por Cristina Ribeiro, em 29.10.13
A cada passo, e para tal basta ler As Farpas de Ramalho Ortigão ( e de Eça ) ou Os Gatos de Fialho de Almeida, constatamos o quanto estes acutilantes observadores da contemporaneidade que era a sua, mantêm, nos seus escritos uma impressionante actualidade, uma perspicácia que só assiste a quem conhece a natureza humana, mais propriamente a do seu povo.
E, como refere João Bigotte Chorão, eles estavam cientes da intemporalidade dos aleijões que alvejavam.
Assim, referindo-se a um inquérito que se fez sobre o português que gostaria de ver ressuscitado, diz-nos este escritor que " Ramalho Ortigão era o português que desejaria, de novo, entre nós - para com as suas farpas castigar os costumes. ( ... ) Para saber o que se passa hoje em Portugal, melhor, muito melhor, que ler jornais ( até do ponto de vista da higiene literária ) é reler As Farpas. Elas são, infelizmente para nós, de uma grande actualidade.
« Estou certo - escrevia, num rapto profético, Eça a Ramalho - que esses panfletos hão-de ter a mesma frescura viva no século XX » " E no XXI, poderia acrescentar. Sabia, pois, que, porque a memória é fraca, a mesma água suja volta a encharcar-nos.