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Equívocos na Atlântida

por Nuno Castelo-Branco, em 19.01.15

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O presidente do governo regional açoriano quis jogar forte na audiência televisiva, sugerindo uma renegociação do acordo celebrado entre os Estados Unidos da América e Portugal -  é esta, a  ordem de apresentação do mesmo, há que dizê-lo -  quanto à Base das Lajes. Contabilizemos então os equívocos do potentado regional:

 

1. Portugal não cedeu as facilidades de bom grado. Salazar era um estadista sempre desconfiado das intenções americanas quanto à Europa. Desconfiava da própria essência da organização interna e  internacional que dava e dá pelo nome de EUA, assim como da sua génese e progressivo alargamento, talvez ainda tendo presente a Guerra de Cuba que aos espanhóis arrebatara a ilha caribenha, Porto Rico e as Filipinas. Desconfiava da forma como Washington via a posição da Europa no mundo. Desconfiava das intenções americanas quanto à soberania que potências europeias - Grã-Bretanha, França, Portugal e Países Baixos - exerciam na África, Ásia, Insulíndia e América. 

Durante o período crítico em que decorria a Batalha pelo Atlântico, os Estados Maiores americano e britânico pressionavam os decisores políticos no sentido de eliminar-se aquilo que designavam de buraco do Atlântico, ou seja, aquela parte que correspondia à situação que a neutralidade portuguesa criava no vital centro de passagem dos comboios de reabastecimento que da América do Norte - EUA e Canadá - saíam em direcção às Ilhas Britânicas e União Soviética. Winston Churchill detestava Salazar, nele vendo alguém que ao contrário daquilo que já era consuetudinário na política do Foreign Office, não se deixava facilmente tutelar, principalmente quando desde o rescaldo da I Guerra Mundial, o Reino Unido passara para um indisfarçável segundo plano. Esta era uma situação que contrariava aquilo que Oliveira Salazar considerava desejável, pois no seu íntimo, a Grã-Bretanha significava não apenas um mal menor, mas também a estabilidade no inevitavelmente citado equilíbrio do poder na Europa e sobretudo, a segurança do património imperial português. Isto não significava a aceitação incondicional daquilo que durante séculos fora uma tutela internacionalmente reconhecida. Na Declaração de Guerra de 1916, o governo imperial alemão escrevera isso mesmo, ou seja, Portugal era um vassalo da Inglaterra e agira em conformidade no caso do apresamento dos navios alemães surtos nos nossos portos.

A evolução da situação na Europa alterara-se profundamente após o crash de 1929. A Itália afastou-se do núcleo forte dos Aliados vencedores, enquanto a ascensão de Hitler significara um exponencial aumento do poderio alemão no centro do continente. A consequente anexação da Áustria, dos Sudetas, a subordinação da Boémia-Morávia e a retrocessão de Memel, significaram uma clara alteração do mapa e o progressivo resvalar de toda a Europa central e de uma boa parte dos Balcãs para a órbita de Berlim. A isto, poderemos ainda acrescentar a vitória de Franco na guerra civil espanhola. 

Estiveram previstas várias expedições que num golpe de mão se apoderassem dos arquipélagos portugueses dos Açores, Madeira e Cabo Vede, consolidando não apenas a presença anglo-saxónica no Atlântico Norte que garantia as comunicações com a Grã-Bretanha e a URSS, como a segurança de Gibraltar, Malta e toda a zona envolvente do Canal de Suez. Salazar resistiu até ao limite, talvez sendo informado do avolumar das pressões que a partir de 7 de Dezembro de 1941, também tiveram a decisiva contribuição da administração de Roosevelt. Aí estava o perigo maior que se avizinhava, aliás agravado com os ainda recentes acontecimentos em Timor, onde a uma ocupação australiana, rapidamente se sucedera a japonesa. Todos conhecemos qual o argumento de troca que Lisboa apresentou para a voluntária concessão da base: a devolução de Timor após a derrota do Japão. 

As condições foram aceites - no início pareceram limitar-se à presença britânica, logo alargada à americana - e o pós-guerra não alteraria a situação. Por vários motivos bem conhecidos, ao regime interessou a rápida inclusão portuguesa na esfera de defesa liderada pelos americanos e assim foi Portugal convidado a ser um dos países fundadores da OTAN.  A Base das Lajes passou então a teoricamente obedecer a um esquema defensivo mais vasto, quiçá solidário para com todos os restantes países componentes da Aliança. Este é o pressuposto da letra do tratado, quando de facto, as profundas alterações verificadas no Médio Oriente, criaram outras situações que totalmente escapariam ao controlo por parte do governo português, mesmo que este alguma vez fosse contactado para a tomada de qualquer decisão vital para o posicionamento nacional na própria ONU. Ao longo de trinta anos, a Base das Lajes valiosamente contribuiu para segurança e sobrevivência de Israel. Não será necessário contabilizarmos a intensa e decisiva ponte aérea durante a Guerra do Yom Kippur, para chegarmos a esta conclusão que não escapava aos decisores do Pentágono e aos seus adversários do Kremlin. Se Portugal obteve algumas vantagens pela carta branca forçosamente concedida aos EUA, essa é uma outra discussão possível, na qual também poderão desfiar-se os infortúnios ditados por boicotes, proibição da utilização de armas "da OTAN" - pertencentes na realidade a Portugal - nas frentes africanas, a quebra da solidariedade no próprio Atlântico Norte - guerra na Guiné e inclusão de Cabo Verde nas pretensões do PAIGCV, por exemplo -, além do inegável financiamento dos inimigos de Portugal, etc. Nada disto é contestável, corresponde a uma realidade apenas confirmada após os acontecimentos de Abril de 1974, quando sabemos que a invasão indonésia de Timor, apenas foi possível com o pleno acordo de Kissinger e G. Ford. Esta é a realpolitik a reconhecer, gostemos ou não gostemos do termo. 

