrente económica pela banda larga sem necessidade de deslocação de técnicos. Estou a perceber bem o raciocínio do governo ou não? Ou será que os poucos trabalhadores que ainda restam na economia nacional podem ficar em casa e desenvolver a sua actividade a partir da sala de estar? É isso? Daqui a nada, e em resultado desta medida, podem começar a pensar em desmontar as estradas de Portugal e converter estações de serviço em centros de saúde. Já estou a ver quadros superiores em protesto por serem obrigados a pensar em transportes colectivos. As carrinhas da escola - aquelas que transportam os seus filhos às escolas privadas -, podem ser aproveitadas para paragens intercalares para recolher administradores delegados e levá-los directamente ao conselho directivo, à reunião do conselho de administração. Iremos assistir ao downgrade de frotas de luxo para linhas mais económicas. Afinal Francisco Assis fez uma revelação quando travou a fundo a tentativa de lhe impingir um Clio. E de repente pensei no seguinte; que tal se resolvessem este dilema da deslocação com a concessão de um crédito àqueles que optem pela aquisição de uma auto-caravana? Resolviam de uma assentada a questão da habitação e das viaturas de serviço. O condutor, e simultaneamente gestor de produto, poderia trabalhar a partir de um parque de campismo. E se o mercado o justificasse poderia assentar arraial e escritório onde a procura fosse maior. Quanto ao motor a diesel, não sei que resposta dar. Qualquer dia o carrinho de mão será sujeito a um imposto. Cada dia em que julgo ver uma luz ao fundo do túnel, engano-me - é um semáforo e está fechado. E sabem que mais? Não vou a parte alguma, vou ficar quietinho - sem pestanejar para não ser multado pelo excesso de velocidade dos meus olhos.