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What's next?

por Nuno Castelo-Branco, em 27.02.11

Os próximos da lista

publicado às 01:00

Farah Pahlavi documentary

por Nuno Castelo-Branco, em 19.02.11

Ahmadinejad e o seu bando de rufiões, bem poderão estar de partida nos tempos mais próximos e suspeita-se que tal não acontecerá com jasmins, rosas ou lírios. Assim, talvez seja útil conhecermos outras realidades.

 

Infelizmente, não é possível aqui deixamos a versão inglesa deste documentário. O link foi desactivado, mas neste momento conturbado, convém o seu visionamento AQUI. Este excelente trabalho, apresenta-se dividido em 9 partes e está disponível no Youtube. Vejam com atenção o filme 4 e concluam acerca dos nossos aliados norte-americanos, Jimmy Carter, etc. Elucidativo.

publicado às 12:38

Um dos argumentos mais utilizados contra o regime do Xá do Irão, consistia na visibilidade social da imperatriz Farah Diba. Os mulás revolviam-se em biliosos ódios pela sua presença em local destacado, nas cerimónias oficiais. Detestavam a sua obra social junto dos idosos, das mulheres e da infância, precisamente porque isso liquidava o papel do clero xiita nas populações resignadas à submissão. Execravam a sua protecção às artes "imorais e ímpias" - ópera, teatro, ballet, pintura - e a decisiva influência que exercia quanto à liberalização legislativa na igualdade de género. Para cúmulo, o Xá Mohamed Reza Pahlavi coroou-a, tornando-a numa igual. O monarca foi longe demais e hoje o Irão é controlado por uma sanguinolenta máfia, cuja cabeça visível é o taxi-driver Ahmadinedjad.

 

Se atentarem bem às imagens que chegam da Praça Tahrir, não se vislumbra uma única mulher sem um trapo na cabeça ou não vestindo um balandrau do pescoço aos pés. Lá estão alguns simulacros de avançadotas  balzaquianas vociferantes, mas ordeiras servidoras dos homens que ali acampam. O mulherio toma conta das bebidas, comidas, limpezas, e pouco mais. Afinal, é esse o papel que a sociedade, muito distante daquela que existiu há milhares de anos no mesmo território, reserva à mulher. Apesar do regime instituído em 1952 - que remeteu as activas  Faridas e Fauzias par o limbo da história -, nada que se compare com aquilo que os pressurosos "Irmãos" lhes destina.

 

Um exemplo bem próximo, chega da Jordânia. Segundo mais um oportuno e bem-vindo copy-paste do Diário de Notícias, um importante grupo composto por 36 chefes tribais beduínos, exige que o rei Abdulá II cerceie as actividades da consorte real, a rainha Rania. A alegação é tirada a papel químico daquelas outras inventadas por Khomeiny, quando nos anos setenta enviava de Paris, venenosos discursos contra a imperatriz Farah Diba. Segundo o douto e esclarecido parecer dos homens do deserto, Rania procura "construir centros de poder pessoal" e claro está, os homens das tribos ameaçam com um fantasma de crise social, à imagem do que se passa no Egipto e na Tunísia. Este ranger de dentes não é novo, pois durante o reinado de Hussein I, os fundamentalistas diziam o mesmo acerca da rainha Noor, obsessiva capa de revista e presença incontornável nas obras sociais do Estado.

 

A actual rainha é palestiniana e como tal, tem sempre defendido os direitos dos refugiados residentes na Jordânia, hoje a maioria da população. Num típico acesso de tribalismo, os beduínos hachemitas enviaram uma petição ao monarca, declarando-se como os "verdadeiros jordanos". Tudo isto não passa de uma manobra de diversão, pois o ponto essencial consiste no papel que a rainha tem desempenhado nas acções pelos direitos das mulheres e na obra social, laica, exercida junto das populações. Tudo o mais é secundário, quando os rígidos princípios de organização social a que a religião dá forma, é colocado em causa. No caso jordano, os contestatários parecem ter alguma facilidade na difusão deste tipo de mensagem. Apesar do regime moderado e pacífico, o reino é um país pobre, sem recursos petrolíferos e bastante dependente dos seus vizinhos. Muito se tem conseguido na modernização do aparelho do Estado e nas cautelosas reformas sociais, mas este súbito impulso que de fora chega, poderá causar sérias perturbações. Uma vez mais, a Irmandade Muçulmana aparece em todo o seu flamante reaccionarismo e pelas "Europas", pode sempre contar com o previsível aplauso de uma certa "esquerda anti-americana". A questão é saber até que ponto as camadas urbanas do reino, estarão dispostas a tolerar um discurso retrógrado e coonducente a uma implacável ditadura?

