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Há datas cuja menção atemoriza o mais cauto dos ouvintes. O 28 de Maio de 1926 é uma dessas efemérides malignas. Portugal vivia então sob o signo da incompentência estridente da I República. Parte das elites do país - sim, elites e Portugal são duas coisas que não casam - decidiram, então, pôr termo ao aventureirismo retintamente ignorante da pequena burguesia republicana. Esse golpe de teatro, encimado pelos militares, redundou "a posteriori" no autoritarismo salazarista. A II República não nasceu no vácuo. As elites da altura, mundanas e ignaras, fartaram-se do ramerrão republicano, e a arraia-miúda, esfomeada e prenhe de novas ilusões, cedeu aos novos cantos de sereia dos que prometiam ordem e trabalho. O arranjo funcionou durante quatro longas décadas. Hoje, ao fim de 39 anos de democracia, o país está novamente exangue. A economia não existe, o trabalho desorganizou-se, as elites baixaram os braços, e o povo desespera. O cenário não é nada auspicioso. Sem embargo, à semelhança do que diz aqui o João Gonçalves, não creio que existam condições para uma reedição do 28 de Maio, pelo menos nos moldes em que se verificou o sobredito golpe militar. O país faliu em praticamente tudo. O pensamento escasseia e o futuro enevoou-se. Ademais, os impasses de que o país actualmente padece não se conformam com respostas datadas. Contudo, convém sublinhar o seguinte: não há, para glosar o comentadeiro Sócrates, narrativas políticas eternas. A democracia serve às massas enquanto houver pão. Se não houver, ou se deixar de haver, o caldo entorna. A história assim o demonstra. Portanto, desenganem-se os profetas da tranquilidade se pensam que o demoliberalismo resistirá eternamente a estes choques austeristas. As sementes do mal andam por aí. Sempre andaram.