Concluindo este primeiro ponto, o governo regional açoriano deveria avaliar concretamente qual o verdadeiro poder soberano exercido por Lisboa sobre o arquipélago e em reflexo, quais as reais possibilidades de decisão do executivo de Ponta Delgada. 

 

2. O presidente do governo regional aponta a necessidade de revisão do Acordo das Lajes. Mas em que termos? Questões do reequipamento das Forças Armadas, quando os tanques, blindados sobre rodas, navios da Armada e artilharia são provenientes de outros parceiros europeus? Em princípio, estamos todos de acordo, pois as profundas alterações na situação internacional verificadas com o fim da URSS, legitimam a pretensão. Outros exemplos também poderiam servir de argumento, como os autênticos caudais de gigantescos auxílios prestados pelos EUA às Filipinas - muita dessa ajuda volatilizada pela corrupção e indevida apropriação da mesma por conhecidas oligarquias -, compensando a utilização de Subic Bay, algo que jamais teve uma correspondência, por muito ténue que fosse, quando comparamos aquela realidade com as Lajes. 

O problema volta a ser, aquele acima apontado, incontornável, e que se prende com o estatuto do nosso exercício da soberania.

 

Portugal exerce uma soberania limitada, há que reconhecê-lo e mesmo que neste caso contasse com a unânime solidariedade europeia, tal coisa não modificaria a específica situação dos Açores. Assim sendo, os americanos poderão até chegar ao ponto de deixarem nas Lajes um único representante que se limite ao quotidiano hastear e arrear da sua bandeira, sem que isso signifique uma substancial alteração do estatuto das ilhas, ou melhor,  da Base. 

3. A concessão das facilidades a outras potências.

Esta é uma ilusão oratória que apenas satisfaz aqueles que no confronto político à cata da popularidade fácil, não atendem à realidade tal como ela se apresenta. O valor das Lajes consiste única, exclusivamente, na sua capacidade de assistir militarmente quem desta base se sirva. O presidente regional acena com a hipótese chinesa, como se tal argumento fosse plausível para quem, no Pentágono, avalia constantemente as possibilidades de defesa e o poder exercido sobre aliados que sem dúvida, são muito secundários quanto à tomada de decisões, mesmo que esses aliados sejam potências como o Reino Unido, a França, a Alemanha ou a Espanha.

Uma estação comercial chinesa nos Açores? Como e porque razão tal se alvitra, sabendo-se do que representará para o comércio marítimo o alargamento do Canal do Panamá e a abertura de outra via similar nas suas imediações? Até Sines será um argumento mais credível para os ansiosos do mundo dos negócios. Que artifícios noticiosos encontrarão para o contentar da opinião pública? Uma estação meteorológica? É risível tal sugestão, pois sabemos que os EUA jamais permitirão uma utilização das Lajes por terceiras potências, mesmo aquelas que pertencendo à UE, nem por isso deixam de ser as acima apontadas parceiras muito secundárias no esquema mais vasto da defesa dos interesses americanos. A Europa é meramente instrumental, a evolução nos últimos vinte anos assim o confirma. 

Embora fiquemos muito contrariados nos pátrios brios, é duvidoso vislumbrar-se outra situação nos Açores, senão o progressivo definhar daquela outrora essencial base. A verdade é que não temos qualquer força para podemos conceder facilidades a outros, pois aqueles que dela se serviram, jamais tal coisa adimitirão. Mesmo se fosse possível confirmar-se o valor de um entreposto comercial da zona, um acordo luso-chinês seria imediatamente vetado. Pior ainda, o potencial económico de toda a zona marítima envolvente, poderá significar um ainda maior controlo da nossa soberania que é, tal como acima se disse, bastante limitada.

Mesmo que por milagre conheça a sempre informalmente invocável Doutrina de Monroe no seu sentido mais lato, o presidente do governo regional açoriano sempre poderá dizer o que bem entender. Quanto ao fazer ou não fazer, essa já é outra história, decerto detestável, humilhante. Mesmo que o pretendessem, nem ele, Sr. vasco Cordeiro, nem Cavaco Silva, Soares, Sampaio, Durão Barroso, Passos Coelho, trezentos Guterres ou qualquer outro, poderão acalentar quaisquer veleidades quanto a este assunto.  É este, o beco em que o nosso país há muito se encontra. 

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Adenda: às 16.55h, saíu de Belém o Sr. Vasco Cordeiro, não sem antes ter falado à imprensa. Ou ainda não entendeu bem quais os limites dos poderes de decisão daquilo a que chama República Portuguesa, ou todas as suas palavras têm como destinatário o mediático fast-food do consumo interno. Estupefacto pela "forma como Portugal tem sido tratado neste caso", talvez pudesse consolar-se recorrendo à memória da história. A não ser assim, tudo o que possa dizer não passará de inconsequente  wishful thinking

publicado às 08:16

Monroe sem Marilyn

por Nuno Castelo-Branco, em 17.03.14

 

Da esq.para a dir.: Portugal, a França, Espanha, a Alemanha e a Inglaterra advertidos pelo Tio Sam, o protector dos países latino-americanos

 

Desde o Outono de 1939 e até à declaração de guerra enviada por Berlim em Dezembro de 1941, a US Navy dedicou-se a escoltar os comboios de reabastecimento da Grã-Bretanha. Partindo do Canadá, estes eram ameaçados por unidades submarinas e de superfície da Kiegsmarine. A USN  significou um enorme alívio para as necessidades de defesa do Reino Unido, mitigando as perdas de tonelagem mercante e permitindo a sobrevivência do seu esforço de guerra na Europa e no norte de África. Era esta uma forma de interpretar extensivamente a Doutrina de Monroe, alargando o espaço da sua acção até às imediações da Irlanda. Os almirantes alemães impacientavam-se, mas Hitler interditou qualquer tipo de confronto com a marinha americana. Sabia que este era o pretexto bélico que faltava a Roosevelt.