 

Já alguém imaginou a rainha Rania de burca, ou envelopada de negro num balandrau?

 

* Por aqui, continua tudo na mesma. Para descontrair-mos, um texto piroso e lamechas, vulgar e sem algo de inesperado: "utopia" (que bem poderá acabar em killing fields), "terra da fraternidade" (está-se mesmo a ver...), "chá de borla" (e música pimba local), "desconhecidos que se abraçam" (por isso sai, sai da minha vida!), "êxtase tranquilo" (o que é isso?), "um imenso sorriso" (we are the world, we are the children) e por "Feicebuques", "Ai-fáives", "éme-ésse-énes", "páuer-póntes" fora. Só lá falta a "Grândola", entre uma dentadura postiça da Caixa, chaparros e um burro.

 

Não sendo a peça artística assinada, dir-se-ia que o Público enviou Corin Tellado ao Cairo.

publicado às 12:52

O Taxi driver, o Jugular, camas e camisinhas

por Nuno Castelo-Branco, em 21.11.10

O rancoroso taxi-driver de Teerão, acabou de proferir mais uma das suas originalidades. Desta vez, refere-se a "prioridades de cama". Um regalo para os seus lusos apoiantes, como os senhores do Bloco de Esquerda, o Jugular - encapotado mas muito complacente -, este "tipo de gente" e claro está, os sonâmbulos seguidores do Chefe Jerónimo.

 

Andam mesmo com azar. No momento em que o Papa anuncia a aceitação do preservativo - a "esquerda" souliers de satin já o contesta! -, o Sr. Ahmadinedjad propõe vias de facto antes do tempo.

publicado às 23:03

Irão: os crimes dos aiatolás

por Nuno Castelo-Branco, em 23.02.10

 The Los Angeles Times managed to interview the solicitor of Arash Rahmanipour. The young man was executed on 28th January 2010 along with fellow Monarchist Mohammad Reza Ali Zamani (37).

“Lawyer Nasrin Sotoudeh (46) is filled with rage over the treatment of her client, 20-year-old Arash Rahmanipour, who was not defended in court and then was quietly put to death.”
"The defendant met with his lawyer once for 15 minutes before he was sentenced to death and hanged.
"When the lawyer complained to authorities, they ignored her. When she tried to enter the courtroom where he was being tried, they threatened her with arrest. And when she spoke out publicly at what she described as a gross miscarriage of justice, they shut off her cellphone.

"Rahmanipour was arrested in April, weeks before the disputed June presidential election and the mass protests that erupted afterward. Nonetheless, he was tried during the mass court proceedings against opposition supporters last fall and sentenced to death on charges of being a mohareb, someone who takes up arms against God.
"After the sentence was read out in court,
 Rahmanipourpulled himself together, Sotoudeh said. He wrote a letter to his father, Davoud, describing himself as Arash the Archer, a character from Persian legend, who stretched the string of his bow to send an arrow to the farthest distance, sacrificing himself for his nation.
"Immediately after an appeals court upheld the conviction three months later, he was executed.
"At noon, 
Rahmanipour's father called Sotoudeh. To her surprise, he spoke hopefully about visiting his son that day. They had spoken Monday, and Rahmanipour had told him he'd be allowed to see his parents on Thursday.
"He had no idea that his son had been executed hours earlier."

