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Fiquem tranquilos, porque não se trata de uma imagem "gaga" tirada de um filme XXX rodado em Bangkok.
Este descansado e inofensivo menino que conta vinte e cinco anos de idade, encontra-se desde ontem detido pela policia, acusado de ser o organizador e autor de uma série de atentados de cariz subversivo. Chama-se Surachai Thewarat e surge ligado ao ataque de granada que vitimou cinco soldados, entre estes, um coronel. É igualmente acusado de ter atacado com granadas a estação de metro de Sala Deng, assim como o 11 Regimento de Infantaria e o grande Hotel Dhusit Thani. O currículo fica ainda enriquecido com a morte de dois policias na zona do Parque Lumpini, no centro nevrálgico da acção "red".
Surachai admitiu a autoria de outros atentados, como aquele perpetrado contra a esquadra de policia de Lumpini e um posto de controlo onde um agente caiu varado pelas balas. As autoridades conseguiram estabelecer as suas ligações com outros grupos de activistas, recorrendo a números de telefone e a movimentos bancários, o tal Evereste de dinheiro dos pobres pés-descalços, que durante a crise correu a rodos.
Como nota curiosa, saliente-se ainda o facto deste benfeitor das massas populares se ter dedicado ao comercio de inofensivas armas, como metralhadoras AK-47 e lança-granadas M-79 que alegadamente lhe teriam sido fornecidas pelo falecido major-general Kattiya Sawasdipol, uma espécie de gesticulante Otelo de ocasião.
O pacífico movimento vermelho-thaksinista e as suas proezas decalcadas de outras localidades bem próximas das fronteiras do Reino. Tudo boa gente!
Por este andar e dado o prestimoso currículo que Surachai apresenta, os seus potenciais admiradores do BE - Fernando Rosas , foi o único político português que saiu à praça em defesa de Thaksin - ainda recorrerão a uma manif à porta da embaixada tailandesa em Lisboa.
"Das 80 vítimas mortais anunciadas no rescaldo da operação de limpeza das ruas de Banguecoque, 75% possuiam cadastro criminal e eram notórios facínoras repetidamente condenados pelos tribunais. Há de tudo: ladrões comuns, traficantes de drogas, violadores, traficantes de armas e 8 (ou seja, 10%) com crimes de sangue cometidos ao longo dos últimos anos. Até dois "monges" cadastrados, um deles detido por seis vezes havia. Boas vocações. Eu bem os vi no acampamento vermelho. Os "homens de negro" armados eram, afinal, vulgares bandidos contratados e usados como tropa de choque. Foram eles que usaram as armas, que lançaram as bombas, que agrediram um pouco por toda a cidade cidadãos indefesos. Foram eles que assaltaram e lançaram fogo aos bancos, aos centros comerciais, às lojas e cinemas. Com toda a propriedade semântica chamei-lhes "lumpen". Estava errado. Não era o lumpen: era a escória."
"A oportunidade foi explorada pelo líder do partido Força Budista, o general Chamlong Srimuang, hoje líder do PAD, que apelou a todos os democratas para que saíssem à rua e impedissem a consumação do "golpe dentro do golpe" militar. Centenas de milhares de manifestantes tomaram conta do centro de Banguecoque e em 17 de Maio de 1992, impotente para negociar uma solução política, o ditador Suchinda mandou abrir fogo indiscriminado sobre a massa em protesto. Morreram centenas de pessoas, a lei marcial foi imposta, mas os manifestantes não arredaram pé. Nesses dias arderam dezenas de edifícios públicos e o país esteve na iminência de uma guerra civil. Por fim, o Rei chamou o ditador e deu-lhe ordem de demissão em frente das câmaras da tv. O grande artífice da restauração democrática, Chamlong, fora governador da capital no início dos anos 80. No desempenho do cargo, fez frente aos grandes interesses imobiliários, protegeu os vendedores de rua, lançou sucessivas campanhas anti-corrupção, fez os primeiros bairros sociais de Banguecoque, bem como as primeiras e bem sucedidas campanhas de sensibilização ambiental. Ficou, deste então, na mira dos plutocratas."
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Foto cedida pelo Combustões
As notícias já são escassas e indiciam uma progressiva acalmia. Aparentemente, começou a dissolução daquilo que inicialmente, julgou-se ser um movimento bem organizado. O calor infernal, os caudais de dejectos, as infindáveis semanas de tensão e de espera por um desfecho improvável, conduziram ao insucesso anunciado. Minguando de número a cada dia que passava, entrincheiraram-se numa Linha Maginot de bambu, latas e pneus velhos. Rapidamente conseguiram a proeza de concitar a generalizada oposição da população do país e se excluirmos apenas um caso - bastante reciclável -, verificou-se uma catastrófica ausência de um único relações públicas. Bem pelo contrário, surgiram todo o tipo de excelsas truculências de outros tempos, num misto de Idi Amin com Jean Marie Le Pen locais. Catanas, tacos de baseball, óculos escuros, lenços "à mitra", soqueiras, cacetes ameaçando bordoada a torto e a direito, eis a imagem que fica. A um canto, um punhado de eternas vítimas manipuladas, ou melhor, despoticamente abusadas como um tropel de gado a caminho da cerca. Velhas, crianças de colo e pobres mulheres decerto crivadas de saudades dos seus lugares rurais, eis o escudo humano.