 

Nos finais do século XIX, os EUA atacaram a Espanha, arrebatando-lhe Cuba, Porto Rico, Guam e as Filipinas. Tornaram-se numa potência colonial e tal situação prolongar-se-ia até aos nossos dias. Pouco depois, correram rumores acerca  de uma possível ocupação dos Açores, pela imprensa americana considerados como parte da hemisfério ocidental e "dentro dos limites" impostos pela Doutrina de Monroe. A Visita Régia aos Açores e à Madeira terá tido algo a ver com estes ímpetos expansionistas dos EUA, sendo os portugueses ostensivamente apoiados pelos britânicos e sucedendo-se as visitas de esquadras da Royal Navy aos portos nacionais.

 

Curiosamente, já declarada a guerra após Pearl Harbour, a administração Roosevelt  ansiosamente procurou ocupar os arquipélagos portugueses - Açores, Cabo Verde e Madeira -, sendo a agressão refreada pelo acordo geral estabelecido sob auspícios do Reino Unido. 

 

Todos conhecem o caso dos Mísseis de Cuba e a longa série de intervenções militares na América latina. Era a salvaguarda dos interesses dos EUA que estava em causa e disso mesmo os próprios soviéticos deram conta, agindo em conformidade. A uma grande potência, é sempre tacitamente reconhecida uma zona de segurança.

 

O que se tem passado no leste e sudeste europeu, pode ser considerado como um paralelismo russo à aplicação da Doutrina de Monroe, mas num âmbito geopolítico muito mais reduzido. Se em Washington não conseguem entender este facto ditado por uma história anterior à própria existência dos EUA, então haja alguém que de Londres envie um oportuno esclarecimento. Sem este tipo de contemporização pelos mais próximos interesses do imaginado adversário, pode acontecer que alguém em Berlim se lembre do reactivar das teses de Haushofer, desta vez com a plena colaboração russa. 

 

 

 

 

publicado às 18:31

Aliens nos Açores!

por Nuno Castelo-Branco, em 28.08.13

 

Portugal já tem mais um tema para reforçar aquele dos OVNI que o Canal de História tem apresentado. Desta vez nem sequer precisaremos de oficiais da nossa Força Aérea para o comprovar dos fantásticos encontros imediatos de graduação variável, pois estes vestígios não se movem, estão bem visíveis nos Açores.

 

Apresentem as tais mini faraónicas pirâmides aos malucos do hoje mais que nunca Canal de Estória e logo assistiremos a um desembarque de uma carrada de lunáticos à cata de deuses-alienígenas. Um bom golpe para a promoção do turismo no arquipélago. Isto, se tivermos sorte e a coisa ficar por aqui. Como a procura de um perdido faraó egípcio já não interessa nem ao Menino Jesus, em caso de azar talvez apareça um team comandado por um barbaças de bermudas khaki e camisa de pescador aos quadrados. Este docente da University of Chatanooga-Choo-Choo, garantirá serem as construções da autoria de uma tribo ameríndia, cujos últimos descendentes vivem no Idaho. Aí teremos "circunstance" para uma futura reivindicação territorial, a juntar-se ao argumento das hostes de açorianos residentes nos Estados Unidos. 

publicado às 09:26

Chinoiseries académicas

por Nuno Castelo-Branco, em 29.11.12

 

Gosto de chinoiseries europeias e daquelas outras originais e que luxuosamente nos apresentam porcelanas, pedras-sabão, forros, cerâmicas, jades rendilhados, caixas lacadas, ou algum daquele mobiliário vermelho e dourado, do mais discreto. Também desde sempre soube apreciar um luso-tique imperial que agora a quase todos passa despercebido nas ruas da reconstrução da Baixa de Lisboa, esquecidos os portugueses do olhar para aqueles tectos de esquinas em bico, talvez inspirados na nossa antiga presença em Macau. Mas este é um exclusivo pelouro das nossas incompetentes Câmaras Municipais olissiponenses, esses verdejantes pastos de saloísmo militante.

 

Falando de política, o caso é outro.

 

Parece estar a surgir um lobby pró-chinês em Portugal e vai obedecendo ao percurso das etapas que normalmente se verificam antes da expansão ao sector político. Surgem alguns comentadores nos telejornais - lembram-se do lobby pró-árabe do Dr. Ângelo Correia? - e depois, dando alguma seriedade académica aos assuntos, teremos uns tantos professores defendendo o impossível.

 

A notícia da redução da presença americana nas Lajes despoletou um sem número de opiniões, algumas delas roçando a fábula da raposa e das uvas. Numa entrevista ao Expresso, José Filipe Pinto coloca a questão da Base das Lajes no plano de contrapartidas a receber por um Portugal que tem sido demasiadamente modesto nas suas reivindicações. Há muito desaparecida a chantagem que Washington sobre nós exercia durante o Império, deveu-se à falta de ambição, comodismo, desinteresse ou simples inépcia das autoridades de Lisboa, o não encetar de conversações para um novo e proveitoso acordo entre o nosso país e os EUA. Pior ainda, o fim da URSS e do Pacto de Varsóvia serviu perfeitamente os desígnios americanos, apresentando estes algum aparente desinteresse pela base. Todos sabem que a realidade é outra e a sugestão deixada, é tão credível ou equivalente a uma imaginada cedência britânica da Base de Gibraltar à marinha chinesa, ou, cumprindo aquilo que os Aliados de 1914 prometeram ao Czar, entregar-se Constantinopla aos russos. Enfim, um académico "jornal do incrível".

