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Não sou de fazer balanços do ano que se finda nem de pedir desejos para o ano que se inicia. Direi apenas que continuei e continuo a desenvolver a minha actividade académica, que em 2015 se reflectiu não apenas na redacção de boa parte da minha tese de doutoramento, como também na leitura dos vários autores que me proponho analisar no capítulo central, sobre a temática da tradição, razão e mudança. Costuma dizer-se que não é o destino que importa, mas a viagem, e esta está quase a terminar. Reservei os dias de férias de 2015 para agora, em Janeiro, terminar a tese. E isto é o que posso prometer a mim mesmo e também àqueles que têm contribuído para o crowdfunding destinado a financiar o doutoramento. Vou terminar a minha tese até 31 de Janeiro. É este o meu primeiro e mais importante objectivo em 2016.
De resto, aproveito para desejar um óptimo Ano Novo aos meus colegas de blog e aos nossos leitores.
Fiz uma promessa que não irei cumprir. Jurei que em 2015 abrandaria o meu ímpeto selvagem, a minha tendência violenta para com os afazeres do recluso 44 e os juramentos demagógicos dos socialistas. Mas intimamente sei, que mais parágrafo menos parágrafo, regressarei a essa faena, à lide da pequena política de quintal, de mexericos e dissabores. Ainda hoje tentei evitar o consumo dessa água danada, mas não me dão hipótese, vêm beber à minha mão. António Costa, assim como o rabejador Ferro Rodrigues, haviam declarado que não negociariam com o inimigo, que não assinariam acordos de regime, e que o caminho do poder seria uma rota de tudo ou nada, a solo, em absoluto. Contudo, Cavaco Silva que ontem serviu umas fatias de bolo-presidente aos portugueses, parece ter desviado Costa do seu projecto de futuro governo. A reunião de António Costa com o Partido Social Democrata deve ser entendida do seguinte modo: os socialistas sabem que não têm margem de manobra para inverter o curso de acção ou alterar a receita de governação implementada desde a chegada da Troika e o descalabro económico de 2011. Se os socialistas continuam com essa conversa de rasgar o tratado de austeridade sabem que serão ainda mais castigados pelos decisores do centro da Europa - Merkel e companhia, se quiserem. O que está a acontecer lá para os lados do Banco Central Europeu também sugere tempos atribulados, dificuldades acrescidas. Há mais de 3 anos que Mario Draghi anda a ameaçar a Zona Euro com o lançamento de quantitative easing e o espectro da deflação parece validar ainda mais essa hipótese. Ou seja, os astros não estão alinhados para sonhos cor de rosa. Antes que o caldo se entorne e o actual governo reuna ainda mais argumentos para justificar as suas decisões tributárias, os socialistas sabem que devem, o mais cedo possível, procurar alinhavar uma coligação, esboçar um partilha de poder à bloco central. Daqui por algumas semanas Évora e o seu paciente mais famoso serão meras sombras de chaparro. Há coisas bem mais importantes que irão condicionar Portugal. E infelizmente não dependem dos portugueses.
Posso afirmar, sem reservas, que não me encontro a deambular pelo marasmo da quadra natalícia. Os rituais há muito que foram assassinados, enjeitados e trocados por ritos de passagens aéreas, compras avulso, sacos que ostentam a marca visível à distância da consoada mais farta. Na minha família divorciamo-nos dessa dependência febril, da tensão inglória, supostamente tolerada em nome de uma qualquer instituição a preservar. Estamos por perto nas ocasiões que entendemos, nos momentos que requerem a sageza de um encosto que transcende a família nuclear, essa do sangue mais espesso. A agremiação, forçada pela cultura judaico-cristã sobre os sujeitos, muito pouco tem a ver com tolerância, paz e amizade. Enquanto esgotam jantares na estalagem e convertem o nascimento de Cristo em Carnaval, o promontório da técnica pagã, o fosso existencial vai sendo cavado com ainda maior insistência. E uma pequena linha de derivação é lançada para a outra margem, para o novo ano de 2015, como se este, por obra de um feitiço ou de um passe de mágica, fosse filho primogénito de um imaculado casal, virgem. Mas, lamentavelmente, assim não é. A genética civilizacional conhece a sua ascendência, e por isso somos adventistas. Somos testemunhas, mas também autores do descalabro anacrónico. A mensagem de esperança que vos irão lançar é mais um produto light, apresentado num embrulho demagógico, parco em substância de facto. Encontramo-nos na era do vazio, e a luz que vemos não serve de vela de santuário. É apenas o néon do centro comercial lá ao fundo, aberto até às 20h do dia 24 para deleite do utente cheio de vontade.