 

No Radical Royalist

publicado às 21:31

Ajudar o Irão

por Nuno Castelo-Branco, em 15.02.10

 

 Enquanto vai usando dos subterfúgios próprios de regimes párias, a despótica teocracia de Teerão intimida a população, promovendo execuções em série. Como claro sinal de aviso à oposição interna e externa, o governo dos aiatolás ataca em múltiplas frentes, servindo o nuclear como pretexto para acusar o Ocidente de ingerência na política interna do país. A situação no Irão, deixou há muito de ser um problema local ou da região, pois  o desenvolvimento de sistemas de ataque de longo alcance, consiste numa série ameaça à Europa, aliada dos EUA.

 

Geralmente indiferentes a problemas que lhes parecem longínquos, os portugueses poderiam hoje empenhar-se mais na causa dos direitos daqueles que têm arriscado a vida para o regresso do Irão a um sistema mais consentâneo com a sua história milenar.

 

Aqui deixamos o apelo à colaboração de todos, assinando por Portugal a petição on-line e manifestando o nosso repúdio pela vaga de execuções aagendada.

 

Ajudar  aqueles que lutam, é defendermo-nos da prepotência. Colaborem!

 

http://www.servisis.co.uk/greenwave/greenmail_po.html

publicado às 15:14

Execução de monárquicos no Irão

por Nuno Castelo-Branco, em 08.02.10

 Shirin Ebadi: "Arash's crime was being a member of a monarchist group"


Shirin Ebadi, 62, was awarded the Nobel Peace Prize in 2003 for her long career as a human rights lawyer in Iran. She spoke to The Sunday Telegraph during a stay in London. She answered Angus McDowall's questions concerning the execution of Mohammad Reza Ali Zamani (37) and Arash Rahmanipour (19) on 28th January 2010 (as reported here).

The Sunday TelegraphDid the protesters who were sentenced to death in Iran receive fair trials?

Shirin EbadiThe recent executions in Iran were not justified and I'm totally against it.

 

Leia mais  A Q U I

publicado às 10:46

O Domínio dos Deuses

por Nuno Castelo-Branco, em 24.07.09

 

Após o simulacro eleitoral que consagrou a fraude Ahmadinejad, as manifestações contra o regime criaram as há muito esperadas clivagens internas dentro do mesmo. Se Moussavi não passava de um dos escolhidos pela liderança teocrática, a ultrapassagem desta pelos seus próprios acólitos fazia prever a escalada que agora se verifica. Surgiram as primeiras divergências entre Khamenei e o "presidente eleito" e o termo que a imprensa internacional veicula a respeito da exigência do aiatolá, é o ultimato. Simplesmente, torna-se inaceitável a indigitação de Esfandiar Mashaie para o cargo de primeiro vice-presidente de Ahmadinejad.

 

O Irão é um vasto país cuja dicotomia entre as populações urbanas e contestatárias e uma mole conservadora e rural, ainda não pode ser realistamente avaliada quanto ao verdadeiro peso relativo do sector que pedindo reformas, na verdade parece apresentar estas como uma primeira fase para a própria substituição do regime. Os mais educados, a gente da classe média e empresarial, pouco em comum têm com os habitantes das zonas rurais, profundamente influenciados por uma estrutura patriarcal perfeitamente dominada pelo clero.

 

Homem de palha dos mulás, Ahmadinejad provavelmente cederá às imposições de Khamenei, mas o simples facto da própria liderança ditatorial iniciar  uma fase de conflitos internos, consiste numa excelente notícia que só o decorrer dos próximos meses poderá ou não confirmar. No entanto, é importante o surgimento de um Tullius Detritus dentro da liderança de Teerão. Oxalá!

publicado às 23:56

Ahmadinejad, o novo "sarnento"

por Nuno Castelo-Branco, em 01.07.09

 