Pelo meio, surge intermitentemente um louco que parece ter saído de uma das piores aventuras do Rambo em versão Made in Hong Kong. Militar de carreira, este Seh Daeng deve ter obsessivamente visto e revisto o "Último Samurai" e agora, em plena capital do reino, quer reinterpretar o papel de Tom Cruise, mas numa versão bastante mais barriguda, iracunda e toldada pelos vapores da fama a qualquer preço. Giza uma estratégia de defesa que se baseia numa velha táctica de ouriço que nos finais do século XVIII fez prevalecer as forças de Rama I frente aos invasores birmaneses. Uma delirante coisa de outros tempos, de um mundo tão desaparecido como o xogunato. Pobres diabos, já merecem a comiseração.
Agora, parecem baratas tontas. Da esplanada fronteira ao imponente Dusit Thani, vão-se dispersando em múltiplos grupúsculos, pretendendo atrapalhar a fluidez do tráfego, o comércio e a vida quotidiana de quem quer ir trabalhar ou frequentar a escola. Saem de Rachaprasong e deslocam-se para aqui e para ali errando sem destino e até ao antigo aeroporto de Don Muang, aqui encontrando forte e inesperada oposição policial. Para cúmulo do azar, cai uma torrencial carga de água, como se o céu finalmente pretendesse limpar as ruas e os maus espíritos que têm vagueado em cada esquina da Cidade dos Anjos. Poderão ainda tentar um último esforço, uma Kursk urbana sem esperança, mas o esquema da "defesa elástica" é o reconhecimento do fracasso. Já não é tempo para Pis*, mas sim de acalmia, reconstrução e reformas.
O Rei falou e apelou à união do povo e ao cumprimento do dever por todos.
Nos próximos dias, o país leal sairá à rua, em direcção aos seus afazeres quotidianos que apenas os "profissionais da revolução alheia" ignorarão. Como sempre e durante uns meses, os teóricos das "grandes causas" perorarão incansavelmente entre si, numa eterna procura da causa do óbito. Resta-lhes o consolo do gin tonic e uma estância balnear não muito distante do palco da revolução falhada.
Pelo que parece, é mesmo o fim.
* Pis: fantasmas, espíritos
Fatigada da gritaria,ultrajada pelos rios de sangue, urina e fezes despejadas na via pública, assustada pela provocação que pretende alçar Thasin a "presidente do Estado Novo Tailandês" - uma satrapia do regime de Pequim -, a população de Bangkok começa a perder a paciência. Além de mimar os soldados do Exército Real com todo o tipo de vitualhas, flores e cânticos de incitamento, iniciou aquele inevitável processo de confronto verbal que já degenera em rixas com os pretensos "vermelhos". Aos gritos de Ok Pai! - vão-se embora! - e Mai Dee! Mai Dee! - é mau! é mau! -, durante umas semanas invectivaram os provocadores a soldo. Agora já estamos noutro patamar.
Entretanto, tal como aqui previmos, a liderança thaksinista usa a voz de Chavalit Yongchaiyudh tentando a manobra de diversão que consiste no envolvimento do soberano. A resposta do Partido Democrático é de perfeita compreensão por aquilo que se pretende: "I think Chavalit should reprimand those attacking the monarchy, instead of trying to involve the King in an inappropriate manner," disse Chuan Leekpai, antigo primeiro-ministro.
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No previsível final de um reinado mais longo que o da rainha Vitória, há quem pretenda tirar partido da transição
O que hoje se passa nas ruas de Bangkok, teria sido rapidamente resolvido à bastonada na Lisboa de Cavaco - o caso da Ponte e da manifestação dos policias - ou na Atenas de Papandreu. São os métodos da democracia. Ora, a Tailândia é uma democracia e o governo tem sido de uma estranha condescendência. Aguardemos pela evolução, mas manifestemos a perplexidade.
Os recentes acontecimentos na Tailândia e no Quirguistão parecem obedecer a um esquema passado a papel químico e que visa o assalto ao poder. Os argumentos são sempre os mesmos - nepotismo, garantias constitucionais, "liberdade", "democracia", etc -, mas o que se torna cada vez mais perceptível, é uma subterrânea luta entre grandes potências que se lançam agora ao assalto de posições na Ásia. Os alvos estão á vista e os processos - que verificámos há uns tempos no Nepal - seguem uma cartilha idêntica. O recrudescer do terrorismo nas provincias tailandesas do sul, a clara influência chinesa nas lutas da casta plutocrática expulsa de Bangkok - Thaksin -, a Junta birmanesa fortemente apoiada por Pequim, a assistência ao Irão nuclear, o laos e o camboja. O quadro parece compor-se.
Enrijece a luta pela hegemonia e controlo dos recursos: os mananciais de água, os hidrocarbonetos e as posições estratégicas na cordilheira dos Himalaias que abrem o caminho às vastidões da Ásia Central ex-russa e aos mares quentes do Andamão e do Golfo do Sião.
A Rússia, a China e os EUA uma vez mais em liça. A Europa parece querer participar nos bastidores, mas desengane-se, porque quase nada conta para o resultado final. Simplesmente, não existe.