 

O professor da omnipresente Lusófona declara agora o interesse chinês na expansão para ocidente, como se isso fosse pela ainda potência global considerado como um acto sem consequências de maior. Pois estará totalmente enganado, se por um momento julgar possível o hastear dos pendões maoístas em qualquer das ilhas do Atlântico Norte. Poderá aventar-se a hipótese de os chineses connosco estabelecerem acordos de exploração dos imaginados recursos que a chamada Zona Exclusiva possa propiciar, mas daí à presença de militares no arquipélago, vai uma incomensurável distância. Os americanos logicamente poderão aplicar a há muito esquecida Doutrina de Monroe e ainda tirarem o pleno proveito da numerosa comunidade açoriana radicada nos EUA. Em suma, corremos o real perigo de perdermos as ilhas num curto espaço de tempo. Teríamos então uma reedição do "efeito Barros Gomes" que nos seus perigosos jogos de sedução do Kaiser, nos propiciou o malfadado Ultimatum. Qualquer subalterno nas Necessidades disso tem a plena consciência. 

 

O estabelecimento de uma base militar chinesa nos Açores consiste num cenário Kriegspiel muito imaginativo e apenas conjecturável no caso de uma súbita catástrofe que reduzisse os Estados Unidos a uma potência menor e sem qualquer capacidade de resposta. Tal situação pressuporia igualmente a inexistência da NATO e a finlandização completa da Europa, no caso de uma bastante improvável aquiescência russa aos desígnios de Pequim. Estamos no plano das catástrofes e  das suposições que para alguns, não deixarão de ser um wishful thinking sem nexo. Não valerá a pena José Filipe Pinto evocar os interesses da lusofonia, se estes nos forem apresentados como simples instrumentos da China. 

 

Podemos aceitar que muitos desejam - da esquerda dos festivais até aos habituais salivados apetites por negócios - a ruptura da nossa relação privilegiada com os Estados Unidos e existem bons argumentos históricos para tal: as quase indecentes pressões lobbistas exercidas sobre o nosso país durante a década de trinta - visando a cedência de Angola para a instalação de um possível Estado judaico, sugestão que partiu de gente ligada a Roosevelt -; os ímpetos belicosos que após o deflagrar da IIGM pretenderam a ocupação violenta dos Açores e o despojar das nossas possessões na Ásia-Pacifico; o envolvimento da gente de Kennedy no assunto Goa; o descarado, vergonho patrocínio de movimentos terroristas em Angola e Moçambique; o ostensivo boicote e a série de proibições quanto ao uso de equipamento militar durante a Guerra de África; o escandaloso desleixo que permitiu ao partido soviético a descolonização exemplar; a tese Kissinger que em 1975 julgou possível um Portugal que "servisse de exemplo" ao resto da Europa; o Caso Timor e o envolvimento da administração Ford; a falta de assistência quanto às imperiosas necessidades de modernização das nossas Forças Armadas - desde o equipamento até à própria doutrina e reformulação do nosso conceito de Defesa Nacional -, etc, etc. A lista é longa, quase infame, mas a realpolitik exige-nos a moderação das pulsões, aspecto nada negligenciável nas relações entre Estados, principalmente quando um deles, Portugal, terá por estes dias atingido o ponto mais baixo da sua já longa história.

 

O governo apresentou ontem uma obra relativa ás nossas reivindicações atlânticas e parece ter chegado o momento das palavras darem o esperado lugar aos actos concretos. Há que ter obsessivamente presente o facto de os Açores serem a primeira linha de defesa americana no Atlântico e assim continuarão por muito tempo.

 

Os Açores encerram importantes potencialidades de âmbito económico e a sua privilegiada situação nas grandes rotas marítimas, decididamente confirmam o seu valor estratégico. É precisamente no capítulo da economia que as decisões deverão ser rapidamente tomadas, angariando-se investidores - europeus, americanos, chineses, japoneses, da CPLP, todos servirão -, dando os nossos governos carta branca e fundos à investigação e inevitavelmente num futuro não muito distante, à criação das infra-estruturas que as virtualidades económicas tornarem urgentes. 

 

Tudo o mais não passa de uma chinoiserie ao gosto que tão em voga esteve nos dourados salões palacianos setecentistas. 

publicado às 13:55

"Yankees go home ´cause the yellows are coming!"

por Pedro Quartin Graça, em 26.11.12

De repente as cores podem mudar. E a Base das Lajes pode tornar-se amarela. Isto depois de uma visita estival feita aos Açores, a 27 de Junho deste ano, pelo primeiro-ministro chinês Wen Jiabao, o qual aterrou na ilha Terceira e por lá andou durante quatro horas. De acordo com o jornal "Público", o dirigente chinês "tomou um café numa esplanada de Angra do Heroísmo, visitou o centro histórico e foi ao Monte Brasil para apreciar a vista sobre a cidade."

Mas este aparente passeio turístico de turístico teve pouco na realidade. De acordo com Gordon G. Chang, autor do livro The Coming Collapse of China, em artigo de opinião publicado na National Review Online, este autor alerta para a possibilidade de a razão para ter existido uma "paragem técnica" da comitiva de 100 chineses nos Açores ter sido na realidade outra, e bem menos inocente. A China estará interessada em ocupar a Base das Lajes caso os norte-americanos de lá saiam. "A Base das Lajes foi certamente a razão para que Wen fizesse um desvio de percurso para ganhar amigos na Terceira", assegurava, antes de referir que "nos últimos anos, Pequim definira Portugal como a sua porta de entrada na Europa".