O sr. Ahmadinejad começa a experimentar as agruras daqueles que passam subitamente a ser olhados como presenças incómodas em qualquer acto público frequentado por "gente decente". Até a cimeira da União Africana, evento que congrega sempre uma multidão de ditadores torcionários, simples vigaristas e ladrões alçados a supremas magistraturas, encara o convite líbio a Ahmadinejad, como um incómodo. A África depende do interesse da União Europeia e de facto, a posição da generalidade dos europeus quanto ao absurdo, selvático e retrógrado regime há trinta anos implantado no Irão, é de absoluta desconfiança e hostilidade. No momento em que definitivamente se abriu o caminho para uma nova fase onde a queda dos aiatolás se torna numa possibilidade bastante credível, o convite de Kadhafy nada mais é, senão uma folclórica provocação ou a desesperada tentativa de encontrar aliados no velho sistema do primus inter pares. Além do mais,  os negócios com os europeus, pesam infinitamente mais que platónicas declarações de uma impossível solidariedade.

 

Enxotados pelos africanos, detestados pelos árabes e abertamente hostilizados por europeus e americanos, estamos cada vez mais próximos do dia em que os verdugos dos iranianos - Khamenei, Ahmadinejad, Khatami, Moussavi e outros -, não poderão colocar um pé fora das fronteiras do seu país e quem sabe?, da sua própria casa. É a justiça que tarda mas infalivelmente virá. A perspectiva de um "fim à romena" ergue-se no horizonte.

 

Entretanto, vislumbrar o futuro torna-se sempre num exercício gratificante e esta comunicação de Reza Pahlavi pode ser uma perspectiva de um outro Irão, bem mais consentâneo com a velha Pérsia a quem tanto devemos.

publicado às 11:08

É este o homem que faz falta

por Nuno Castelo-Branco, em 29.06.09
Quando comparamos os red-necks no poder em Teerão, com um homem informado e moderno como Reza Ciro, torna-se urgente a ajuda internacional à sua causa.

publicado às 12:52

Notícias persas

por Nuno Castelo-Branco, em 28.06.09

 

 Em plena I Guerra Mundial e para a imprensa directamente dependente dos grandes interesses económicos, dir-se-ia que a Rússia imperial não era aquele giganteso país cujos exércitos haviam salvo a França de uma fulminante derrota no Verão-Outono de 1914, repetindo a façanha em 1916, na Galícia, desta vez enfrentando o exército austro-húngaro.  Os comentadores políticos e a generalidade dos articulistas, impregnados do sentido do politicamente correcto daquela época, invectivavam violentamente o regime czarista, apresentando-o sob as mais sombrias cores, mesmo reconhecendo a vital necessidade de preservação da frente oriental que dados os efectivos e a imensidão da Rússia, garantiam uma previsível vitória final contra a Alemanha. 

 

Apenas alguns anos após a derrota de Tsushima, a Rússia surgia como um prodigioso polo de desenvolvimento, numa complementaridade de sectores apenas possível por uma imensa riqueza geológica, vastíssima superfície de boas terras aráveis e uma população em rápido crescimento e em acelerada fase de urbanização. Como exemplo, os ricos campos petrolíferos do Cáucaso prometiam igualar e até sobrepujar a extracção norte-americana, o que ameaçava directamente os conglomerados empresariais do sector, cerceando-lhes os lucros, concorrendo na distribuição e consequentemente, implicando um crescimento explosivo da indústria russa. No horizonte surgia a ameaça de um colossal concorrente comercial. Assim sendo, todo o estranho processo revolucionário que conduziu a dupla Lenine-Trostky ao poder, obedecerá a múltiplos factores: pela parte das Potências Centrais - oportunistamente acusadas após a guerra de terem sido as responsáveis pela introdução da "mala de bacilos" leninista na Rússia -, interessava a eliminação da frente leste que consumia uma enorme quantidade de efectivos militares, dada a extensão dos territórios onde os exércitos combatiam. O acesso às matérias primas, recursos agrícolas e o sempre presente jogo da geopolítica - onde imperava o princípio da prevalência futura do bloco Eurásia -, consistiram em factores não desdenháveis, dada a situação de estrangulamento imposto aos Centrais pelo bloqueio naval  aliado.  Os milhões de dólares vertidos nos cofres que financiaram a Revolução, a protecção a Trotsky nos EUA - muito assistido e rodeado de luxos cuja proveniência era ao tempo desconhecida - e finalmente, tudo o que decorreu após a 1ª revolução que conduziu Kerensky ao poder, indicia um claro interesse ocidental na subversão da ordem imperial. Caído o regime, a Rússia remeteu-se a um longo período de ruína económica, total dependência de fornecimento de máquinas e equipamentos industriais, colapso agrícola, maciça fuga de quadros técnicos e de gestão, turbulência política e purgas, selváticos morticínios e volatilização do país como agente de primeira grandeza na cena internacional. De facto, a subversão do regime de Nicolau II, a sua queda e o consequente atraso de décadas, cumpriram plenamente os objectivos ocidentais.

