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Do sentido da vida (5)

por Samuel de Paiva Pires, em 29.01.13


Albert Camus, A Peste:


«Ao meio-dia, hora gelada, o médico, que saíra do carro, olhava de longe Grand, quase colado a uma montra cheia de brinquedos grosseiramente esculpidos em madeira. Pelo rosto do velho funcionário, as lágrimas corriam sem interrupção. E essas lágrimas perturbaram Rieux, porque as compreendia e as sentia também no fundo da sua garganta. Também ele se lembrava daquele infeliz noivado, em frente de uma loja de Natal, e de Jeanne voltada para ele para lhe dizer que estava contente. Do fundo desses anos longínquos, no próprio coração desta loucura, era certo que a voz fresca de Jeanne voltava até Grand. Rieux sabia o que pensava neste minuto aquele velho, que chorava e julgava, como ele, que este mundo sem amor era como um mundo morto e que chega sempre uma hora em que nos cansamos das prisões, do trabalho e da coragem, para reclamar o rosto de um ente e o coração maravilhado da ternura.»


Leitura complementar (posts desta série): UmDoisTrês; Quatro.

publicado às 20:21

Do sentido da vida (4)

por Samuel de Paiva Pires, em 25.01.13

Em A Peste, Camus coloca a dada altura o intrigante Tarrou a confidenciar ao médico Rieux a tormenta que sofre desde que aos 17 anos percebeu que o pai era responsável por assassinar vários indivíduos, em virtude do exercício da profissão de juíz. Trata-se de um discurso brilhante e em certa altura até arrepiante, de uma alma à procura de paz num mundo onde o assassínio é banal e até alegadamente justificado. A extensão desta passagem não me permite colocá-la aqui, mas revelo apenas o final:

 

«Ao terminar, Tarrou balouçava a perna e batia levemente com o pé no terraço. Depois de um silêncio, o médico soergueu-se um pouco e perguntou-lhe se tinha alguma ideia acerca do caminho que era preciso seguir para se chegar à paz.
- Tenho. A simpatia.»

 

Leitura complementar (posts desta série): UmDois; Três.

publicado às 19:03

Religião, prazer, morte e razão

por Samuel de Paiva Pires, em 14.05.12

Tarrou, descrevendo Orão em A Peste, de Albert Camus:

 

«Todos se precipitam, pelo contrário, para qualquer coisa que conhecem mal ou que lhes parece mais urgente do que Deus. Ao princípio, quando julgavam que era uma doença como as outras, a religião estava no seu lugar. Mas, quando viram que o caso era sério, lembraram-se do prazer. Toda a angústia que se pinta durante o dia nos rostos dissolve-se então, no crepúsculo ardente e poeirento, numa espécie de excitação desvairada, numa liberdade desusada que inflama todo um povo. E também eu sou como eles. Mas quê! A morte nada é para os homens como eu. É um acontecimento que lhes dá razão.»

publicado às 18:15






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