Essa leitura ganha outra relevância depois do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, ter afirmado que "Portugal assumirá em breve a sua posição nacional sobre" a anunciada redução da presença militar dos Estados Unidos na Base das Lajes, nos Açores.’ Há quem não acredite nessa hipótese. Na realidade a coisa é, no mínimo, estranha. Mas também quem acreditava que a China fosse a principal investidora na EDP meses atrás? O que se vai seguir? Irão os americanos deitar "para o lixo" esta "sua base" de eleição de décadas? Aceitam-se apostas.

publicado às 18:32

A retirada

por Nuno Castelo-Branco, em 24.11.12

 

Uma péssima notícia para a Europa que conhecemos desde 1949. A redução da presença norte-americana nos Açores significa antes de tudo, uma profunda modificação na prioridade de interesses dos EUA, cada vez mais preocupados com o Pacífico. Será esta a altura exacta para a diplomacia portuguesa proceder à viragem que há muito devia ter sido preparada, decididamente consultando o Brasil e outros países da CPLP? Esta pode ser uma oportunidade nada negligenciável. 

publicado às 21:25

Algumas notas sobre o desenlace eleitoral açoriano

por João Pinto Bastos, em 16.10.12

1- As eleições regionais nos Açores demonstraram à saciedade o efeito contraproducente da austeridade no apoio eleitoral aos partidos que ocupam actualmente o poder. A verve matreira de Berta Cabral revelou-se absolutamente inútil na materialização política da ambição de poder do PSD regional. A diligência pueril que a candidata social-democrata empregou ao descolar a sua candidatura do PSD nacional obteve a severa punição do eleitorado açoriano, pouco propenso, aliás, à mudança.

 

2- A vitória socialista foi, em parte, fruto do protesto generalizado contra o logro austeritário implementado pelo Governo central. Houve, claramente, um efeito inercial a justificar a permanência dos socialistas no poder, contudo, a agenda de cortes e de extorsão fiscal implementada por Passos e companhia foi indubitavelmente o factor mais influente no triunfo de ontem.

 

3- A penalização eleitoral do CDS Açores resultou, outrossim, da política suicidária executada pelo Governo. É certo que Artur Lima tentou por todos os meios gizar uma plataforma programática - interessante e rejuvenescida - que permitisse a demarcação dos centristas da "práxis" política da coligação nacional, porém a resposta da cidadania acabou por ser desconforme aos anseios projectados pelo CDS regional. A factura da austeridade não poupou nenhum dos parceiros da coligação. 

 

4- A reeleição do deputado do PPM merece uma breve menção, até pelo significado que teve em virtude do decréscimo de influência da extrema-esquerda na cena política regional. O prestígio de Paulo Estêvão foi um elemento primordial na sua reeleição para a Assembleia Legislativa regional, assegurando, desse modo, a representação do ideário monarquista no arquipélago açoriano.

 

5- O extremismo bacoco da idiotia esquerdista foi redondamente castigado pelo povo açoriano, com a consequente diminuição da sua representação parlamentar no legislativo regional. A inconsistência baderneira do PCP e do BE não resistiu ao duro e ingente teste da realidade.

 

6- Por fim, uma pequena nota: será que Carlos César vai seguir o célebre ensinamento santanista? O ex-líder regional irá andar por aí?

publicado às 00:41

Sim, "que se lixem" as eleições

por Nuno Castelo-Branco, em 15.10.12

  

Pouco interessa quem esteja no poder, desde que os dirigentes sejam honestos e competentes. Assim sendo, a esperada vitória do PS nos Açores apenas consagra este princípio, para mais ajudado pelo natural voto de protesto contra o governo central. Importante será sempre governar o país segundo os imperativos nacionais, relegando os interesses partidários para um plano secundário. Embora o actual governo tenha cometido erros imperdoáveis - total desprezo pela comunicação devida aos portugueses, atabalhoamento na apresentação das medidas que surgem sempre erráticas, opções desastradas quanto à privatização de activos nacionais -, o Primeiro Ministro declarou como ponto de honra, o exercício de uma governação que ..."não atendesse aos calendários eleitorais". Esmagado, o país espera ansiosamente os resultados, embora este seja um processo longo e de flagelação da paciência mais franciscana. 

 

Verificamos vários pontos de interesse na análise das eleições regionais.

 

1. Venceu a censura a quem exerce o poder central e venceu a continuidade, confirmando o cesarismo bem instalado e reconhecidamente dependente das decisões e boa vontade de Lisboa. Homem extremamente jovem para os parâmetros estabelecidos pelas direcções políticas nacionais, ao eleito Presidente do executivo açoriano caberá uma tarefa ingrata e necessariamente prudente, sendo geral o desejo do maior sucesso. Fez um bom discurso, apaziguando ânimos e sendo magnânimo na hora da sua vitória. Quanto à sua rival, a boca aberta da Sra. Dª Berta foi punida pela sua ligação ao PSD governamental e também, há que dizê-lo, à vergonhosa deslealdade demonstrada para com o PSD nacional, chegando ao ponto de grosseiramente emitir declarações sem nexo e por si capazes de afastar qualquer eleitor atento. Um escandaloso contraste com as palavras de consolo que ontem Passos Coelho lhe dirigiu. Aberta à saída pela porta traseira, a Sra. Dª Berta bem mereceu a derrota.

 

2. Registaram-se alguns comentários jocosos a respeito da eleição de um deputado do PPM. Pois, a democracia directa e o pleno conhecimento dos eleitores acerca de quem estão a eleger, ditaram este resultado. De facto, Paulo Estêvão é localmente conhecido e o PSD decidiu não arriscar, abstendo-se de participar numa contenda já perdida. Esta será uma chamada de atenção para todos aqueles que julgam imprudente a adopção de um novo sistema eleitoral, seja ele misto ou uninominal. A verdade é que bem ao contrário daquilo que pensam as sedes dos pequenos partidos - CDS, PC e BE -, a contenda eleitoral poderia ser muito diferente se os candidatos fossem conhecidos, beneficiando da confiança das populações.