 

O Irão consiste num caso diferente, apesar de existirem algumas semelhanças num processo de alteração da ordem política, económica e social. Não possui nem de longe o peso da grande potência europeia cujas fronteiras ocidentais lhe permitem o exercício de esquemas de influência e de "direitos de reserva" na zona báltica, balcânica e do mar Negro. Embora seja com a China, o derradeiro sobrevivente dos impérios da Antiguidade - e isto significa muito para uma população orgulhosa do seu passado histórico -, o Irão apenas pode exercer uma certa hegemonia consentida naquela área do Médio Oriente, sem que tal signifique ombrear com as aparentemente declinantes potências europeias e muito menos, com a grande China, a imensa Rússia ou os EUA. O Xá caiu devido a uma multiplicidade de eventos e mais importante ainda, de factores a priori exteriores a qualquer acto político, económico e até de organização interna do seu regime. Deixou de interessar aos americanos, que neste caso parece terem querido imitar a teoria da Soberania Limitada de Brezhnev, aplicada pela URSS aos seus satélites do leste europeu. No auge da Guerra Fria e com uma interminável instabilidade nascida da independência e consolidação de Israel, parecia lógico e imprescindível, o apoio ocidental aos Pahlevi. O Xá surgia como a única garantia de um certo estilo de vida profundamente influenciado pelos euro-americanos do pós-guerra, segurança regional, poderosa intervenção no sentido de impedir o uso do petróleo como arma desorganizadora da economia de mercado, não sendo também possível negligenciar o factor militar que o quinto exército do mundo representava para a manutenção do status quo na zona. No entanto, os jornais e as televisões ocidentais saturavam os noticiários com denúncias de tortura, dispêndio de recursos com a defesa, "corrupção consumista de privilegiados", desrespeito pelas tradições de antanho, etc. Teciam-se as mais fantasiosas teorias acerca de um futuro mais ou menos distante, quando ameaçado de esgotamento dos lençóis petrolíferos, Reza Pahlevi decidisse apoderar-se dos campos situados nos países vizinhos, previsivelmente no Iraque, Kuwait e Arábia Saudita, fazendo ressurgir o extenso império persa dos tempos imediatamente anteriores a Alexandre.

 

O ocidente acolheu "exilados políticos", mimou a elite reaccionária religiosa com todas as garantias de sobrevivência e possibilidades de agir politicamente. De facto, a França consistiu num autêntico alfobre subversivo, a partir do qual Khomeiny fazia chegar as suas mensagens ao Irão, sem que as autoridades de Paris se preocupassem em impor as elementares regras de abstinência de qualquer actividade política contra um país com os quais mantinha normais relações diplomáticas e que podia ser mesmo considerado como um bom cliente e aliado.  Tal como Lenine foi transportado num combóio da Reichsbann em direcção a S. Petersburgo, o Ocidente fez embarcar o aiatolá a bordo de um avião da Air France, arruinando-se assim cinco décadas de modernização imposta pelo regime imperial. Conhecem-se os resultados desastrosos, sobretudo para a segurança internacional na zona do Médio Oriente. Daquele avião saiu o agente que conduziria à rápida radicalização e sonhos expansionistas de Saddam Hussein, assim como uma pungente vaga terrorista que a partir de então assolou o mundo, ameaçou a segurança colectiva e internamente, fez o país retroceder  muitas décadas naquilo que o progresso social pode significar. No entanto, a queda do Xá afastou por trinta anos, a consecução de um poder hegemónico que ameaçasse seriamente os grandes interesses do sector energético ocidental e toda uma indústria que dele depende. 

