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Não é preciso ser católico praticante para avistar o primitivismo do Bloco de Esquerda (BE). Não é este o modo de celebrar a eucaristia da adopção por casais do mesmo sexo. O mau gosto, a falta de respeito e pudor, e a baixeza de nível deste modo de propaganda inscreve-se no repertório de truques rudimentares. Em plena época de clivagens entre distintas religiões na cena geopolítica, o BE abre a caixa de Pandora da bandalheira. Hoje os católicos, amanhã os muçulmanos e na semana seguinte os judeus. Mas existe uma outra dimensão que confirma uma enorme falta de sensibilidade. A Esquerda, que se autoproclama defensora dos ostracizados económica e socialmente, esquece, que grande número dos "pobre coitado" deste país, atravessando momentos de grande privação, serve-se da fé enquanto bengala para superar os obstáculos da vida. A instituição religiosa (seja ela qual for) merece essa consciência colectiva. O Bloco de Esquerda, porventura inspirado pelos cânticos de Charlie Hebdo, confirma que criativos de comunicação política não existem naquela casa. Se era para causar estardalhaço a qualquer custo, poderiam ter consultado a paternidade bombista das irmãs Mortágua. Não se brinca com a fé dos homens - mesmo não tendo Igreja, como é o meu caso.

Daqui a uns valentes anos, perguntem às crianças adoptados por casais homossexuais se são felizes. Provavelmente irão responder que não, que a vida é injusta. Nessa altura terão 18 anos. E quase todos dizem isso aos 18 anos. Mas depois perguntem se ter dois pais ou duas mães foi prejudicial para o seu crescimento psicológico (e não sei o que isto quer dizer, mas muitos dizem, então também digo). A resposta será qualquer coisa como um olhar de parvo sem saber o que responder. Porquê? Porque foram adoptadas quando eram crianças. A partir daí ter duas mães ou dois pais é considerado NATURAL.
O natural é aquilo a que um está habituado. É normal que haja pessoas a considerar todo e qualquer assunto relativo a homossexuais uma coisa anti-natural. Se não têm contacto com assuntos destes, é normal que se sintam desconfortáveis. Mas daí até impedir alguém - por via política e legal - a um direito de todos, vai um grande caminho. Não há ataque à liberdade de adoptar de pessoas com orientação sexual diferente também o puderem fazer.
Já li algumas pessoas a defenderem as instituições que albergam as crianças sem pais. Poderão argumentar usando o meu argumento: é natural aquilo a que estamos habituados. No entanto, todos estamos acostumados à ideia de paternidade e maternidade. Vulgo mãe e pai. Todos sabemos o que é uma mãe e um pai. Aqueles que vivem numa instituição e não são adoptados por famílias (de que tipo for) sabem o que é um pai e uma mãe mas nunca sentirão o que é ter. Por outras palavras, é uma ideia universal: pai e mãe.
Impedir casais homossexuais de adoptar, argumentado com o direito das crianças a terem um crescimento ''normal'' é tão inválido como dizer que a normalidade existe. É natural ter uma família.
Não é natural viver numa instituição porque um grupo de pessoas se acha paternalista o suficiente para dizer que gays serão piores pais e mães que heteros.