 

Um círculo eleitoral mais pequeno, um candidato e uma eleição. Resultado? O pequeno PPM conseguiu aquilo a que se propôs. É isto, a democracia. 

publicado às 16:16

Muito bem, Paulo Estêvão

por Nuno Castelo-Branco, em 14.10.12

 

A Bandeira Nacional, bordada por D. Maria II (Angra do Heroísmo, Açores)

Tal como os portuenses, os açorianos têm andado distraídos e ainda não terão reparado que a bandeira regional honra a verdadeira Bandeira Nacional. Hoje, a população do Corvo elegeu Paulo Estêvão e deu o 2º lugar ao Partido Popular Monárquico. Os freaks de Trotsky perderam um deputado - ficaram com um - e os zombies de Estaline mantiveram aquele que já tinham. 

publicado às 21:55

O ponto mais ocidental da Europa é português

por Pedro Quartin Graça, em 15.09.12

O Ilhéu de Monchique é um grande rochedo oceânico sito frente à costa oeste da Ilha das Flores, Açores. O ilhéu constitui o ponto mais ocidental da Europa. Na altura em que a navegação era feita com base nos corpos celestes, este ilhéu serviu de ponto de referência para acertar as rotas e verificar os instrumentos de navegação.

O ilhéu é um enorme rochedo de sólido basalto, constituindo os restos de um cone litoral desmantelado pela erosão marinha. Eleva-se a partir de uma plataforma sita a 40-50 m de profundidade, constituída por escoadas lávicas de morfologia irregular, o que confere aos fundos circundantes um microrrelevo acentuado.

São numerosas as cavidades submarinas nas encostas dos ilhéu. A região mais profunda da formação é recoberta por depósitos de blocos, calhaus rolados areias. Nas zonas próximas à linha de costa do ilhéu as escoadas lávicas apresentam grandes fracturas, originando paredes verticais. A baixa profundidade existem covas de gigante de grandes dimensões.

O ilhéu está no centro de uma região de grande diversidade biológica, com cerca de uma centena de espécies identificadas. A flora litoral é dominada pela espécie Dictyota dichotoma, uma alga castanha iridiscente. Na região intertidal, existem populações numerosas dos moluscos Patela ulyssiponensis aspera (Docoglossa|lapa-brava) eMegabalanus sp. (cracas). Nas águas circundantes, são abundantes os peixe-rei (Coris julis).

 

publicado às 16:42

Açores

por Nuno Castelo-Branco, em 05.06.12

O jornal do Murdochlusconi caseiro, publica hoje uns ditos do Sr. José Almeida, uma distinta personalidade de quem o mundo jamais ouviu falar. Perora sobre a "independência" dos Açores, querendo com isto fazer "cumprir Portugal".

Das duas, uma, ou ambas em simultâneo: ou os americanos querem finalmente executar o seu velho plano expansionista, ou já se perfilam candidatos à futura exploração das águas adjacentes ao arquipélago. 

 

Há pessoas capazes de tudo e o pior é haver quem lhes dê "tempo de antena".

publicado às 15:11

O martírio d'« O Vitorioso » *

por Cristina Ribeiro, em 30.09.11
 
 
 
" -  Pois o caminho para Almeirim é por aqui?
  -Vossa Majestade não vai para Almeirim, mas sim para os bons ares da espaçosa fortaleza da ilha Terceira "
                        ( Camilo Castelo Branco, « Luta de Gigantes » )
 
 
Acabara de chegar de um daqueles passeios que me levaram ao interior da ilha, e propunha-me agora retomar a leitura de um dos dois livros que levara na mala. Começava um capítulo novo, em que o autor descorria sobre o drama de D. Afonso VI, que, depois do golpe palaciano que colocara no trono seu irmão D. Pedro II, e " ao cabo de dois anos de reclusão no seu quarto "pedia " o transferissem para ares do campo "; que iria para Almeirim, o que alegrou o ainda Rei, mas logo veio a saber que o seu destino seria outro, a maior fortaleza do Atlântico, o então denominado Forte de S. Filipe, porque mandado construir por Filipe II de Espanha, hoje Forte de S. João Baptista, onde continuaria o lúgrube cativeiro.
Entre o local onde me encontrava e o Monte Brasil, esse maciço verde onde se ergue o forte, apenas um braço de mar. No dia seguinte iria ver de perto onde se desenrolara parte  da tragédia daquele que foi, até à sua morte em Sintra, o segundo Rei da Dinastia de Bragança.
 
 
 
                                       * O Vitorioso, pois foi durante o seu reinado que se travaram as mais decisivas batalhas da Restauração.
 
 

publicado às 16:45

Aparição de Jesus a Madalena

por Cristina Ribeiro, em 27.08.11

 

 

 Afresco na igreja de S. Sebastião, na ilha Terceira, edificada em 1455 pelos primeiros povoadores, e considerada "  uma das mais belas e valiosas obras de arte do arquipélago "

 

 " Sem memória individual, sem valores espirituais a vida não é nada- não passa de um presente mesquinho, um vegetar sem esperança no reino animal do esquecimento " João Bigotte Chorão

                                                              

                                                   

 


apresenta a igreja um estilo gótico tardio pouco comum na Ilha, com destaque para os frescos, únicos em todo o Arquipélago. Estes importantes frescos do século XVI representam Santos e Passos da Paixão de Cristo.

publicado às 20:43

Neto de D. Manuel I, porque filho do infante D.Luís e de  Violante Gomes, "a Pelicana", ( com quem terá casado em segredo ), foi D. António, Prior do Crato, pretendente ao trono durante a crise sucessória de 1580, e, do mesmo modo que D. João I em 1385, o preferido do povo, que o aclamou rei a 24 de Julho daquele mesmo ano; por pouco tempo porém, pois que «Sabendo o duque de Alba por espias e ruins portugueses [ os Migueis de Vasconcelos de então ], como grande parte da gente da cidade se recolhia a ela a dormir em suas casas, acometeu de súbito o arraial do Senhor D. António trabalhando de entrar pela ponte de Alcântara », tendo-se aí travado, a 25 de Agosto, uma batalha decisiva, da qual D. António saiu derrotado. Faltou, neste lance dramático, o ânimo patriota de um D. Nuno Álvares Pereira.