 

Esmagada a ameaça iraquiana, volatilizado o Estado no país vizinho e normalizada a situação interna de consolidação do regime teocrático, o Irão preparava-se para subir um patamar julgado improvável há apenas uma década. Teerão tem o perfeito conhecimento do poder dissuasor que a arma final, a bomba atómica, significa para a generalidade da opinião pública americana e europeia, para não dizermos mundial. Um ataque ao estilo "Tempestade do Deserto" e as suas variantes de 2003, tornam-se senão impossíveis, muito problemáticas em termos de consequências imediatas, dado o correspondente desconhecimento do paradeiro de uma parte do arsenal nuclear da antiga URSS, a fuga de segredos tecnológicos militares e a contratação de especialistas por parte de quem almeja a conseguir a chamada arma final. Existindo arsenais nucleares em Israel, na Índia  e no Paquistão, a proliferação poderá tornar-se incontrolável e especialmente catastrófica, devido à tentação em propiciar recursos nucleares a grupos terroristas internacionais, o uso da ameaça bélica para resolver conflitos fronteiriços ou o desencadear destes sob a protecção do guarda-chuva atómico.

 

O regime dos aiatolás promoveu afincadamente a latente situação de guerra no Líbano, patrocinou a criação de Jihads e Hezbollahs, além de claramente ser um dos intervenientes no conflito iraquiano, dada a importância da comunidade xiita neste país. Num momento em que a situação parecia destinada a um nítido aumento de importância da influência iraniana além fronteiras - impossibilitando qualquer solução para a longa crise israelo-palestiniana -, o regime de Khamenei e da sua excrescência civil, o sr. Ahmadinejad, encontra-se sob o crivo da chamada "opinião pública mundial" que há meses vem sido mobilizada de forma discreta mas persistente, no sentido de encarar benevolamente a outorga da condição de Estado pária a um ameaçador, retrógrado e belicoso Irão. O próprio poder instituído em Teerão, corresponde exactamente ao modelo que uma Europa há muito rejeitou, mercê de uma já secular campanha de laicização da sociedade que hoje, pode vislumbrar na antiga Pérsia, uma reedição de um anacrónico esquema organizacional da sociedade. Os ocidentais são por regra  anticlericais e a actual legislação iraniana, a assumida desigualdade de género, os discursos grosseiros, provocadores e radicais de um Ahmadinejad, fazem muito pela criação do tal bem conhecido "estado de espírito" que prepara a opinião pública para a urgente remoção de um tumor maligno na política mundial. De facto, nem Khatami, nem Khamenei, Ahmadinejad ou Moussavi, possuem uma ínfima parte da bonomia, nem do cosmopilitismo refinado e modernizante do Xá, o que facilita enormemente a missão desagregadora a que os media ocidentais se dedicarão com cada vez maior veemência. O Xá, era "um como nós", autoritário, sem dúvida, mas seguro e moderno.

 

O Supremo Líder, o aiatolá Khamenei, acusa as potências ocidentais - nomeadamente os EUA e o Reino Unido - de  promoverem uma campanha de desestabilização da situação interna iraniana. Sabe do que fala, até porque o seu poder deriva exactamente daqueles já longínquos dias de 1978-79, quando essas mesmas potências ocidentais ajudaram a promover a queda do Xá e indirectamente, o estabelecimento da república islâmica. Não só é possível que Khamenei esteja coberto de razão, como também é muito provável. Nesta conjuntura, o regime tal como o conhecemos, tem os dias contados. Agora, tudo se limita a uma simples questão de tempo.

publicado às 22:25

Resistir para ajudar.

por Nuno Castelo-Branco, em 24.06.09

  

 

Estas duas últimas semanas têm correspondido plenamente aos anseios seculares da chamada Ummah. De facto, o mundo muçulmano tem preenchido os cabeçalhos da imprensa escrita, enquanto beneficia igualmente da duvidosa honra de abertura de todos os telejornais.

 

Trata-se de uma notoriedade pelas piores razões. A informação global, ao invés de apresentar esta "civilização" com as pinceladas do já há muito fanado brilho do Califado de Córdova, mostra-nos o culminar de um processo já vetusto de uma época em que saídas da camisa de forças do colonialismo - ou mandato - ocidental,  as sociedades de matriz maometana procuraram afirmar uma improvável identidade comum, apenas possível pela crença religiosa. De Marrocos ao Bornéu, jamais existiu essa imaginada unidade que os proselitistas exaltam no fervor dos sentidos, diante das multidões receptivas a uma qualquer mensagem de esperança. Profundamente humilhadas por um longo processo histórico que as conduziu a uma estratificação social - logo político-económica - vexatória a que se resignaram, as gentes recentemente definidas em termos de nação pelas fronteiras de Estados gizados a régua e esquadro pelos nazarin, encontraram num  perdido passado de expansão militar, re-descoberta dos Clássicos e construção de impérios relativamente efémeros, um hipotético modelo orientador para um porvir que emanando directamente do Todo Poderoso, apenas significaria a recompensa pela cornucópia da glória, abundância e superioridade da sua identitária fé. Pouco importariam as realidades apresentadas por uma Turquia em secularização coerciva, uma Argélia satelitizada pela suserania da Santa Mãe do materialismo russo-soviético, ou ainda, a da antiga Pérsia que queria surgir diante da Europa como sua directa antepassada, sem a mediação incómoda  aferrada pelos cavaleiros vindos do deserto do sul e que de cimitarra a tinha subjugado. Pareciam ser aspectos menores diante daquilo que verdadeiramente era capaz de unificar de este para oeste, um novo mundo em formação. Impossível.

 

A realidade internacional saída da II Guerra Mundial e que mergulhando na Guerra Fria dividiu as principais - e até aí hegemónicas - potências  europeias em dois campos, definiu os blocos em liça pela supremacia. Sendo o bloco norte americano um natural prolongamento da Europa, os novos Estados do hemisfério sul continuaram fatalmente a servir como móbil nos jogos de poder, definindo desde a independência qual o dois dos Grandes - os EUA e a URSS - corresponderiam aos desígnios das elites formadas pelo colonialismo e que recentemente chegadas ao poder, esperavam ansiosamente  afirmar-se no palco internacional, por esta forma consolidando  a sua prevalência interna.

 

Embora os europeus e os "árabes" estejam separados por esse mar-de-ninguém que é o Mediterrâneo, desde sempre a História mostrou existir um "amigo e protector" dos muçulmanos. Francisco I de França abasteceu as galeras da Sublime Porta, contrariando a aventura do império mundial de Carlos V. Luís XIV aproveitou o avanço otomano contra Viena, atacando a rectaguarda dos Habsburgo em Espanha, nos Países Baixos, no Franco-Condado e nos mares. Napoleão imaginou uma aliança com o sultão, para poder submeter o bloco austríaco e condicionar os ímpetos do fogoso czar Alexandre. Guilherme II apresentou a Constantinopla a conveniência da assistência prussiana, assumindo-se como protector de um império cujos achaques de "homem doente da Europa" faziam adivinhar um fim próximo. Hitler recebeu o Grande Mufti  de Jerusalém - o único homem a quem permitiu o uso de um cafetã na sua presença - , sancionou o ingresso de combatentes pelo Islão nas SS e no Mein Kampf, afirmava a conveniência que o credo de Mafoma significaria para a organização da sua própria Jihad em direcção a um Lebensraum não apenas material, mas perfeitamente correspondente aos velhos mitos germânicos dos tempos  da vida nas florestas, em oposição à decadência de uma Roma invejada e porque inatingível, tornara-se desprezível e pouco animosa.