Mas o filho de D. Luís continuaria rei de uma parcela do território português, os Açores, cujo corregedor, Ciprião de Figueiredo, escreveria, em 1582, a Filipe II de Espanha «  Antes morrer livres que em paz sujeitos ». Só um ano depois, em 1583, os castelhanos alcançariam o intento de entrar na Ilha da Terceira, baluarte da resistência portuguesa ao domínio espanhol.

publicado às 16:41

Kissinger, os Açores e velhos projectos

por Nuno Castelo-Branco, em 22.11.10

D. Carlos e Dª Amélia nos Açores (Julho de 1901)

 

Parece existir uma certa surpresa pela notícia hoje divulgada pelo Público e que se refere a um projecto de ocupação dos Açores pelos EUA, durante o auge do PREC de 1975.

 

Esta possibilidade existe há perto de 120 anos e a primeira vez que dela se ouviu falar nas chancelarias europeias, foi nos finais do século XIX, quando após uma rápida guerra de surpresa contra a Espanha, os americanos arrebataram Porto Rico, Guam e as Filipinas, ao mesmo tempo que estabeleciam um protectorado em Cuba.  A Doutrina de Mahan, bem alicerçada naquela outra que serviu e ainda se faz valer no Hemisfério Ocidental, impôs a ascensão dos Estados Unidos à condição de grande potência naval. A aquisição de bases que servissem como perímetro de defesa, foi talvez a primeira consequência da vitória sobre os espanhóis, também impedindo aquilo que já se tornara num princípio básico do sucesso de qualquer esquadra em batalha: a logística e o controlo das rotas marítimas intercontinentais. De facto, a distância que separava as armadas europeias dos seus portos metropolitanos, consistia no problema que durante séculos obcecou todas as potências marítimas, tendo sido Portugal, a primeira delas a construir um rosário de pontos de apoio costeiros e insulares que pontilharam o Atlântico, Índico e Pacífico ocidental. A Inglaterra compreendeu o conceito e estendeu o seu domínio a Gibraltar, Malta, o Chipre, Suez, Freetown, Golfo da Guiné, Santa Helena, Ascensão, Cabo, Zanzinbar, o Hadramaut, Bahrein, Ceilão, Penang, Singapura e Hong-Kong.

 

Mahan compreendeu o aspecto vital que o comércio marítimo representava para a Europa e os estrategas de Washington desde cedo encararam os Açores como uma base absolutamente essencial à intercepção das rotas que uniam o velho continente às suas possessões no além-mar. Numa época em que a Royal Navy era a incontestável soberana de todos os oceanos, o princípio britânico de possuir uma esquadra "second to none", impunha a garantia da utilização de portos amigos, ou directamente controlados por Londres. Os primeiros-ministros ingleses tinham como ponto fundamental da sua agenda internacional, o princípio de Lisboa ter forçosamente de ser, uma base amiga da Grã-Bretanha. A partir daqui, a própria política externa da Monarquia Portuguesa pós-Ultimatum, sentiu-se com a confiança reforçada para o grande e oneroso projecto daquilo a que se designou de Campanhas de Pacificação em África, antes de tudo tendo como objecto, a garantia e alargamento das fronteiras das colónias que a Inglaterra tinha condescendido em deixar ao dependente aliado português. A vantagem do "Estado tampão" que para mais era aliado e importante parceiro comercial, foi um dos aspectos mais notáveis do espantoso sucesso da permanência portuguesa na África austral, hoje a parte de leão dos PALOP, detendo pontos estrategicamente tão relevantes como Lourenço Marques, a Beira, a desembocadura do Zambeze, a partilha da soberania do Rovuma e do Lago Niassa com a Alemanha, e os territórios que hoje fazendo parte de Angola, se encontram sobranceiros à foz do Rio Congo.

 

Nos finais do século XIX, correram rumores acerca de um possível confronto naval anglo-americano e os Açores estavam de imediato, na possível linha da frente do conflito, servindo como esteio essencial a ambas as armadas. Os ingleses jamais permitiriam contra Portugal, qualquer aventura bélica ao estilo canhoneiro de Theodore Roosevelt. Isso significaria o desencadear de acontecimentos de consequências desastrosas, desde a perda dos arquipélagos atlânticos - Açores, Madeira, Cabo Verde -, até a uma forçosa partilha das colónias da África austral, levando a Alemanha de Guilherme II até ao Zambeze e à absorção de uma boa parte de Angola, alargando o então Sudoeste Africano Alemão. A Visita Régia que D. Carlos I e a Rainha Dª Amélia efectuaram em Julho de 1901 aos Açores e à Madeira, inseriu-se nessa política de manifestação da soberania portuguesa, aliás acompanhada pela presença de unidades navais britânicas que prestaram as devidas honras às Majestades, aproveitando para enviar um forte sinal a espanhóis, alemães e americanos.

 

A I Guerra Mundial demonstraria a importância do arquipélago, no momento em que a arma submarina manifestava toda a sua potencialidade como factor de disrupção do comércio marítimo. A construção de uma base americana ficou decidida e bem serviu durante um breve período, pois o conflito terminou em 1918. Os anos imediatos transferiram a atenção dos EUA para o Pacífico, onde um Japão em ascensão imperial ameaçava os interesses coloniais e comerciais norte-americanos, desde a China às Filipinas e Pacífico central.