 

Uma lista dos chamados grandes homens do século árabe  - na conhecida e errónea vulgarização do termo pelos ocidentais - das independências, demonstra-nos a simples não existência de um único que sendo perfeitamente autónomo relativamente ao odiado Ocidente, pudesse imitar o tolerante e grande chefe que fora o Saladino dos tempos áureos de Bagdade. O líbio Idris, o saudita Ibn-Saud, os egípcios Faruk e Nasser, a plêiade de quase desconhecidos generais que sucessivamente se sentaram no trono do menino Faiçal II do Iraque, os novos Khan-presidentes do artificial Paquistão, os Ben Bella,  Bourgibas, Assads, Kaddafys e tantos, tantos outros que a história apenas reconhecerá em notas de rodapé, nenhum deles foi capaz de oferecer ao seu povo, um modelo definido de ordem, prosperidade e sobretudo, de reconhecimento geral pelo brilho de uma cultura já há muito assimilada pelos europeus. Arrancaram à terra as suas riquezas, desbaratando-as em novéis palácios de Mil e Uma Noites de pesadelos de tortura, guerras, extorsão e preconceitos anacrónicos. Entre todos os "grandes dirigentes muçulmanos", apenas dois perfazem integralmente o arquétipo do homem diligente, moderno e senhor das suas acções que fora de portas é um igual entre os maiores: Attaturk e Mohammad Reza Pahlavi - seguindo o programa modernizador do pai -, estes directos herdeiros de um outro mundo velho de muitos séculos e que compreenderam a necessidade de adequar a sociedade aos tempos da tecnologia, universalidade da Lei e liberdade nacional, bem diferente do complexo e muitas vezes equívoco conceito que a restringe à esfera pessoal do anónimo. 

 

Fracassaram nos seus propósitos, pois ansiosos em ir sempre mais além e de forma acelerada, não conseguiram ser totalmente compreendidos e acompanhados por sociedades resignadas e estruturadas de uma forma conceptual diametralmente oposta à do modelo que lhes ditava a moda, organizava os serviços essenciais a um Estado, criava o consumo e estabelecia os parâmetros de conduta. Se Attaturk ainda permanece hoje como uma referência ciosamente guardada pela vigilância que os militares exercem sobre as sucessivas interpretações do próprio khemalismo, o grande homem que foi o Xá Reza Pahlavi, acabou deposto pela conjugação de factores que não podia controlar. O auge do confronto EUA-URSS no ocaso da Guerra Fria; os choques petrolíferos nos quais procurou ser um elemento apaziguador - que lhe granjeou acirrados ódios internos e entre os "irmãos de fé" -; a oposição de um clero profundamente patriarcal e de uma mentalidade onde prevalecia o espírito da organização rural em contraposto à "prostituída" vida urbana e finalmente, as consequências  inevitáveis do seu desejo de independência e de igualdade entre os grandes, condenaram-no a um fracasso que criou uma inédita situação internacional que hoje parece finalmente evoluir de forma abrupta e inesperada.

 

Esta dualidade amor-ódio pelo Ocidente, pode ser afinal, um grande e poderoso móbil para mais uma e talvez derradeira aproximação do Ocidente, a um "mundo muçulmano" desconfiado, hesitante, mas talvez ainda possível de subtrair à total capitulação perante uma interpretação abusiva de um passado cada vez mais anacrónico. Usam e idolatram a tecnologia nazarin, organizam as suas cidades sob a métrica nazarin, organizam-se em termos legais numa mescla impossível do primado constitucional-legal nazarin, com os preceitos próprios para a salvaguarda identitária das já há muito desaparecidas tribos do deserto do século VI. Encandeados pela luz das nossas urbes são para a Europa atraídos como ferro para imã, mas a coacção moral e física de uns tantos, julga poder convencer a massa expectante, da prometida conquista que vingue a própria impotência.

 

A única fórmula possível de assistência naquela demanda pelo progresso, consiste na manutenção de uma posição firme, inabalável. Qualquer cedência ao capricho de assembleias de homens sábios, condena aquelas sociedades a um desastroso fracasso, do qual nós próprios seremos as preferenciais vítimas. Há que resistir.

 

 

 

 

publicado às 17:03






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