 

Em plena II Guerra Mundial e mesmo antes do ataque a Pearl Harbour - quase reeditando desta vez contra os EUA, os acontecimentos de Cavite e de Santiago de Cuba (1898) - , os Açores parece terem sido uma constante preocupação por parte dos ingleses e durante algum tempo, aventou-se a hipótese de a célebre surtida do Bismarck e do Prinz Eugen, ter sido gizada como um primeiro indício de uma ocupação preventiva do arquipélago. O chamado "buraco negro do Atlântico" acabaria por ser colmatado quando do acordo, via Londres, entre Portugal e os Estados Unidos da América. Evitou-se assim, aquilo que a belicosa e impaciente administração Roosevelt pensava seriamente realizar, quanto a uma simples e total ocupação sem declaração de guerra. Após 1945, os Açores consistiram numa das principais bases aeronavais americanas e até hoje assim se mantêm, tendo desempenhado um importantíssimo papel durante os conflitos israelo-árabes e no período da Guerra Fria, quando os russos finalmente criaram uma enorme esquadra de alto mar e estenderam a sua influência a Cuba e a numerosos países africanos.

 

Os EUA jamais pensaram poder perder os Açores e qualquer acto irreflectido por parte de Lisboa, ou a possibilidade do desaparecimento de Portugal como Estado independente, significarão a imediata secessão, ou a anexação da sentinela atlântica. Desta forma, os Açores são para todos os efeitos, um importante pilar da independência de Portugal, país marítimo por vocação ditada pela geografia e pela história. Toda a política de alianças, deverá sempre ter este evidente aspecto em boa conta, pois tal como na Londres de 1890, Washington jamais suportaria a hipótese de um dia, Lisboa e Ponta Delgada serem portos hostis. Tal não acontecerá, mesmo que qualquer aventureiro transitoriamente instalado em Belém ou S. Bento e imitando 1975, consulte miraculosos oráculos ou xamãs.

publicado às 23:24

Só podia ser isso...

por Cristina Ribeiro, em 23.05.10

 

     ( Lagoa de Santiago - freguesia das Sete Cidades- S. Miguel )

 

 

 

Quando cheguei ao continente, mais do que uma pessoa me disse: - quando falávamos contigo por telemóvel estavas com uma outra voz, de felicidade; agora...; o que aconteceu? Encolhia os ombros, mas para mim pensava que isso só podia acontecer porque, aliado ao facto de estar rodeada de tanta beleza, por uns tempos esqueci o mal que vai corroendo este país, sem apelo nem agravo.

 

publicado às 17:10

 

 

 

afinal por cá já muitas se mostram esplenderorosas, mas qual o quê? Vi, no máximo,doze hortênsias floridas, timidamente ainda.

Mas aquele pedaço de terra plantado no Atlântico continuava lindo, com muitas outras flores, e com aquele verde que é o sonho de qualquer nefelibata; aprendi apenas que se quiser vê-la totalmente desabrochada terei de ir mais tarde.

E como gosto tanto do que conheço já do  arquipélago, além de não conhecer ainda a maioria das ilhas, esse será um bom pretexto para voltar mais tarde.

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publicado às 17:36

O barco saíra bem cedo da baía da cidade da Horta.

por Cristina Ribeiro, em 05.12.09

 

Ia atravessar o canal que a separava da Iha do Pico. O amigo que acompanhava nesta primeira travessia marítima entre ilhas, médico residente no hospital daquela cidade, deslocava-se duas vezes por semana à ilha, onde os doentes já faziam fila àquela hora matutina.

Ia aproveitar esse tempo para explorar as tão afamadas vinhas do Pico; e a fama, constatei, tinha razão de ser, pelo que me era dado ver de beleza na paisagem. Era Maio e os muros baixos, escuros, feitos de pedra vulcânica, já estavam quase cobertos de folhas verdes.

Muito diferentes das videiras do  Minho, de onde partira havia poucos dias: de comum, só mesmo a cor das parras, pois que as que por cá deixara eram altas, chamadas de enforcado, por serem plantadas junto de árvores, onde se apoiam para crescer.

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publicado às 21:07

Como gosto de ler Vitorino Nemésio ( 2 )

por Cristina Ribeiro, em 08.12.08

« Recém chegado à Terceira, passo uns dias na Praia, para ver os parentes, e logo volto a Angra, onde me instalo uma semana, em casa de família também. Venho achar tudo intacto: a ilha perpetuamente redonda e cinzenta no horizonte ( verificação de bordo ); os montes, carnudos e cínzeos, embrulhadoa num eterno pano de névoa; e os campos, quietos, talhados aos quadradinhos nas achadas e nos vales.

Mas a maior constância (...) é a das pessoas, a dos hábitos, a das coisas e casas (...) - o corpo da ilha e a sua alma estão concordes comigo: Nada aqui se alterou »

                         ( Vitorino Nemésio in « Corsário das Ilhas » - Encontro de Angra - )

 

    E, do mesmo modo, como gostaria de ouvir este Homem,cujos dotes comunicativos, de uma cultura tranbordante, me foram asseverados por quem teve o privilégio de assistir aos seus « Se Bem Me Lembro »; isto se a nossa Televisão a tanto se dignasse- saudades de um futuro que só pode existir no nosso imaginário?

publicado às 23:58

Vinda ao Continente

por Cristina Ribeiro, em 07.11.08

dos meus anfitriões, aquando da estada naquelas ilhas longínquas no meio do Atlântico.

Fazem-me vacilar, quanto aos ainda inexistentes planos de férias, nos oito dias depois do Natal: "  o vento e a chuva faialenses já os conheces, já não serão surpresa; a  temperatura é sempre amena" .

E, dentro de mim, oiço uma voz: "tu gostaste daquilo,; aquela lareira na casinha azul e branca frente ao mar chama-te-   do que é que estás à espera?" Digo-lhe " não me apresses"...

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publicado às 19:43






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